Dezenas de professores do Agrupamento de Escolas de Portela e Moscavide, em Loures, estão esta segunda-feira em greve e pediram carreiras mais atrativas e um alívio do trabalho, mostrando preocupação com a dificuldade de fixar jovens no setor.
Os alunos da Escola Básica Gaspar Correia e da Escola Secundária Arco-Íris, na Portela, chegaram esta manhã para as aulas, mas viram os seus professores, à porta, com cartazes estendidos a exigir respostas do Ministério da Educação perante os “renovados” problemas do setor.
“A profissão de professor não é atrativa, de todo”, sublinhou à Lusa Elisabete Barreto, educadora de infância neste agrupamento e já com 31 anos de carreira. Elisabete Barreto esteve deslocada nos Açores, recordando as suas antigas preocupações.
“Eu chegava à escola e estava preocupada com o meu quarto, porque não tinha onde dormir”, lembra, algo que não cria “estabilidade” na vida pessoal e que afeta o trabalho com os alunos.
Agora posicionada no 5.º escalão da carreira dos professores, Elisabete Barreto recorda que esteve 13 anos no terceiro, recebendo um salário líquido a rondar os 1.200 euros.
O limite de vagas no 5.º e no 7.º escalões tem sido outra questão levantada pelos professores, algo que, apesar de cumpridos critérios, causa um “estrangulamento” na progressão das carreiras, como classificou a professora de matemática Paula Diogo.
Mesmo sentindo-se uma “felizarda” por nunca ter andado de “casa às costas”, como Elisabete Barreto, Paula Diogo relembra um problema comum dos docentes: o congelamento das carreiras.
“Ainda não recuperámos o tempo de serviço de 6 anos, 6 meses e 23 dias quando várias carreiras da administração pública já tiveram essa recuperação”, explica.
A professora de matemática no agrupamento questiona “qual é o jovem que quer ser professor, com uma instabilidade enorme e pouca perspetiva neste momento”.
Cristina Jales, que ensina francês na Secundária Arco-Íris, também aponta problemas: “Eu estou a poucos anos da minha reforma e é com profunda tristeza que deixo a minha profissão neste descalabro“, diz, sentindo que os professores não são respeitados, ao passo que Luísa Simão, docente de educação musical, refere ser necessário “valorizar” o setor.
“Um professor faz imensa falta numa sociedade, tem de ser valorizado”, começa por dizer Luísa Simão, explicando ainda que esta profissão “não é de grande motivação”, mas “de coração”. A professora de música fala também em muita burocracia “para além das aulas”: “Tínhamos de ter tempo para preparar as aulas e para nos autoformarmos”.
Sobre a informação avançada no domingo pela RTP, que refere disponibilidade do Ministério da Educação para vincular professores após três contratos e reduzir as áreas de deslocação dos docentes para lecionar, os professores mostram otimismo, mas querem aguardar pelas negociações do Governo com os sindicatos.
“Vamos esperar pelo dia 20”, responde Luísa Simão, que é também delegada sindical do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa (SPGL), um dos sindicatos ligados à Fenprof.
Esta estrutura e outras sete organizações sindicais começam esta segunda-feira uma greve de 18 dias por distritos, até 8 de fevereiro.
A greve começa esta segunda-feira em Lisboa, com uma concentração marcada na Praça do Rossio, e uma manifestação nacional no dia 11 de fevereiro.
A ação de protesto junta-se a outras que estão a decorrer, uma organizada pelo do Sindicato Independente dos Professores e Educadores (SIPE), em que decorrem paralisações parciais, e outra pelo Sindicato de Todos os Profissionais na Educação (STOP), que agendou greves por tempo indeterminado desde 9 de dezembro.