Um ex-alto responsável militar da NATO, um ex-primeiro-ministro multimilionário recém-absolvido de fraude e uma economista destacam-se de entre os oito candidatos que disputam na sexta-feira e no sábado a primeira volta das eleições presidenciais na República Checa.

No país de 10,5 milhões de habitantes, membro da União Europeia (UE) e da NATO (Organização do Tratado do Atlântico-Norte, bloco de defesa ocidental), cerca de 8,5 milhões de eleitores vão na sexta-feira à tarde e no sábado de manhã às urnas para escolher o seu quarto Presidente da República desde que a Revolução de Veludo derrubou o regime comunista na Checoslováquia, em 1989.

As sondagens mostram que o general do exército na reserva Petr Pavel, de 61 anos, antigo paraquedista que ocupou a presidência do Comité Militar da NATO entre 2015 e 2018, tem uma ligeira vantagem sobre o ex-primeiro-ministro Andrej Babis, de 68 anos, magnata dos setores agroalimentar, químico e da comunicação social, e a economista e antiga reitora universitária Danuse Nerudova, mas que a primeira volta será renhida, prevendo-se que obtenham cerca de 25% dos votos cada.

Os três candidatos favoritos representam diferentes conceções da identidade checa, e muitos eleitores consideram Andrej Babis, o candidato mais conhecido, totalmente inadequado para ocupar o cargo.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Babis, que chefiou o executivo checo entre 2017 e 2021, passou os últimos meses em julgamento, acusado de cumplicidade em fraude com subvenções da UE no valor de 50 milhões de coroas checas (cerca de dois milhões de euros) antes de entrar para a política, e foi absolvido quatro dias antes de começar a primeira volta do escrutínio.

Mas há quem defenda, como o atual primeiro-ministro checo, Petr Fiala, que Andrej Babis, atualmente deputado e líder do partido populista centrista ANO, classificado pela revista norte-americana Forbes como dono da quinta maior fortuna do país, só se candidatou à Presidência da República porque não sabia se o veredicto lhe seria favorável e, se fosse eleito, tal lhe conferiria imunidade jurídica.

A indignação em relação às acusações de fraude e conflitos de interesses de que Babis foi alvo foi intensificada por alegações de que trabalhou como agente dos serviços secretos durante o regime comunista da Checoslováquia, antes de 1989 – o que sempre negou.

No entanto, é factual que os atuais políticos mais velhos atingiram a maioridade nos últimos anos do regime comunista e que muitos dos que então se encontravam bem posicionados para enveredar pela política nos primeiros anos da democracia liberal iniciaram as suas carreiras e obtiveram privilégios sociais obedecendo ao Partido Comunista.

O general na reserva Petr Pavel, que, durante grande parte da campanha eleitoral foi considerado o candidato favorito, é alvo de críticas semelhantes sobre o seu envolvimento passado com os comunistas – a diferença é que Pavel é transparente quanto à sua militância no Partido Comunista antes da Revolução de Veludo, afirmando que aderiu ao partido para facilitar a ascensão na carreira militar.

Mas, desde que anunciou a sua candidatura presidencial, alguns dos seus pares têm sustentado que, quando jovem adulto, Pavel estava mais fortemente ligado ao regime comunista do que admite, dizendo que ele foi inclusive treinado para ser espião nos Estados-membros da NATO.

Após a queda do comunismo, Pavel fez uma carreira brilhante nas Forças Armadas checas (foi chefe do Estado-Maior entre 2012 e 2015) e na NATO, mas tais alegações foram insuficientes para lançar suspeitas sobre a sua posição fortemente pró-ocidental e a sua inequívoca oposição à influência russa.

Esta orientação contrasta com a opinião mais crítica de Babis, que poderá enfraquecer a posição checa na UE se o ex-primeiro-ministro se tornar Presidente.

Por outro lado, muitos checos se sentem desconfortáveis com a política pró-Ocidente do atual Governo em relação à Ucrânia: as mais recentes sondagens sugerem que só um terço dos eleitores acha que o próximo Presidente deve ser abertamente pró-Ocidente.

Tais ideias poderão representar obstáculos para a outra candidata favorita que, ao contrário de Babis e Pavel, defende um corte total com o passado do país.

A economista Danuse Nerudova, antiga reitora da Universidade Mendel, de Brno, seria a primeira mulher Presidente da República Checa – que também nunca teve uma primeira-ministra – e seria a sua chefe de Estado mais jovem de sempre, com 44 anos.

Como Pavel, ela é fortemente pró-Ocidente e é particularmente popular entre os eleitores mais jovens, graças à defesa dos direitos da comunidade LGBT+ (lésbicas, ‘gays’, bissexuais, transgénero e outros) e de uma transição energética ecológica.

A sua ascensão nas intenções de voto nas sondagens foi acentuada: em maio de 2022, tinha apenas 3,5% de apoiantes e agora tem 25%.

O que mais abonou em seu favor foi a ausência de polémicas em torno da sua figura: Danuse Nerudova apresenta-se como livre da necessidade de “lidar com o passado”, o que, argumenta, lhe permitirá agir como “moderadora” do debate nacional se vencer a Presidência.

Entre os outros candidatos, figuram um dirigente sindical, Josef Stredula, e Pavel Fischer, ex-embaixador checo em França.

Se nenhum dos candidatos obtiver mais de 50% dos votos na primeira volta das presidenciais, uma segunda volta realizar-se-á duas semanas depois.

O atual Presidente, o social-democrata Milos Zeman, não pôde recandidatar-se, porque já cumpriu os dois mandatos de cinco anos previstos na lei checa.

Nos seus 34 anos de democracia, a República Checa teve três Presidentes: o escritor e antigo dissidente Vaclav Havel, que passou em 2003 o testemunho a Vaclav Klaus, artífice das reformas liberais de mercado quando foi primeiro-ministro (1993-1998).

Ambos foram eleitos ainda pelo parlamento, até que uma revisão constitucional permitiu que o seu sucessor, Milos Zeman, fosse eleito em 2013 por sufrágio universal.