Será necessário subir as taxas de juro “de forma significativa” para controlar a inflação na zona euro, avisou Joachim Nagel, governador do banco central alemão e, por isso, membro do Conselho do BCE. É praticamente certo que neste mês de março virá um novo aumento, de meio ponto percentual, mas o alemão descarta completamente a ideia de que essa possa ser a última subida deste ciclo.
Num discurso público esta quarta-feira, citado pela Reuters, Joachim Nagel confirmou que “o aumento da taxa de juro de março, que já foi pré-anunciado, não será o último”.
“Deverão ser necessários mais aumentos significativos depois disso“, afiançou o responsável, visto como um dos membros do Conselho do BCE mais avessos aos estímulos monetários e preocupados com a inflação elevada.
Desde julho de 2022 o BCE aumentou as taxas de juro em 300 pontos-base (três pontos percentuais), elevando a taxa dos depósitos no BCE de -0,5% para 2,5%. Mas para a próxima reunião, marcada para 16 de março, já foi pré-anunciado um aumento provável de mais 50 pontos. O compromisso do BCE é que, com o benefício de um conjunto de projeções económicas atualizadas que será divulgado nessa altura, o banco central irá decidir os próximos passos na política monetária.
Juros e inflação começam a “morder”. Consumo desce e economia perde fôlego
Joachim Nagel recusa “qualquer conversa” sobre descidas das taxas de juro nos próximos tempos, sobretudo porque a inflação continua muito elevada. Mesmo com uma tendência de descida da medida global da inflação, muito graças à correção nos preços da energia, os analistas têm apontado para o facto de a inflação subjacente – que exclui energia e alimentos não-transformados – estar em 5,3% e, assim, continuar a evidenciar fortes pressões inflacionistas na zona euro (designadamente nos salários).
As taxas de juro têm de subir e, depois, continuar elevadas até que se atinjam perspetivas de inflação mais alinhadas com o objetivo de 2%, defendeu o alemão.
O BCE poderá subir a taxa de juro até aos 4%, passaram na terça-feira a antecipar os investidores que participam nos mercados de futuros de taxas de juro. É a primeira vez em mais de uma década que estes mercados descontam um nível de taxa de juro tão elevado na zona euro, depois de os dados da inflação em Espanha e em França, divulgados na terça-feira, terem reforçado a ideia de que o banco central ainda terá várias subidas da taxa de juro pela frente.