Donald Trump processou Bob Woodward pelo lançamento de The Trump Tapes, o audiolivro de entrevistas do jornalista norte-americano ao ex-Presidente dos Estados Unidos quando este ainda se encontrava no poder. Trump alega agora que o livro foi publicado sem o seu consentimento, razão pela qual deu entrada com ação legal, exigindo uma indemnização de 50 milhões de dólares (cerca de 46 milhões de euros).

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O processo deu entrada na segunda-feira num tribunal da Flórida e visa Woodward pelo que entende ser a sua “sistemática usurpação, manipulação e exploração de gravações do Presidente Trump”.

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A equipa de advogados de Donald Trump alega ainda que uma das conversas foi editada e deturpada, citando uma gravação paralela feita por uma funcionária de Trump em dezembro de 2019, na qual Woodward terá dito: “mais uma vez, isto é para o livro que sairá antes das eleições”.

O livro em questão, Rage, publicado em setembro de 2020, foi um de três best-sellers sobre o então Presidente escritos pelo jornalista, que ficou para a história pelo seu papel na descoberta do escândalo de Watergate que motivou a demissão de Richard Nixon em 1974 (a única na história da presidência dos Estados Unidos). As entrevistas que constituem The Trump Tapes foram gravadas entre dezembro de 2019 e agosto de 2020, enquanto Woodward escrevia Rage.

Logo aquando do lançamento do audiolivro, em outubro de 2022, Trump acusou Woodward de publicar as entrevistas sem o seu consentimento. Questionado pela CNN norte-americana, o jornalista defendeu-se:

[As entrevistas] foram feitas voluntariamente. Ficou tudo gravado para efeitos de registo e até já tinha usado partes antes. Ele é Presidente, e é uma personagem que se expõe ao máximo. Agora [as gravações] estão expostas ao máximo”.

Ainda em novembro, quando esteve em Portugal por ocasião do primeiro aniversário da CNN Portugal teceu duras críticas à postura de Trump revelada no decurso das entrevistas. “Os nossos netos vão ler sobre isto, ouvir aquelas gravações e dizer para si próprios ‘Como é que isto pôde acontecer nos EUA?’”, disse.

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Além do jornalista, o processo movido por Trump visa ainda a editora Simon & Schuster, editora responsável pela publicação do livro. Os 50 milhões de dólares, dizem os seus advogados, são o valor correspondente à venda de dois milhões de cópias que, no seu entender, é “o número de exemplares que se pode estimar que o audiolivro venda”.

Woodward e a editora não fizeram até ao momento quaisquer comentários. O processo de Trump surge numa altura em que o candidato à eleição em 2024 começa a acelerar a sua campanha eleitoral, marcando presença em vários comícios.

Paralelamente, o antigo chefe de Estado está envolvido numa série de processos judiciais: desde a alegada apropriação ilegal de fundos de campanha, passando por uma acusação de violação pela autora E. Jean Carroll, até acusações de fraude fiscal nas suas empresas (esta última já valeu uma condenação à Trump Organization), sem esquecer as potenciais consequências legais que ainda pode vir a enfrentar pelo seu papel na invasão do Capitólio a 6 de janeiro de 2020.

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