Tinham as melhores armas, os melhores equipamentos, os melhores soldados. E a sua missão era guardar o arsenal militar russo no Ártico, em Pechenga, onde Vladimir Putin depositava armas nucleares e submarinos capazes de transportá-las. A importância da 200.ª (duocentésima) Brigada Separada de Fuzileiros Motorizados era óbvia. E, assim, tornou-se óbvio enviá-la para a Ucrânia. Seguiram caminho ainda antes de 24 de fevereiro, data da invasão, para participar no que o Kremlin insistia serem exercícios de inverno.

Agora, uma investigação do jornal norte-americano The Washington Post, que teve acesso a documentos confidenciais da brigada, dá conta de que ela foi praticamente extinta pelo exército ucraniano. “Não pode ser considerada uma força de combate”, defendeu um oficial militar europeu, justificando as suas declarações com o número avassalador de perdas no campo de batalha.

Segundo a investigação, que cita soldados capturados, foi em janeiro que dois batalhões táticos da brigada seguiram para a Ucrânia de comboio. Só às 3 horas da madrugada de 24 de fevereiro foram avisados por um oficial de que a missão, afinal, iria envolver “tiroteio”. O destino era Kharkiv, cidade ucraniana que foi palco de intensos conflitos desde o primeiro dia da guerra. A resistência ucraniana foi maior do que o esperado pelos russos e logo ali várias unidades foram atacadas e emboscadas.

Bastou um dia para dezenas de soldados terem sido mortos e boa parte do equipamento acabar destruído ou abandonado. A história da 200.ª Brigada não é única e, desde o início da guerra, têm surgido mais notícias de batalhões que desaparecem por completo como a 31.ª brigada de assalto aéreo, ou, mais recentemente, um batalhão de recrutas.

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Em maio passado, segundo os documentos a que o Washington Post teve acesso, a unidade já estava em dificuldades. No dia 13 desse mês, os militares ucranianos conseguiram travar os russos, que tentavam cercar a cidade, obrigando-os a atravessar a fronteira, voltando a território russo, para junto de Belgrod. Ali, a contagem de tropas mostrava que quase metade dos soldados estava ou morto ou desaparecido. 

Além disso, o moral estava baixo, como conta Pekka Toveri, oficial finlandês ao jornal. “Eles têm soldados que se recusam a lutar, soldados que desapareceram. Isto mostra-nos que a guerra está a ir incrivelmente mal para a Rússia.”

De maio para cá, altura em que as forças já eram 60% da sua capacidade, as perdas continuaram a acumular-se. Os soldados de elite foram, segundo o Post, substituídos por recrutas, sem o treino militar adequado. O equipamento de ponta, como tanques T-80BVM de última geração, tinha desaparecido.

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Em julho, em Hrakove, voltaram a sofrer muitas perdas e, em setembro, a 200.ª Brigada Separada de Fuzileiros Motorizados estava na lista de derrotados durante as contra-ofensivas ucranianas na região de Kharkiv.

“A unidade está em estado de decadência.” A frase é de um soldado levado para o campo de batalha pela mobilização parcial ordenada pelo Presidente russo. Foi colocado na 200.ª brigada e as condições nada têm a ver com as de uma força de elite. Usam “capacetes pintados de 1941 e coletes sem placas”, disse, acrescentando que nem sequer receber treino militar. “Eles dizem: ‘Tu és atirador, aqui está a metralhadora.'”

Para os ucranianos, o estado da brigada é uma medalha que usam com orgulho no peito. “O que há para saber sobre eles?”, questionou o coronel general Oleksandr Syrsky, que lutou contra a 200.ª brigada em Kharkiv. “Eles fogem muito bem.”