“Nunca se sabe o que alguém está a passar“. Foi desta forma que Will Smith procurou explicar (sem tentar justificar, como o próprio frisou), a agressão a Chris Rock na noite dos Óscares, que correu mundo e tornou a estrela de Hollywood em persona non grata da noite para o dia.
Na primeira grande entrevista televisiva desde a gala da Academia em março, Will Smith foi o convidado de Trevor Noah na edição de segunda-feira do conhecido programa de entretenimento noturno The Daily Show. O pretexto inicial prendia-se com a apresentação do seu novo filme: “Emancipation” (Emancipação, em português), cuja ação se desenrola no período imediatamente a seguir ao fim da escravatura nos Estados Unidos, e relata a história real de um escravo que foge rumo à liberdade.
A entrevista foi disponibilizada esta manhã, no canal oficial de YouTube do programa:
No entanto, não era isso que os espetadores estavam interessados em saber. De facto, Will Smith acabou por abordar o “elefante na sala”, que tomou grande parte dos cerca de 20 minutos da entrevista.
Estava a passar por um mau momento naquela noite. Não que isso justifique de todo o meu comportamento. Perguntas-me o que é que aprendi? Aprendi que temos de ser melhores uns para os outros. O que me custou mais foi que peguei nas minhas dificuldades e tornei-as difíceis para outros, e entendi a ideia que costumam dizer de ‘pessoas magoadas magoam pessoas'”, afirmou Smith.
O ator que, poucos minutos depois do incidente com Chris Rock, voltou a subir ao palco para aceitar o Óscar de Melhor Ator (no que ao início da noite constituía uma vitória praticamente anunciada) acabou por ser banido de ir à cerimónia dos Óscares durante 10 anos, tendo também abdicado do seu estatuto de membro da Academia de Hollywood.
O episódio ensombrou uma noite que, para todos os efeitos, deveria ter sido de festa. Quase um ano depois, Smith relembrou-a de forma diferente. “Foi uma noite horrível, como podem imaginar”. O ator lembrou a sua infância turbulenta — durante a qual presenciou as agressões do pai à mãe — para explicar que “[estava] fora de mim. Foi uma raiva que esteve contida durante muito tempo”.
Aceitando a responsabilidade pelo sucedido, Smith expressou ainda assim o desejo de que o seu pior momento não o definisse permanentemente aos olhos do público. Voltando as atenções para o seu novo filme e para os que nele trabalharam, afirmou que “a ideia de que podem ser privados dos louros por minha causa… isso mata-me por dentro. O que é importante é que, estas pessoas juntaram-se a mim e confiaram em mim, e espero que o trabalho deles seja honrado, e não seja manchado por uma decisão horrível minha.”
Esta não é a primeira vez que Will Smith aborda a agressão a Chris Rock — que, recorde-se, aconteceu após o comediante, que estava a atuar na cerimónia, dirigir uma piada à mulher de Smith, a também atriz Jada Pinkett-Smith, uma de várias endereçadas às celebridades presentes na plateia.
No passado mês de julho, o ator recorreu ao seu canal de YouTube, onde tem 23 milhões de seguidores, para abordar o assunto publicamente pela primeira vez, e para pedir desculpa a Chris Rock. “O meu comportamento foi inaceitável e estou aqui quando estiveres pronto para falar”, disse.
Mais recentemente, e também no contexto da promoção do seu novo filme, Smith falou à Fox News e disse “perceber perfeitamente” qualquer pessoa que não quisesse ver o seu mais recente trabalho no seguimento da agressão. “Respeitarei e vou dar todo o espaço para que, eventualmente, essa pessoa fique pronta [para voltar a ver filmes meus]”.
“Emancipation” é uma produção da Apple e tem data de estreia mundial (incluindo em Portugal) no próximo dia 9 de dezembro, ficando disponível para qualquer pessoa que subscreva o serviço Apple TV+. O filme está a ser apontado como um possível candidato aos próximos Óscares — não sendo ainda claro de que forma a presença de Will Smith poderá afetar as suas chances.