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O “Mercador da Morte” já chegou à Rússia. Após 15 anos numa prisão norte-americana, Viktor Bout foi recebido em Moscovo, após uma troca de prisioneiros com os Estados Unidos sobre a qual não recebeu aviso prévio.
“Eles acordaram-me a meio da noite e disseram simplesmente: ‘arruma as tuas coisas’ e foi isso”, revelou numa breve declaração a um repórter da televisão estatal à chegada a Moscovo, onde abraçou a mulher e a mãe, que o esperavam.
De regresso à pátria, Bout, que chegou a ser considerado o maior traficante de armas do mundo, acusou os países ocidentais de tentarem “dividir” e “destruir” a Rússia. “O Ocidente acredita que não acabou connosco em 1990, quando a União Soviética começou a desintegrar-se. Eles pensam que podem simplesmente destruir-nos outra vez e dividir-nos”, declarou na primeira entrevista após a libertação ao canal russo RT, citado pelo Moscow Times.
Durante o tempo na prisão norte-americana, Bout disse não ter encontrado sinais de “russofobia”, acrescentando que, na verdade, quase todos os prisioneiros tinham alguma simpatia pela Rússia. Questionado sobre o interesse das autoridades russas na sua libertação, afastou ser alguém importante, resumindo o seu caso numa ideia simples: “Não abandonamos os nossos”.
Há vários meses que as autoridades norte-americanas discutiam com Moscovo a possibilidade de uma troca de prisioneiros com o objetivo de libertar a basquetebolista Brittney Griner. A atleta tinha sido detida no aeroporto de Moscovo, em fevereiro, depois de encontrarem na sua bagagem vaporizadores que continham menos de uma grama de óleo de haxixe. Condenada a nove anos de prisão por tráfico de droga, o julgamento, que decorreu após o início da invasão russa, foi visto como politicamente motivado.
Entre as condições para o regresso de Bout à Rússia está a proibição de voltar a entrar nos Estados Unidos e de lucrar com qualquer publicação ou filme sobre a sua detenção ou libertação. O documento, assinado pelo Presidente Joe Biden a 2 de dezembro, refere que, em caso de incumprimento, os termos do acordo serão revogados.
The official commutation for Viktor Bout that Biden signed last Friday (December 2). Bout isn’t allowed to return to the US and can’t profit from a book or movie about his arrest or release pic.twitter.com/5a57MIFDvc
— Kevin Liptak (@Kevinliptakcnn) December 9, 2022
Conhecido como “Mercador da Morte”, Bout inspirou Andrew Niccol a fazer “O Senhor da Guerra”, filme de 2005 protagonizado por Nicolas Cage. Três anos depois foi detido na Tailândia numa operação com agentes infiltrados da americana DEA e acusado de conspirar para vender armas aos rebeldes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, que mais tarde poderiam ser usadas contra alvos americanos.
Libertação de Bout: uma “grande vitória” para a Rússia
Condenado a 25 anos de prisão, Bout nunca foi abandonado pelo Presidente russo, Vladimir Putin, que não deixou de exigir a sua extradição. Conhecido nos EUA como um traficante de armas que ajudou a alimentar guerras em todo o mundo, na Rússia é descrito como um simples homem negócios. Em casa, o seu regresso foi recebido como uma vitória.
“Durante 15 anos o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo tem lutado por Viktor Bout”, lembrou o apresentador Vladimir Solovyov, descrevendo o momento como uma “grande vitória”. “Apesar de ter sido condenado injustamente, caluniado não traiu a sua pátria, não pediu nenhuns favores nem um perdão. Lutou como um leão por si e pela sua reputação”, sublinhou.
Viktor Bout, the "merchant of death", is back home in Russia
And state TV host Vladimir Solovyov is over the moon about it pic.twitter.com/0KUlHmofI1
— Francis Scarr (@francis_scarr) December 9, 2022
Em declarações à agência TASS, o embaixador russo nos EUA afirmou que Bout foi sujeito a uma forte pressão durante os 15 anos numa prisão norte-americana. “É difícil para uma pessoa normal imaginar a severidade das condições. Estamos cientes da forte pressão física e moral que sentiste e suportaste-o com dignidade”, afirmou Anatoly Antonov.
“Acho que todos os que acompanharam a sua história desta pessoa incrível, que foi vítima das insinuações dos EUA, está agora cheio de alegria”, defendeu ainda a comissária dos direitos humanos russa, Tatyana Moskalkova, citada pelo New York Times. Já Yevgeny Popov, membro do parlamento russo, considera que “todos” se vão esquecer de Griner e que a vida de Bout “está agora a começar”.