As autoridades já demoliram uma das oito construções ilegais que vão ser esta segunda-feira deitadas abaixo no bairro do Talude, Catujal, concelho de Loures, avançando para a segunda casa, sob forte aparato policial, disse fonte da associação Habita.

Cerca das 14h25 uma das barracas ilegais já tinha sido demolida, indicou à agência Lusa Maria João Costa, da associação Habita, que desde a manhã tem estado no local a dar apoio às famílias que foram notificadas do despejo e demolição das suas casas, agendados para esta segunda-feira.

“Estão a começar agora a destruição da segunda barraca”, disse, acrescentando que os pertences foram colocados “à chuva” pelos funcionários da câmara, enquanto as máquinas avançavam sobre os “20 metros quadrados onde as pessoas tinham toda a sua vida”.

Apesar de, durante a manhã, os moradores, juntamente com membros de associações terem impedido as máquinas de avançar sobre as construções, Maria João Costa explicou que houve um reforço das autoridades, com a chegada ao local de “dois batalhões de polícia de choque”.

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“Na semana em que o primeiro-ministro anuncia medidas para a habitação, o Estado decide atacar os mais fracos dos mais fracos”, denunciou.

A responsável acrescentou também que, durante a manhã, foram ao local técnicas da Segurança Social que questionaram as pessoas se aceitavam ir para um abrigo temporário.

“Eu ouvi uma dessas conversas e, quando a pessoa perguntou onde seria, a técnica respondeu-lhe que ainda não sabia, dependeria das vagas”, afirmou, criticando o facto de que “com o despejo marcado para hoje, a Segurança Social, ainda não sabe onde vai alojar as pessoas”.

A associação Habita denunciou o despejo de várias famílias no bairro do Talude, que travaram durante toda a manhã as máquinas que iam demolir as barracas, aguardando uma solução de habitação definitiva.

Em declarações à agência Lusa, o missionário da paróquia de Camarate José Manuel explicou que sete famílias foram notificadas de que as suas casas iam hoje ser demolidas, avançando que “ao certo há mais 20 ou 30 barracas, só que sete famílias é que receberam a ordem de demolição”.

De acordo com o missionário, as pessoas “puseram-se à frente das máquinas e não as deixaram avançar”.

De acordo com o missionário, representantes do trabalho social da autarquia explicaram aos habitantes que “ainda não tinham uma solução [de realojamento] definitiva, mas só provisória”, pelo que “as pessoas ficaram assustadas e mandaram chamar um representante da câmara”.

Depois disso, a Câmara Municipal de Loures disse que vão ser demolidas oito construções ilegais no bairro do Talude e que as oito famílias em causa estavam a ser analisadas pela Segurança Social para serem encaminhadas para um abrigo de emergência.

“A Câmara Municipal de Loures está a levar a cabo a demolição de oito construções ilegais na localidade do Catujal, oito famílias que foram devidamente analisadas e encaminhadas para os serviços da Segurança Social, oito famílias que residem há meses naquele local e que construíram aquelas barracas”, começou por explicar à Lusa a vice-presidente da autarquia, Sónia Paixão.

De acordo com a responsável, a ação insere-se na política de habitação que o executivo municipal está a levar a cabo “de grande fiscalização no território de forma a não permitir a construção de novas habitações desta índole”.

Sónia Paixão referiu que os casos foram “devidamente assinalados há mais de uma semana e providenciados os mecanismos de apoio existentes”, a cargo da Segurança Social que é quem tem a responsabilidade de abrigo de emergência, de acordo com a responsável.

Sónia Paixão acrescentou também que “dos oito, há dois casos que estão a ser analisados cumulativamente pelos serviços da câmara porque cumprem, eventualmente, requisitos à luz do regulamento de habitação”, apesar de agora poderem ser acolhidos num abrigo de emergência.

De acordo com a Habita, em causa estão cinco agregados familiares, “com mulheres chefes de família que cuidam sozinhas dos filhos”, incluindo-se no grupo “uma mulher grávida doente” que aguarda vaga para uma operação cardíaca, além de “um senhor idoso e muito doente, e também cinco menores de idade e dois recém-nascidos”.

“A maioria são pessoas desempregadas em situação de procura de emprego. Mas há também mulheres empregadas formalmente cujo rendimento não é suficiente para aceder a uma habitação”, refere a nota da associação.

Segundo a Habita, várias organizações estão presentes no local e opõem-se “à barbárie do sistema que apenas defende a propriedade e o lucro e atira as pessoas para situações cada vez mais insustentáveis de pobreza e para a rua”.

A associação refere ainda que estas famílias, ao não terem conseguido encontrar uma opção de habitação “não tiveram outra alternativa que não fosse construir uma barraca”.

“Este é o país que voltou a atirar as pessoas para situações em que não lhes resta outra opção que não a construção de barracas”, pode ler-se na nota, que acrescenta que as famílias do bairro do Talude, “como todas as pessoas, têm de ter acesso a uma habitação adequada, não são elas as responsáveis de viverem numa barraca, mas as políticas que incentivam à inacessibilidade da habitação”.

“Enquanto o Governo nos entretém com o lançamento caótico e atabalhoado de medidas para habitação que falham redondamente por não abordarem os problemas fundamentais e as causas da crise de habitação, nem criarem medidas imediatas de estancamento da crise, os despejos e a emergência habitacional continuam a fazer-se sentir, e as pessoas são atiradas para a rua pelo próprio Estado”, denuncia a Habita.