“Mariupolis 2”
O autor deste documentário rodado na cidade ucraniana de Mariupol já não está vivo. O realizador lituano Mantas Kvedaravicius foi morto por militares russos em Abril de 2022, pouco tempo depois do início da invasão da Ucrânia. Kvedaravicius já lá tinha estado em em 2015 e feiro um primeiro documentário, “Mariupolis”, sobre os combates entre as forças pró-russas e ucranianas naquela cidade do Donbass. As imagens rodadas em Março de 2022 foram montadas pela companheira e assistente do realizador, Hanna Bilbrova, compondo em”Mariupolis 2″ uma crónica do quotidiano de sobrevivência de um grupo de moradores de um bairro da cidade, após os combates ali terem cessado e passado para outras zonas da mesma. Apresentado sem narração nem comentários, é um documento lacónico sobre o sofrimento dos civis num cenário de guerra, mas também sobre a sua capacidade de resistência e de resposta pessoal e coletiva, no meio dos escombros das suas casas, e dos corpos daqueles que não conseguiram escapar.
“Viver”
Bill Nighy está nomeado para o Óscar de Melhor Actor pela sua interpretação nesta nova versão do filme homónimo de Akira Kurosawa, datado de 1952, e realizada pelo sul-africano Oliver Hermanus, sobre argumento do escritor Kazuo Ishiguro (ele também nomeado à estatueta de Melhor Argumento Adaptado). A história é transposta do Japão do pós-guerra para a Inglaterra do início dos anos 50. Nighy personifica Rodney Williams, um funcionário público londrino habituado a uma vida rotineira e cinzenta, a quem é diagnosticada uma doença terminal, que lhe dá pouco tempo de vida. Não dá a notícia ao filho nem à nora e pensa em suicidar-se, mas muda de ideias. Reencontra então Fiona, uma antiga colega, mais jovem que ele, e que trabalha agora num restaurante, e inspirado pela energia e pela força de vontade da rapariga, Rodney decide deixar algo aos outros depois da sua morte, empenhando-se em desbloquear a construção de um parque infantil cujo processo está parado pela burocracia.
“Nostalgia”
O novo filme do italiano Mario Martone centra-se em Felice Lasco ((Pierfrancesco Favino), que deixou a sua Nápoles natal há 40 anos, era ainda adolescente, para ir trabalhar com um tio no Líbano. Estabeleceu-se mais tarde no Egito, tendo prosperado e casado no Cairo, cortando de tal forma com as suas raízes, que se converteu ao islamismo. Felice regressa a Nápoles para estar com a mãe, já muito idosa e doente, e a cidade que ele reencontra é ainda, em grande parte, a cidade que ele conheceu, com os seus prédios velhos e degradados, as suas ruas labirínticas, os seus acolhedores restaurantes populares, os rapazes montados em motos a zunir de um lado para o outro, e a omnipresença da Camorra, que continua a controlar bairros inteiros, e a ditar a sua lei. Mas Felice guarda um pesado segredo do passado. “Nostalgia” foi escolhido como filme da semana pelo Observador e pode ler a crítica aqui.