“Fiquei realmente impressionado com o seu apuramento mas a verdade é que já estou impressionado com Portugal há alguns anos. Talvez tenhamos um historial mais rico no andebol mas sei que vamos jogar com uma equipa muito boa. Portugal tem produzido bons jogadores, tanto a nível físico como técnico”, comentava na antecâmara do arranque da main round do Campeonato da Europa Kristjan Andresson, selecionador da Suécia. “Se jogaram com 7×6 não será uma surpresa para mim mas reconheço que teremos de trabalhar a melhor forma de defender esse sistema”, complementava, a propósito de uma das soluções usadas por Paulo Pereira na competição.

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A Seleção pode ter um currículo de pequeno peixe no meio do lago de tubarões onde iria começar esta segunda fase da competição, depois de dois triunfos com França e Bósnia e uma derrota com a Noruega. Todavia, a perceção dos adversários foi mudando em relação a um passado recente, naquele que constitui um dos maiores elogios que se pode fazer ao conjunto nacional. E nem mesmo o desaire com o conjunto escandinavo, que terminou com alguma ironia de Paulo Pereira falando do ruído que se fazia sentir no pavilhão de Trondheim a propósito das exclusões que limitaram as possibilidade de jogar 7×6, alterou essa forma de pensar ambiciosa da equipa.

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“Vai ser um jogo de altíssima exigência mas estamos tranquilos. Vamos fazer o nosso papel e jogar como até agora, sem constrangimentos. De certeza que vamos dar uma resposta excecional. É uma seleção que tem um ataque fortíssimo e faz cerca de 40% dos golos em contra-ataque. Portanto, vamos ter de correr de forma excecional na recuperação defensiva. Tem um jogo similar ao da Noruega e vamos tratar de estar melhor do que estivemos no último jogo nesse aspeto. Vai ser um encontro de altíssima dificuldade mas não temos nenhum tipo de obrigação. A Suécia é que está obrigada a ganhar em casa e nós temos a obrigação de jogar de igual para igual”, comentou o selecionador antes da partida, colocando o enfoque na parte defensiva como segredo para o triunfo.

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Quatro vezes campeã mundial (1954, 1958, 1990 e 1999) e europeia (1994, 1998, 2000 e 2002) – além de ter ganho ainda quatro medalhas olímpicas de prata em 1992, 1996, 2000 e 2012 –, a Suécia foi perdendo fulgor no andebol mundial até à final perdida do Europeu de 2018 (Espanha) e teve uma penalizadora derrota na primeira fase com a Eslovénia (21-19) que reduzia a margem de erro para a main round. Assim, este encontro de Malmö era quase decisivo para os anfitriões, com um histórico 100% vitorioso frente a Portugal em fases finais de Europeus (26-21 em 1994, 29-21 em 2000 e 27-22 em 2002). No final, o resultado disse tudo: a Seleção goleou em Malmö por 35-25 depois de ter saído a ganhar por três golos de vantagem ao intervalo (15-12).

Alfredo Quintana, que baixou ligeiramente a percentagem de eficácia no encontro com a Noruega, deu o mote para uma primeira parte que roçou a perfeição ambicionada por técnico e jogadores antes do jogo: com três defesas nos primeiros quatro remates, o luso-cubano foi determinante para a melhor entrada de Portugal apenas travada por alguns ataques rápidos dos suecos que passaram para a frente pouco depois dos 11 minutos (6-5) numa altura em que o conjunto nacional tinha um jogador a menos. No entanto, a altura mais complicada para a Seleção funcionou como trampolim para a melhor fase, com um parcial de 4-0 assente numa defesa muito consistente que deixou os escandinavos sem marcar ao longo de seis minutos, invertendo o resultado para 10-7.

O tempo técnico pedido pela Suécia funcionou, os escandinavos voltaram a acertar no plano ofensivo com Lukas Nilsson em principal destaque a marcar e distribuir jogo, mas Portugal, até com a segunda exclusão de Alexis Borges que condicionou de certa forma a estratégia defensiva da equipa, manteve a exibição de grande nível não só em termos recuados mas também no ataque, com combinações de jogo aéreo, boa exploração dos pivôs e João Ferraz em foco na primeira linha, terminando com quatro golos no 15-12 que se registava ao intervalo.

No segundo tempo, e quando se esperava uma reação do conjunto anfitrião em Malmö, Portugal teve um arranque de sonho nos 12 minutos iniciais, altura em que Kristjan Andresson parou o encontro com a Seleção na frente por impensáveis 23-17: com Fábio Magalhães e Rui Silva em destaque no jogo ofensivo organizado e as recuperações de bola ou defesas de Quintana a darem ataques rápidos 1×0, os escandinavos nunca conseguiram inverter a superioridade nacional e colocaram-se numa posição delicada que pior ficou nos derradeiros 15 minutos, quando António Areia marcou o 25-18 e Humberto Gomes entrou para defender um livre de sete metros. O lateral João Ferraz e o central Rui Silva acabaram como melhores marcadores com seis golos cada de uma partida que deixou de ter história, com os escandinavos a somarem erros e Portugal a aproveitar da melhor forma.

“Fizemos um grande jogo e estou orgulhoso de ter jogadores com este caráter. Hoje, ganhámos na primeira parte à Suécia sem jogar ‘sete contra seis’. Este triunfo é um bocadinho do Magnus [Andersson, treinador do FC Porto] e do FC Porto mas não é só. É preciso valorizar esta rapaziada, que dá tudo. Estamos cheios de energia e vamos continuar a perseguir o objetivo de alcançar a melhor classificação de sempre, que é o sétimo lugar. Mas é preciso manter os pés bem assentes na terra, porque há 14 anos que não estávamos cá. Com este jogo e o comportamento que temos mostrado estamos a conquistar o mundo do andebol. É preciso manter a humildade que não tivemos no jogo com Noruega e, por isso, pagámos a fatura. Hoje, fomos realmente humildes”, comentou no final do jogo o selecionador Paulo Jorge Pereira, antes de deixar uma crítica… à RTP.

“Não sei por que razão a televisão pública não cumpre a função que devia ter. É uma tristeza, fico mesmo magoado. Não é todos os dias que Portugal está num Europeu de uma modalidade que mexe com milhões na Europa. Magoa-me muito. Quando vi a Rosa Mota e o Carlos Lopes ganhar eu chorava. Quando nos ganhámos também gostava de ver as pessoas chorar. Não damos importância nenhuma ao desporto. Quando os nossos políticos perceberem que o desporto é uma parte essencial para a nossa vida vamos viver muito melhor”, lamentou.

Nos outros resultados da primeira jornada do Grupo II da main round do Europeu, a Eslovénia derrotou a Islândia por 30-27 com nove golos de Dean Bombac, enquanto a Noruega venceu a Hungria por 36-29 com sete golos de Sander Sagosen e seis de Goeran Johannessen. Na próxima ronda, no domingo, Portugal vai defrontar a Islândia (13h), seguindo-se o Eslovénia-Hungria (15h15) e o Noruega-Suécia (17h30).