Os momentos de decisão dão aos músculos reflexos diferentes do que normalmente o corpo utiliza. Corre-se um pouco mais rápido, estica-se um pouco mais a perna, salta-se um pouco mais alto, porque confiar nas hipóteses é um dos caminhos para a morada do azar. O Equador-Senegal foi um dos primeiros jogos da última jornada da fase de grupos, de onde, no final, vão sair as seleções a integrar os oitavos de final da prova.
Ao Senegal, só interessava a vitória, caso contrário, o regresso a casa ficaria confirmado. O Equador, por sua vez, jogava com a hipótese de poder empatar e, mesmo assim, seguir em frente. Por norma, o efeito do peso da responsabilidade atinge mais quem tem que inverter um mal que não quer ver consumado e neste jogo não houve exceção. Os senegaleses eram homens a lutar para cumprirem uma missão e foram quem teve maior presença no meio-campo contrário ao longo da primeira parte. Ao intervalo, as contas eram favoráveis aos africanos por conta do golo de Ismaila Sarr (44′). O avançado do Watford converteu uma grande penalidade que ele próprio conquistou quando Hincapié não teve outra solução do que rasteirá-lo para evitar a sua progressão para a baliza.
O selecionador do Equador, Gustavo Alfaro, teve que fazer mudanças ao intervalo para poder ir em busca do apuramento. José Cinfuentes e Jeremy Sarmiento entraram para os lugares de Carlos Gruezo e Alan Franco. Era uma mensagem de que o rumo podia mudar. Assim foi. Num canto, Moisés Caicedo (67′) apareceu, solto e em posição válida, ao segundo poste e encostou facilmente. O alívio equatoriano foi fugaz. Num momento, estavam na fase seguinte, no outro, já não. Koulibaly, também de canto e ao segundo poste, voltou a dar liderança ao Senegal (70′).
O Equador continuou a ter mais bola, tal como aconteceu durante toda a segunda parte. Na parte final, Gustavo Alfaro apostou num sistema de três centrais para adiantar mais os laterais. Ainda assim, as tentativas foram infrutíferas. O tempo voou até à confirmação do 2-1.
A pérola
- Passada larga e agilidade fora do comum para o que se imagina que alguém com a sua compleição física possa fazer. Ismaila Sarr agitou o encontro a partir da esquerda e fez o lateral equatoriano, Angelo Preciado, ficar tonto de tantas voltas que lhe deu.
O joker
- A rápida resposta que Kalidou Koulibaly deu ao empate do Equador ajudou a que o Senegal não tremesse com o avançar do tempo de jogo. Foi o primeiro golo do central do Chelsea ao serviço da seleção do Senegal. Defensivamente, esteve sólido ao lado de Diallo.
A sentença
- O Senegal acompanha os Países Baixos para os oitavos de final, tendo terminado o grupo A em segundo lugar com seis pontos conquistados, menos um que os neerlandeses. O Equador termina em terceiro lugar com quatro pontos e fica pelo caminho. O Qatar, país anfitrião do Mundial, não conseguiu qualquer ponto. O grupo A é o primeiro a estar fechado. Os apurados deste grupo vão defrontar as seleções que se conseguirem apurar no grupo B, composto por Inglaterra, Irão, Estados Unidos e País de Gales.
A mentira
- Os números valem muito pouco no futebol e se há questões importantes por definir, o melhor é não confiar nas probabilidades. Mesmo jogando com um leque mais alargado de resultados possíveis para garantir a qualificação, o Equador tropeçou. Os sul-americanos vinham galvanizados com o empate diante dos Países Baixos e olharam para o Senegal como um mal menor. Acabou por correr mal.