Um diagnóstico de síndrome de Potter durante a gravidez, um filho que morrerá à nascença e uma impossibilidade de aborto devido às alterações da lei norte-americana. Em novembro, um casal que vive na Flórida, nos EUA, soube que o filho foi diagnosticado com uma doença fatal, que levará a que nasça morto ou que morra pouco tempo depois de nascer, decidiu abortar, mas a legislação não permite.
As mudanças na lei do aborto — que preveem exceções — e a proibição da interrupção voluntária da gravidez após as 15 semanas impossibilitaram a intervenção. Assim, de acordo com o The Washington Post, o casal está a preparar todos os pormenores da morte do filho, que os médicos estimam que aconteça 20 minutos depois do nascimento.
Os últimos meses foram um misto de emoções para Deborah e Lee Dorbert. A gravidez do segundo filho decorria dentro da normalidade quando foram confrontados, devido a um exame de rotina, com o diagnóstico de anormalidades fatais no feto. A síndrome de Potter desenvolve-se durante a gravidez e está associada a malformações criadas pela diminuição do líquido amniótico e que, neste caso, se manifestam em problemas nos rins, com a possibilidade de ausência dos mesmos ou com deformações.
O cenário do aborto foi colocado em cima da mesa, o casal decidiu pôr termo à gravidez, mas acabou por ver as expectativas defraudadas — ainda que haja exceções na lei e que este caso pudesse ser incluído nas mesmas.
A lei em causa abre a possibilidade de aborto em situações de uma “anormalidade fatal” quando dois médicos o certifiquem por escrito e, segundo o jornal norte-americano, não está claro que a legislação tenha sido cumprida, até porque o casal se deparou com a falta de resposta por parte dos médicos em várias circunstâncias.
Um porta-voz do hospital recusou-se a comentar o caso do casal Dorbert ou até a forma como foi interpretada a lei para que o aborto não fosse levado a cabo. E, num e-mail, esclareceu apenas que o estabelecimento “cumpre todas as leis do estado da Flórida”.
A decisão final, depois de vários recuos, adiamentos e algumas esperanças que foram surgindo, obriga o casal a levar a gravidez até ao fim, a ver o filho nascer e morrer pouco tempo depois. “Disseram-nos que havia uma exceção… Obviamente, [é] uma exceção insuficiente em alguns casos”, disse o pai da criança. Ainda foi colocada a possibilidade de o casal procurar uma solução de interrupção da gravidez noutro estado americano, mas a falta de capacidades económicas não o permitiu.
“Fico com raiva que os políticos decidam o que é melhor para minha saúde. Faríamos qualquer coisa para ter este bebé”, desabafou a mãe, que culpa os médicos e os políticos por não ter a possibilidade de pôr fim à gravidez.