Portugal está em linha com “a média do conjunto de países europeus” da Organização Mundial de Saúde (OMS) relativamente ao estado da saúde nas prisões, considera o presidente do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, Henrique Barros.

A análise do epidemiologista — um dos principais especialistas que integrou as reuniões do Infarmed durante a pandemia de Covid-19 — parte do relatório “O Estado da Saúde nas Prisões na Região Europeia da OMS”, que é esta quarta-feira apresentado em Lisboa, defendendo que o documento é “um marco” que pode levar a mudanças nos cuidados de saúde nacionais.

“Há um reconhecimento grande, inclusive da comunidade profissional, de que a saúde das prisões é um complemento essencial da saúde pública e que as prisões (…) são um contexto crítico para, por um lado, criar dificuldades e desigualdades à saúde, mas também pode ser usado da forma oposta, ou seja, para reduzir iniquidades”, explica à Lusa o epidemiologista.

Contudo, Henrique Barros salienta que a posição nacional entre os mais de 30 países que contribuíram com informação para este relatório não deve levar Portugal a uma postura passiva na abordagem à realidade da saúde em contexto prisional.

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“O facto de estar na média não quer dizer que essa média não pudesse ser muito melhor. Por isso, temos ainda de conseguir indicadores mais favoráveis”, refere, acrescentando: “Portugal tem um desafio a que não deve deixar de tentar responder e que é subir a média e ganhar degraus”.

Por outro lado, o especialista assume “um défice” do relatório face à “inexistência de informação” para vários parâmetros. Nesse sentido, aponta como uma possível resposta para este problema a criação de “um registo único de saúde” dos portugueses.

“Se cada português tiver a informação da sua saúde centralizada em si próprio e não espalhada pelos sítios onde vai (por quaisquer razões) utilizando os cuidados de saúde, naturalmente que para as pessoas que estão nas prisões — e assegurando o sigilo e o direito à privacidade — saberemos em cada momento os problemas”, argumenta.

Em relação a alguns dos dados do relatório, que se reportam ao ano 2020, Henrique Barros destaca que apenas 87% dos reclusos diagnosticados com VIH receberam tratamento e que esse indicador fica aquém da população em geral, devendo servir como um exemplo para trabalhar.

“Essa informação — com um nível superior de qualidade — tem de se explicar, identificar barreiras e ultrapassar. Essa será a dimensão de um relatório futuro”, resume.

O relatório da região europeia da OMS sobre a saúde nas prisões vai estar em análise durante os próximos dois dias. A abertura é esta quarta-feira na sede do Infarmed, em Lisboa, num evento em que vão estar o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, a ministra da Justiça, Catarina Sarmento e Castro, e a ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Elvira Fortunato, enquanto o segundo dia decorre quinta-feira no Museu Nacional Soares dos Reis, no Porto.