A empresária angolana Isabel dos Santos, filha do antigo Presidente José Eduardo dos Santos, acusa diretamente o Presidente João Lourenço de estar a instrumentalizar a Justiça angolana para a perseguir politicamente.

Numa altura em que está emitido contra si um mandado de captura internacional da Interpol, Isabel dos Santos deu uma entrevista à CNN Portugal a partir de uma localização não revelada a pedido da entrevistada — “única condição” imposta pela entrevista, segundo esclareceu o diretor da CNN e autor da entrevista, Nuno Santos. Questionada sobre se sente a salvo no país onde foi concedida a entrevista, Isabel dos Santos foi clara: “Acredito que nos países onde a lei funciona eu estarei sempre a salvo. O único sítio onde não estarei a salvo é efetivamente em Angola“, disse.

Mandado de captura internacional. Isabel dos Santos pode ser detida a qualquer momento

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Ao longo de toda a entrevista, Isabel dos Santos repetiu a ideia de que é vítima de uma perseguição e de que não há bases jurídicas para ser investigada: “Não há dúvidas de que estamos perante um cenário de perseguição política“, afirmou taxativamente.

O Procurador-Geral da República, o general Pitta Groz, recebe ordens diretamente do Presidente João Lourenço. Qualquer ordem deste tipo é uma ordem direta do poder”, disse Isabel dos Santos, que se diz vítima de lawfare, ou seja, de uma guerra que utiliza os meios judiciais “para combater um opositor económico ou político”.

Para a filha de José Eduardo dos Santos, o surgimento do mandado de captura internacional neste momento tem uma explicação. “Isto está sem dúvida ligado à nacionalização da UNITEL”, afirma, justificando que essa seria uma forma de o Estado angolano evitar ter de lhe pagar uma indemnização por ter nacionalizado a empresa em outubro.

Isabel dos Santos assume ambições políticas. “Vou contribuir para o futuro político do meu país”

A filha de José Eduardo dos Santos enfatizou a ideia de que é uma opositora política de João Lourenço, dizendo que o atual Presidente “não quer pessoas com outras ideias”. Questionada sobre se tem ambições políticas no seu país, Isabel dos Santos abre a porta a uma candidatura: “Não tenho dúvida que de uma forma ou de outra vou contribuir para o futuro político do meu país”, afirma, elencando como desafios para Angola o aumento da natalidade e a segurança alimentar.

“Acredito que os partidos políticos no poder e na oposição não estão a olhar para estas questões. Não há visão, não há um plano”, decreta. “Eu ambiciono um país diferente.”

Isabel dos Santos também se mostrou convicta de que o regime liderado pelo MPLA acabará por cair. “A História diz-nos que todos os regimes que não entendem que é necessária a mudança fracassam”, diz, mostrando-se esperançosa nos jovens para “fazer a mudança”.