Enviado especial do Observador a Doha, no Qatar

De 32 ficaram 16. De 16 saltaram agora mais oito. Dessas oito, quatro andavam em conferências em véspera de jogo. Dessas quatro, duas trabalhavam à porta fechada. Entre os muitos jornalistas que ficaram por Doha para acompanhar o Mundial mesmo com as suas seleções de fora ou que trazem equipas mais vastas para poder andar a fazer várias coisas ao mesmo tempo, as opções para a parte da tarde não eram propriamente muitas caso não quisessem ficar no Media Centre entre as salas de conferência 1 e 2. Aliás, era uma questão de escolher entre Portugal e França. No entanto, a nova enchente que o Centro de Treinos do Al Shahaniya SC voltou a ter não se resumiu ao parco leque de opções existentes e tinha um protagonista inevitável do costume a centrar todas as atenções das perguntas, das objetivas e das câmaras: Cristiano Ronaldo.

A novela Ronaldo tem mais um capítulo com duas versões: Federação nega que jogador tenha ameaçado sair da concentração

Até ao treino, foram três os capítulos em torno do avançado: 1) uma notícia que dava conta de uma ameaça do jogador em deixar a concentração na sequência de uma discussão mais acalorada com Fernando Santos após saber que ficaria no banco no encontro frente à Suíça, apaziguada por uma reflexão do próprio que veio acalmar os ânimos; 2) um desmentido formal através de comunicado por parte da Federação, defendendo que o número 7 e capitão “constrói a cada dia um historial ímpar ao serviço da equipa nacional e do País que tem de ser respeitado e que atesta o inquestionável grau de compromisso com a Seleção”; 3) uma primeira reação do jogador nas redes sociais sem nomear de forma direta a notícia mas a deixar uma frase que contraria essa linha: “Um grupo demasiado unido para ser quebrado por forças externas”.

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Poucos minutos depois, Otávio, o jogador que foi à conferência de imprensa alinhou pelo mesmo diapasão, negando problemas no balneário de Portugal. “O Cristiano disse e tem razão, o grupo está unido e as coisas de fora não afetam o grupo. Estamos só concentrados em jogar e ganhar. Vivemos sempre de forma normal, nunca vimos uma discussão. É normal um jogador ficar aziado quando não joga, acontece com todos mas estamos unidos. Sempre mostrou que está de corpo e alma com a Seleção. Às vezes os detalhes podem mostrar o negativo com tanto de positivo que há… É o nosso capitão, estamos todos com ele”, referiu.

“Nunca disse nada, nunca houve nada de ir embora. Sempre nos ajudou, é um exemplo, é o nosso capitão, quando fala há coisas boas. Estamos todos unidos, mostra a nossa força. Avaliação sobre o jogo com a Suíça, equipa melhor ou pior com e sem Ronaldo? A avaliação é sempre a mesma, temos sempre pontos positivos todos os jogos para colocar o próximo. Ronaldo é um jogador exemplar, um dos melhores da história, mas os 26 estão prontos, o Gonçalo também esteve muito bem… Perdão, 24”, acrescentou ainda, entre elogios à longevidade do “animal” e a não preferência pelo Brasil numa final onde se quer ganhar.

Cerca de 20/30 minutos depois, o treino aberto no quarto de hora inicial à comunicação social, neste caso com uma presença de jornalistas, fotógrafos e câmaras bem maior do que tem sido habitual com o foco já apontado ao mesmo. Um foco que teve de esperar: Rúben Neves e Diogo Dalot foram os primeiros a entrar ainda com o sistema de rega ligado, Ronaldo foi um dos últimos a subir ao relvado sem vestígios nas suas expressões de qualquer azia ou desconforto pela situação que está a viver nesta fase. Esfregou as mãos no início, trocou umas bolas com Pepe, fez dois números individuais mais artísticos, começou os exercícios depois com Diogo Dalot ao lado e entrou depois na equipa dos não coletes, um sinal de que poderá continuar no banco na partida frente a Marrocos dos quartos do Mundial. Aliás, a única exceção aos titulares com a Suíça foi António Silva, também porque Rúben Dias ficou pelo ginásio a fazer trabalho específico. E a certa altura o avançado ainda esteve à conversa com o jogador do Benfica.