O senador brasileiro Marcos do Val anunciou esta quinta-feira a sua renúncia ao mandato parlamentar na câmara alta do Congresso brasileiro e disse que o ex-presidente Jair Bolsonaro tentou coagi-lo a participar num golpe para permanecer no poder. Mas, em ambos os casos, voltou atrás nas suas decisões — decidiu retratar-se e permanecer no cargo.

“Eu ficava puto (irritado) quando me chamavam de “bolsonarista”. Vocês me esperem que vou soltar uma bomba. Sexta-feira vai sair na Veja a tentativa de Bolsonaro de me coagir para que eu pudesse dar um golpe de Estado junto com ele, só para vocês terem ideia. E é lógico que eu denunciei”, disse o senador numa transmissão ao vivo em que discutia com membros do Movimento Brasil Livre (MBL), acrescentando que Daniel Silveira, ex-deputado bolsonarista Daniel Silveira, preso na manhã desta quinta-feira por desobedecer a ordens judiciais, também teve conhecimento do plano.

Mais tarde e quando questionado pela Folha de São Paulo, Marcos do Val recuou e apenas referiu que o ex-Presidente do Brasil “ouviu” o plano do golpe de Estado e foi Daniel Silveira o responsável por o elaborar. Além disso, o senador nunca soube precisar onde é que se teve lugar a reunião com Bolsonaro, dando versões contraditórias.

Por sua vez, o filho de Jair Bolsonaro, Flávio Bolsonaro, confirmou a reunião entre Marcos do Val, Jair Bolsonaro e Daniel Silveira, mas disse que não via “crime” nenhum nisso. Adicionalmente, apelou a que “todos os esclarecimentos sejam feitos para que não fiquem narrativas em cima de narrativas no intuito de superar os fatos. Facto é que dia 31 de dezembro o Presidente Bolsonaro deixou a presidência”.

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Marcos do Val, eleito em 2018 com 863 mil votos para um mandato de oito anos até 2027, disse inicialmente que iria renunciar ao seu mandato de senador numa publicação no Instagram e não deu mais detalhes nas redes sociais sobre o que teria sido essa pressão do ex-Presidente para dar um golpe, mas a revista Veja adiantou a publicação das informações que sairiam na sexta-feira.

Segundo a revista brasileira, um conjunto de mensagens a que teve acesso mostrou que 21 dias antes de terminar o seu Governo o ex-Presidente Jair Bolsonaro terá elaborado um plano com o apoio de um grupo restrito de aliados para tentar reverter a sua derrota eleitoral.

A revista informou que o plano se baseava no aliciamento de alguém de confiança para se aproximar do juiz do Supremo Tribunal Federal (STF) e Presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Alexandre de Moraes e gravar as conversas do magistrado com o intuito de captar algo comprometedor que pudesse ser usado como argumento para prendê-lo e invalidar a eleição.

A publicação acrescentou que a gravação, caso fosse obtida, seria usada para desencadear uma série de medidas que atirariam o país numa confusão institucional sem precedentes e possibilitaria uma intervenção de Bolsonaro para se manter no poder.

A revista informou que Silveira foi quem procurou o senador e lhe contou o plano para tentar anular as eleições e também marcou um encontro secreto dos dois com Bolsonaro no Palácio da Alvorada.

Segundo a reportagem, Marcos do Val quis saber como o plano seria colocado em prática e Bolsonaro ter-lhe-ia dito que já tinha acertado com o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), órgão responsável pela segurança do Presidente, que daria o suporte técnico à operação de gravação fornecendo os equipamentos de espionagem necessários.

O senador foi escolhido porque era forte aliado de Bolsonaro e conhecia o juiz do STF há mais de uma década, mas afirmou que se assustou com o plano e contou tudo o que lhe fora proposto a Moraes depois do alegado encontro com Bolsonaro.

Segundo informações dos media locais, a Polícia Federal deverá intimar o senador Marcos do Val na condição de testemunha a depor na investigação aberta para apurar os ataques ocorridos após a segunda volta das eleições presidenciais, que culminaram nas invasões e vandalismo provocados por milhares de “bolsonaristas” nos edifícios dos três poderes em 08 de janeiro, em Brasília, a capital do país.

O MBL, para o qual Marcos do Val faz parte, é um grupo que defende temas da extrema-direita e que atuou fortemente da destituição da ex-presidente Dilma Rousseff. O grupo é composto por parlamentares e influencers que tentam posicionar-se como expoentes da direita contra o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva.