O poder de compra dos professores e investigadores do ensino superior diminuiu mais de 20% nas duas últimas décadas, segundo um estudo do sindicato do ensino superior que esta terça-feira lança uma petição pela valorização dos salários.
“As perdas de poder de compra, entre 2004 e 2023, cifram-se em valores que vão entre os 22% e os 27%”, anunciou a presidente do Sindicato Nacional do Ensino Superior (SNESup), baseando-se num estudo que analisou a evolução dos salários dos docentes e investigadores ao longo dos últimos 19 anos.
Segundo Mariana Gaio Alves, as perdas salariais verificaram-se ano após ano desde 2004, uma tendência quebrada apenas um ano: “Só em 2009 houve um aumento de poder de compra”.
O SNESup disse que contactou o ministério, mas perante a falta de respostas, decidiu que estava na hora de tentar levar o assunto à Assembleia da República, tendo lançado esta terça-feira uma petição.
“Há um enorme descontentamento entre investigadores e professores do ensino superior”, contou à Lusa, apontando que são poucos os que conseguem progredir na carreira e muitos aqueles que trabalham a contrato recebendo muito abaixo do que efetivamente trabalham.
Além disso, “os salários estão estagnados há muitos anos”, porque “a tabela remuneratória não é atualizada desde 2009”, acrescentou.
A presidente do sindicato lamentou que os salários não estejam a acompanhar o aumento do custo de vida, que vai desde a subida das prestações das casas à fatura de supermercado.
A petição lançada esta terça-feira pede a valorização dos salários dos investigadores e professores, através da atualização do índice remuneratório de base das carreiras dos docentes e investigadores.
“O respeito pelo equilíbrio entre, de um lado, tipo, duração e percentagem de contratação e, do outro lado, habilitações académicas e horas de trabalho em docência e investigação nas instituições de ensino superior e ciência públicas e privadas, valorizando a qualificação dos professores e investigadores” é outras das reivindicações que se lê na petição.
Mariana Gaio Alves lembrou ainda os casos “muito gravosos” de quem é contratado a tempo parcial, com salários muito mais baixos, mas que acaba por trabalhar “tanto ou mais do que as pessoas que estão a 100%”. Mariana Gaio Alves defendeu que é preciso acabar com o “desacerto entre as horas de trabalho e salários”.
Segundo a sindicalista, estas situações já foram colocadas à ministra da Ciência Tecnologia e Ensino Superior (MCTES), mas “não houve qualquer resposta” nem “qualquer sinal de intenção de corrigir estes problemas”.
O SNESup lembrou ainda que no final do ano passado, a tutela propôs um protocolo negocial sobre matérias como a negociação do estatuto de carreira cientifica ou os estatutos das carreiras universitária e politécnico mas nesse protocolo negocial não consta a revisão das tabelas salariais.
Perante o “grande descontentamento de falta de respostas do ministério para resolver estes problemas”, docentes e investigadores começam a equacionar realizar uma nova greve: “É uma situação cada vez mais falada e pedida pelos colegas para que se façam ações de greve no ensino superior”.
Segundo os resultados de um estudo realizado pelo economista Eugénio Rosa publicado na página do SNESUp, os investigadores e docentes do ensino superior público perderam em média 10,3% e 11,1% (docentes dos politécnicos) ou 9,8% (docentes universitários) do poder de compra entre janeiro de 2022 e o final de 2023.
O valor nominal dos salários aumenta numa percentagem que ronda os 2%, mas o seu valor real cai abruptamente: “O corte nos salários reais, quando todos os outros preços aumentam, é uma escolha política consciente que faz cair todo o impacto da inflação nos salários”, critica o sindicato na sua página oficial.