A inflação na Argentina em dezembro chegou a 5,1%, totalizando 94,8% em 2022 e deixando o país apenas atrás de Venezuela, Zimbábue e Líbano e à frente de países em conflito como Síria, Ucrânia, Etiópia e Myanmar.
Com quase 95% de inflação em 2022, divulgados pelo Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (INDEC), a Argentina atingiu a pior taxa dos últimos 32 anos, superando os 84% de 1991.
“E o que vem pela frente tende a ser pior, porque o défice é sustentado por uma descontrolada emissão monetária que alimenta a inflação, porque o peso argentino diariamente vale menos, porque todos os problemas são empurrados para debaixo do tapete através de congelamentos de preços e porque o Governo gera expectativas de crise institucional. Com essa atitude, teremos um aumento da inflação nos próximos meses”, prevê o economista Aldo Abram, diretor da Fundação Liberdade e Progresso.
Apesar da elevada taxa de 2022, o Governo argentino ficou aliviado por ter evitado o impacto psicológico de atingir os 100% de inflação, previsto pelo mercado nos últimos meses do ano. É preciso voltar aos 1.343,9% de 1990, quando o país vivia uma hiperinflação, para encontrar um número pior.
Esta vitória simbólica, no entanto, foi graças a diversos programas de férreo controlo de preços e de congelamento de tarifas, além de valor artificial para o dólar.
Segundo dados do Banco Central argentino, a previsão de inflação para 2023 ronda novamente os 100% (98,4%), enquanto o Governo prevê uma taxa anual de 60%.
Mas a visão do mercado tem-se mostrado comedida. Há exatamente um ano, o mesmo mercado previa uma taxa de inflação de 54,8% em 2022.
Os quase 95% de 2022 praticamente duplicam os 50,9% de 2021 e mais do que duplicam a faixa de 38% a 48% para 2022, comprometida com o Fundo Monetário Internacional (FMI) no acordo financeiro fechado em março passado.
Em três anos de mandato, desde dezembro de 2019, o Presidente argentino, Alberto Fernández, atingiu o recorde de 300% de inflação acumulada.
“Agora em 2023, a incidência do aumento de tarifas que estão congeladas e a necessidade de financiamento do défice orçamental quando não há acesso ao crédito internacional devem impulsionar um novo patamar inflacionário. Além disso, é um ano de eleições presidenciais, quando a máquina do Estado injeta dinheiro na economia de forma acelerada para benefício político. Será um dinheiro sem respaldo financeiro, um combustível para a inflação”, projeta Aldo Abram.
Os efeitos da invasão russa na Ucrânia elevaram a inflação argentina especialmente no segundo trimestre de 2022, mas as inconsistências de medidas intervencionistas foram as principais razões para taxas que variaram acima de 6% (com picos acima de 7%), fazendo com que um único mês de inflação na Argentina supere a taxa anual da maioria dos países da região.
Equador (3,1%), Bolívia (3,1%) e Brasil (5,7%) entram nesse grupo de países cuja inflação anual representa apenas um mês de inflação na Argentina. México (7,8%), Paraguai (8,2%), Uruguai (8,1%) e Peru (8,4%), por exemplo, ficaram ligeiramente acima do pico de 7,4% de julho na Argentina. Chile (12,8%) e Colômbia (13,1%) equivalem a dois meses de inflação na Argentina.
O Governo da Venezuela não divulga os índices desde outubro. Segundo a medição do Observatório Venezuelano de Finanças (OVF), uma organização independente, a Venezuela continua na liderança com 305%, o triplo da Argentina.
No mundo, a Venezuela lidera a lista, seguida pelo Zimbábue, com 244%, e pelo Líbano, com 142%. Em quarto lugar, a Argentina aparece pior do que a Turquia, com 64%.
Este grupo de países tem pior inflação do que países em guerra ou em conflitos internos como Síria (55%), Etiópia (35%), Ucrânia (26%) e Myanmar (19%).