O Papa Francisco inicia esta terça-feira em Kinshasa uma visita de sete dias à República Democrática do Congo (RDCongo) e ao Sudão do Sul, dois países atingidos pela guerra, fome e catástrofes naturais ligadas às alterações climáticas.
A 40ª viagem internacional de Francisco, de 86 anos, que se antevê como particularmente desafiante devido aos seus problemas de mobilidade, esteve agendada para julho do ano passado, mas uma dor no joelho provocou o seu adiamento e, desde então, a situação de segurança na região tornou-se mais complicada em ambos os países.
Nos últimos meses, o leste da RDCongo tem sido palco de um recrudescimento da violência, sobretudo na fronteira com o Ruanda, uma zona com subsolo rico em coltan, fundamental para a indústria de equipamentos eletrónicos, e onde existem mais de 100 grupos armados ativos, nomeadamente o Movimento 23 de Março (M23), razão pela qual a visita a Goma, planeada no programa inicial, foi suspensa.
João Paulo II esteve em Goma em 1980 e 1985, quando o país se chamava ainda Zaire, mas a capital da província do Kivu do Norte encontra-se atualmente particularmente vulnerável aos ataques do M23.
Já o Sudão do Sul, o mais jovem país do mundo, independente do Sudão desde 2011, nunca foi visitado por um pontífice. A viagem de Francisco tem início com a sua chegada a Kinshasa, que irá percorrer de carro desde o aeroporto da capital até ao Palácio da Nação para uma cerimónia de boas-vindas e encontro com o Presidente Felix Tshisekedi, antes de proferir o seu primeiro discurso no país.
O líder da igreja católica apelará ao diálogo como veículo para alcançar a paz, num discurso que tem como contexto a morte de mais de 200 civis e a fuga de suas casas de quase 52.000 pessoas nas províncias de Ituri e Kivu do Norte nas últimas seis semanas, enquanto mais de 1,5 milhões de pessoas permanecem na região como deslocados internos.
Metade da população da RDCongo, cerca de 45 milhões de pessoas, é católica e a igreja tem uma enorme influência no país. Francisco celebrará missa na área do aeroporto de Ndolo, em Kinshasa, onde se espera cerca de um milhão de pessoas.
Na impossibilidade de se deslocar a Goma, o Papa reunir-se-á com um grupo de vítimas do leste do país, que darão testemunho do que viveram, na nunciatura em Kinshasa, onde se encontrará com representantes de várias instituições de caridade católicas.
Na sexta-feira, o Papa deslocar-se-á ao Sudão do Sul, um país cujo produto interno bruto (PIB) per capita de 322 dólares (295 euros) o coloca entre os mais pobres do mundo e onde a maioria da população sobrevive através da ajuda internacional. Cerca de 8,3 milhões de sudaneses do sul, 75% da população, lutam todos os dias para encontrar o suficiente para comer.
A deslocação ao Sudão do Sul é uma viagem sem precedentes para um papa, que viaja com o arcebispo de Cantuária, Justin Welby, e o moderador da Igreja da Escócia, Jim Wallace, uma vez que o país tem uma grande presença da Igreja anglicana.
Em abril de 2019, os três líderes religiosos convocaram um retiro espiritual no Vaticano para ajudar o processo de paz no Sudão do Sul e durante essa iniciativa, num gesto simbólico de humildade, Francisco ajoelhou-se e beijou os pés do Presidente sul-sudanês, Salva Kiir Mayardit, e do líder da oposição, Riek Machar, e instou os dois líderes em conflito a prosseguirem com o acordo de paz assinado no ano anterior.
O apelo à manutenção desse acordo de paz, que tem registado progressos mitigados, pontuado por recorrentes surtos de violência, será o foco do discurso do papa às autoridades sul-sudanesas no Palácio Presidencial em Juba.
No sábado, o papa reunir-se-á com o clero na Catedral de Santa Teresa, e à tarde encontrar-se-á com quase dois milhões de deslocados internos, de quem ouvirá vários testemunhos.
O pontífice realizará ainda uma missa no mausoléu de John Karang, antigo líder do Exército de Libertação do Povo Sudanês (SPLA), morto num acidente de helicóptero em 2005, e cuja influência foi fundamental para a fundação do Sudão do Sul.