É o único jogo que interessa a Portugal para além dos próprios. Esta segunda-feira, o mesmo dia em que a Seleção Nacional defronta o Uruguai, a Coreia do Sul encontrava o Gana numa partida em que ambos estavam praticamente obrigados a vencer para se manterem nas contas do apuramento para os oitavos de final — independentemente daquilo que acontecesse entre portugueses e uruguaios.

Os sul-coreanos tinham empatado sem golos com o Uruguai, os ganeses tinham perdido com Portugal mas Paulo Bento garantia que a equipa não sentia qualquer “pressão” na hora de entrar em campo. “Não sinto pressão nenhuma. No primeiro jogo tivemos as nossas oportunidades e agora no segundo também vamos entrar com o objetivo de ganhar. Espero que os jogadores também não sintam pressão mas a maneira como eles lidam é diferente. O mais importante é jogarmos à Coreia do Sul. Temos de ter personalidade, mostrar as nossas capacidades e demonstrar que somos uma grande equipa. Todos os jogadores têm o mesmo objetivo e ganhar é a máxima prioridade”, explicou o treinador português na antecâmara da partida.

Neste contexto, Paulo Bento lançava Son, Woo-yeong e Kwon no apoio a Gue-sung e Otto Addo mexia no sistema tático em relação ao onze inicial que defrontou Portugal, lançando Jordan Ayew para a titularidade e passando a atuar com uma defesa a quatro ao invés de cinco apresentada na quinta-feira. Fatawu, jovem avançado do Sporting, voltava a começar no banco de suplentes.

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Numa primeira parte com poucas oportunidades e raras aproximações à baliza, a Coreia do Sul foi quase sempre superior e atuava por completo no meio-campo adversário, deixando o Gana atrás da posse de bola e sem possibilidade de lançar contra-ataques em busca da profundidade. Ainda assim, os sul-coreanos nunca conseguiram criar situações de perigo, desdobrando-se num ascendente sem qualquer consequência, e os ganeses acabaram por reequilibrar o encontro com o passar do tempo. E ainda dentro da meia-hora, numa das primeiras vezes em que entraram no último terço asiático, confirmaram a veia de eficácia que tinha ficado notória contra Portugal e abriram o marcador.

Jordan Ayew bateu um livre para a grande área, a bola sofreu vários desvios e foi parar a Salisu, que atirou para colocar o Gana em vantagem (24′). 10 minutos depois, os africanos aumentaram os números no marcador: Ayew voltou a cruzar para a área e Kudus apareceu a cabecear para se estrear a marcar neste Mundial (34′). Na ida para o intervalo, o Gana estava a vencer o Gana por dois golos de diferença e parecia lançado para carimbar os primeiros pontos no Qatar.

Paulo Bento mexeu logo ao intervalo e trocou Woo-Yeong por Na Sang-Ho. A Coreia do Sul reconquistou alguma superioridade, principalmente depois da entrada de Lee Kang-In já por volta da hora de jogo, e empatou com dois golos no espaço de três minutos: Kang-In apareceu na esquerda a cruzar para Gue-sung (58′) e, instantes depois, o lateral Jin-Su fez o mesmo movimento para servir o mesmo jogador, com o avançado a cabecear novamente para bisar e estabelecer a igualdade (61′).

A eficácia do Gana, porém, fez a diferença. Menos de 10 minutos depois de Gue-sung bisar, os africanos voltaram a marcar, chegando ao terceiro golo no terceiro remate enquadrado: Mensah desequilibrou na esquerda e cruzou rasteiro e atrasado, com Iñaki Williams a falhar o remate e Kudus a aparecer ao segundo poste para também bisar e colocar os ganeses novamente na frente do marcador (68′).

Até ao fim, contudo, já pouco aconteceu. Num dos melhores jogos do Campeonato do Mundo até agora, com cinco golos e sempre muito bem disputado, o Gana venceu a Coreia do Sul, colocou-se em boa posição na luta pelo apuramento e deixou a seleção de Paulo Bento — que foi expulso por protestos já após o apito final — dependente de terceiros na última jornada e com os oitavos de final já bastante distantes.

A pérola

  • O homem que terá dito que é tão bom ou melhor do que Neymar para logo o desmentir mostrou que, pelo menos, é mesmo um dos principais nomes do futuro do futebol africano. Mohammed Kudus estreou-se a marcar em Campeonatos do Mundo no segundo golo do Gana, com um cabeceamento fortíssimo que não deu hipótese a Seung-Gyu, e tornou-se o primeiro jogador na história do país a bisar em Mundiais com o pontapé certeiro que deu a vitória à equipa. O avançado de 22 anos do Ajax, que contra Portugal não conseguiu mostrar nem metade de um potencial notório, foi a grande arma do Gana contra a Coreia do Sul.

O joker

  • Diz o provérbio que dos fracos não reza a história mas, mesmo com a derrota da Coreia do Sul contra o Gana, é impossível não destacar a exibição de Cho Gue-sung. O avançado de 24 anos do Jeonbuk Hyundai Motors tornou-se também o primeiro sul-coreano a bisar em Campeonatos do Mundo e o facto de o ter feito com dois golos de cabeça faz ainda com que entre num lote restrito com apenas mais nove nomes — incluindo Zidane, Klose e Higuaín. No fim, de pouco ou nada valeu. Mas o cartão de apresentação a um salto para voos mais altos ficou bem entregue.

A sentença

  • Com um empate sem golos contra o Uruguai e uma derrota contra o Gana, a seleção orientada por Paulo Bento tem apenas um ponto conquistado ao fim de duas jornadas e a vida cada vez mais dificultada nas contas do apuramento para os oitavos de final. A Coreia do Sul entrou no Mundial do Qatar com melhores credenciais do que os ganeses, podendo até ombrear com Portugal e como Uruguai na corrida pela qualificação, mas revela-se cada vez mais uma equipa inconsequente e sem capacidade ofensiva para criar oportunidades de golo.

A mentira

  • Ao contrário do esperado, este Gana não é nem será pêra doce. Apesar de serem evidentes algumas fragilidades defensivas, a seleção de Otto Addo é brutalmente eficaz sempre que aparece no último terço adversário e precisa de poucas oportunidades para marcar golos. O poderio físico dos ganeses, associado à velocidade sempre que a transição rápida é lançada, deixa a seleção como um perigo à solta em termos ofensivos.