No limite, e mesmo sendo contingências previstas em qualquer jogo de andebol, Portugal “esteve” menos de um minuto dentro dos quartos. Porque a goleada com Cabo Verde foi quase um destino natural dentro do favoritismo teórico com que a Seleção entrava, porque no final do tempo regulamentar do encontro com o Brasil prevalecia o 28-27 marcado uns segundos antes por Francisco Costa. Depois, uma revisão no VAR do último lance acabou por oferecer uma oportunidade para Dupoux fazer o empate. Voltava aquela velho fado da calculadora, neste caso com uma equipa que parece estar talhada para estas situações limite como veio a acontecer por exemplo frente à França na inédita qualificação para os Jogos. Haveria um remake?

Agora não houve VAR para travar festejos: Portugal goleia Cabo Verde e joga “final” com Suécia para fazer história no Mundial

As contas eram fáceis de fazer: se Portugal somasse aqueles dois pontos, tinha agora seis e, qualquer que fosse o resultado com a Suécia, faria prevalecer a vantagem no desempate direto com Hungria e Islândia que vinha da primeira fase; assim, teria no mínimo de pontuar para ir buscar esses seis pontos, os mesmos a que húngaros e islandeses tinham chegado na antecâmara do duelo da Seleção com uma Suécia já apurada em Gotemburgo. E o que contava a história? Num passado mais longínquo, os escandinavos não só eram mais do que favoritos como ganharam todos os quatro encontros realizados com Portugal por mais de cinco golos; mais recentemente, a Seleção conseguiu um dos melhores resultados da sua história no Europeu de 2020 ao bater os suecos por 35-25, cedendo nos Jogos de Tóquio com o mesmo adversário por 29-28.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Mais um feito histórico: Portugal goleia Suécia com exibição de luxo e está na luta pela qualificação para as meias

“Nós gostamos do tudo ou nada e esta equipa tem sido um bocado assim. Ou morres na praia ou atravessas o oceano a nado. Estamos sempre um pouco nesse registo e com a Suécia vai ser mais um desses momentos. Vai ser espetacular. Vamos ter a Suécia a pensar no jogo que perdeu aqui com Portugal por dez, em 2020, e a querer marcar posição. Estamos a falar da Suécia, não de uma equipa qualquer, e ainda por cima a jogar em casa. Tenho a certeza absoluta que a resposta dos nossos atletas vai ser fantástica e oxalá consigamos materializar tudo o que vamos preparar para esse jogo”, comentara na antecâmara o técnico Paulo Jorge Pereira, ciente da dificuldade da missão que os Heróis do Mar teriam pela frente.

Da euforia à frustração: Portugal festeja, VAR revê decisão, Brasil empata de sete metros mas mantém sonho dos quartos

Se antes Portugal ficara a alguns segundos da história antes da intervenção do VAR, agora tinha 60 minutos para dar mais um passo histórico numa evolução contínua desde 2020, altura em que a Seleção carimbou o sexto lugar no Campeonato da Europa. E bastava olhar para os outros grupos para se perceber como este era de longe o mais disputado: no grupo 1, França e Espanha estavam apurados; no grupo 3, Alemanha e Noruega estavam apurados; no grupo 4, Egito estava apurado e havia uma vaga para Dinamarca e Croácia. No grupo 2, antes da última ronda, só Cabo Verde estava eliminado. Depois, também Brasil e Islândia já não entravam nas contas. Agora, era entre Portugal, a depender de si, Islândia e Hungria, a depender de outros. E se a Seleção saiu a ganhar ao intervalo e conseguiu reentrar na partida, acabou por morrer na praia.

Como fazer história com uma Espinha encravada: Portugal cilindra Hungria e ganha grupo da 1.ª fase do Mundial

O início teve sobretudo os postes como protagonistas, com quatro remates dos dois conjuntos a acertarem com demasiada pontaria na madeira e o primeiro golo a surgir quase no final do quinto minuto. A partir daí o encontro foi menos incaracterístico e sempre equilibrado, com os suecos a terem vantagens mínimas até Portugal conseguir passar para a frente no dobrar do décimo minuto e chegar mesmo aos dois golos de avanço pouco depois (6-4). Essa vantagem foi-se mantendo até ao parcial de 3-0 para os anfitriões que virou o jogo de 8-6 para 9-8 que levou Paulo Jorge Pereira a pedir o primeiro tempo técnico, sentindo que aquele era um momento vital para não descolar. Foi mesmo. E além do empate que surgiu logo de seguida, Miguel Espinha também se aproximou do melhor nível, chegando às três defesas conseguidas na partida.

Nem sempre as decisões da equipa de arbitragem, de novo com as gémeas francesas Charlotte e Julie Bonaventura que tinham estado na partida com o Brasil, foram acertadas, havendo um lance sintomático disso mesmo quando Leonel Fernandes, sem estar na área, travou um lançamento longo do guarda-redes sueco sem infração mas foi excluído com dois minutos, na quarta sanção contra nenhuma dos escandinavos quando existem conselhos para que as exclusões entre equipas nunca sejam muito diferentes. Apesar disso, Portugal aguentou, foi conseguindo nessa fase travar o atirador Johansson, voltou a ter de novo dois golos de avanço e chegou mesmo ao intervalo na frente com um livre de sete metros de António Areia (14-13).

O segundo tempo não trouxe grandes alterações no resultado do jogo mas deixava sinais de que algo estava a mudar: por um lado, Portugal estava bem mais precipitado no jogo ofensivo, colmatando essas dificuldades com a exploração de Iturriza a valer várias vezes sete metros; por outro, a Suécia estava bem mais certeira no ataque. Foi assim que os escandinavos passaram de novo para a frente aos 38′ (17-16) e chegaram aos quatro golos aos 42′ com um parcial de 3-0 (42′). Paulo Jorge Pereira voltou a parar a partida e deu o mote: “Vamos com tudo, vamos com tudo para cima deles”. Voltava a aposta no 7×6, que ainda viu a diferença chegar aos 25-19 antes do início da retoma com Espinha a dar o mote com um sete metros travado antes de Rui Silva fazer o 26-24 antes do 26-25 que levou a um tempo técnico dos suecos. Depois, dois ataques falhados foram um adeus ao sonho (32-30). E aquele sete metros do VAR voltou de novo ao pensamento…