Como se o desfecho de um filme ficasse concluído quando as pipocas ainda não acabaram e falta uma hora de fita a rodar. No reencontro entre Messi e Ronaldo, com meia hora de jogo, já ambos tinham feito aquilo que levara milhares de pessoas no mundo inteiro a prestar atenção à Arábia Saudita como se ali residisse o maior centro dinamizador do futebol mundial.

Cristiano Ronaldo disparou um túnel, um toque de calcanhar, um gesto técnico elaborado para todas as câmaras que lhe apontavam. Mesmo que a situação não o exigisse. Afinal, fica sempre bem um apontamento vistoso que chame a atenção – mesmo que o português saiba que esta estava concentrada em si por se tratar da sua estreia no futebol saudita, mesmo que num jogo não oficial.

Muitos abraços, cumprimentos, palmadinhas nas costas vincaram o caráter amigável do jogo entre a Riyad Season Team, um combinado de jogadores dos clubes sauditas do Al Nassr e do Al Hilal, e o Paris Saint-Germain. Ainda nos túneis de acesso ao relvado, o jogador português do AlNassr cumprimentou os adversários, particularmente os antigos colegas do Real Madrid, com quem se cruzou quando ainda rodava nos melhores campeonato da Europa, e o Renato Sanches, português titular na equipa francesa.

Durante o jogo, cada vez que a bola mudava de portador, das bancadas vinha um ruído que servia como um medidor de popularidade.  No Estádio Internacional Rei Fahd, dois nomes destacaram-se dos restantes: Ronaldo e Messi. Entre eles, 12 Bolas de Ouro e a propriedade de um marco geracional de que ambos são detentores.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Cristiano adotou uma postura de quem comprava o duelo de louvores com o argentino. Messi desligou-se dessa luta. O capitão da equipa vencedora do último Mundial podia ter agarrado na bola e marcado o penálti que o PSG teve oportunidade de concretizar e rivalizar com Ronaldo em relação a quem tinha obtinha mais golos no jogo. Não o fez e deu a Neymar e Mbappé a oportunidade de se colocarem na lista de marcadores.

Ainda no que toca à dicotomia Ronaldo/Messi, a camisola que o Paris Saint-Germain estreou nesta partida tomou uma posição em relação ao debate. Na manga esquerda, em amarelo sobre fundo preto, lia-se “GOAT” (acrónimo para “Greatest Of All Time”, em português, “O melhor de sempre”). Embora se trata de um apontamento da marca a que o antigo basquetebolista Michael Jordan dá nome e que patrocina o clube, muito viram-no como um sinal.

Por muitas críticas que sejam apontadas ao futebol na Arábia Saudita, o Al Nassr e o Al Hilal deram um brinde aos que gostam mais de futebol do que de clubes quando, independentemente dos motivos, a rivalidade ficou à parte de um evento que primou por ser invulgar. Tão fora do comum que, sem nunca ter pensado nisso, o promotor do evento conseguiu juntar Marega, antigo jogador do FC Porto, e Cristiano Ronaldo numa dupla de ataque.

As estrelas de Riade, orientadas pelo argentino Marcelo Gallardo, não guardaram o seu bem precioso para utilização posterior. Cristiano Ronaldo entrou no onze inicial para se mostrar perante um Estádio Internacional Rei Fahd completamente cheio. Ao seu lado teve Luiz Gustavo, Pity Martínez e Moussa Marega – os nomes mais conhecidos -, aos quais se juntaram Talisca, André Carrillo e Matheus Pereira na segunda parte.

Nos franceses, Messi alinhou também ele como titular. De resto, o Paris Saint-Germain mostrou um onze imponente, desde logo pelo trio da frente, Messi, Neymar e Mbappé, mas também com o português Renato Sanches no meio-campo. Nuno Mendes, a partir do banco, voltou a jogar depois do Mundial que disputou com a seleção portuguesa. Danilo também entrou.

Até as redes quase opacas das balizas, com uma malha densa que as da pesca, tinham uma aparência particular. No entanto, o reforço do material veio a propósito dado o número de golos que teve que conter. O primeiro foi de Messi (3′) que parecia vir ao reino de Ronaldo ficar-lhe com a coroa. O português não se deixou levar pela afronta e respondeu. O português ganhou um penálti e converteu-o (34′). Em coro, o público gritou “SIIII” no momento da celebração. Se o jogo terminasse por aí, ninguém no estádio se importava.

O árbitro não estava por dentro do clima fraterno em que partida decorria. As marcações dos jogadores uns aos outros, fruto da ausência de competitividade, eram feitas com uns bons palmos de distância. Bernat quebrou o acordo implícito de poupança de agressividade quando derrubou Salem Al Dawsari no momento em que o saudita seguia para a baliza e foi expulso.

A inferioridade numérica não importunou muito a calma da equipa francesa e Marquinhos colocou de novo o PSG na frente (43′). A displicência com que alguns jogadores se apresentaram era evidente e foi ainda mais notória quando Neymar, em vez de rematar com força e intenção como faria na final da Liga dos Campeões, dirigiu a bola para as mão para as mão do guarda-redes Moha Al Owais com a força de quem faz um passe. Como penalização, os campeões francesas sofreram o empate. Cristiano Ronaldo (45+5′) voltou a marcar, desta vez de cabeça, e, ao intervalo, as coisas pareciam equilibradas.

No segundo tempo, o Paris Saint-Germain descolou no marcador. Sergio Ramos (53′), após uma jogada individual de Mbappé, deu nova vantagem aos parisienses. Jang Hyun-soo (56′) foi a figura maior da última vez que as estrelas da Arábia Saudita conseguiram dar resposta às ofensivas francesas. Depois, Mbappé (60′) e Ekitike (78′), para a PSG, e Talisca (90+4′), para a Riyad Season Team, fecharam o 5-4 final.

Aos 60 minutos de jogo, Cristiano Ronaldo foi substituído, o que serviu de mote para que Galtier também retirasse do terreno do jogo as suas maiores estrelas. O Paris Saint-Germain levou a Riyadh Season Cup para casa, valha isso o que valer. Já o português foi considerado o homem do jogo.