O Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social garante que não tinha informações sobre o lar Delicado Raminho, no Vimeiro, Lourinhã, mas depois de este domingo à noite ter sido emitida uma reportagem a dar conta dos alegados maus-tratos a que serão submetidos os idosos lá residentes, Ana Mendes Godinho já deu ordem à Segurança Social para que proceda a uma “inspeção imediata” do lar.

A notícia está a ser avançada pela SIC Notícias, que este domingo à noite deu voz a vários funcionários e ex-funcionários do lar privado, com licença de funcionamento, que denunciaram alegadas más práticas de funcionamento, e exibiu as imagens chocantes dos corpos feridos e, em alguns casos, subnutridos dos utentes.

Esta segunda-feira de manhã, pelas 10h30, a reportagem do canal no local deu conta da chegada dos inspetores da Segurança Social ao lar, a que entretanto acorreram vários familiares de utentes, alertados pela atenção mediática.

As denúncias apontam para tratamentos que não são feitos, pensos que ficam por mudar, e banhos que são dados com balde e, na maior parte das vezes, com água fria ou aquecida em panelas, por causa de uma “caldeira problemática”. “Já chegámos a ficar 15 dias sem água quente na época da Covid”, revelou uma funcionária, sob anonimato. Uma utente, também sob anonimato, queixou-se do frio e do facto de não existir aquecimento central.

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De acordo com vários trabalhadores do lar, para além de as condições de higiene serem deficitárias, de faltarem produtos tão básicos como papel higiénico e de não existir sequer detergente para lavar a roupa — o que tem feito com que lençóis e afins sejam apenas passados por água, mesmo quando sujos de urina ou até fezes —, os funcionários têm ordens para “economizar” ao máximo os materiais que utilizam, mesmo que sejam descartáveis e de uso individual, como luvas ou lâminas de barbear.

Cada funcionária recebe uma caixa de luvas com 100 luvas e essas luvas são as mesmas, usadas de pessoas para pessoas”, explicou a mesma funcionária. “São vários os utentes tratados com as mesmas luvas. Quem troca a fralda, por exemplo, troca as fraldas de todos os outros utentes com as mesmas luvas. Não são deitadas fora enquanto não se acaba o trabalho ou enquanto não estiverem rasgadas.”

A alimentação, apontam as denúncias, também está longe de ser considerada satisfatória e terá na farinha de trigo a sua principal base. Sendo que os utentes acamados comem “tudo passado”: “O pequeno-almoço é papa feita com farinha de trigo, adoçante e água; o almoço é feito com os restos do jantar, com a sopa do jantar do dia anterior triturada com pão e água”.

“A sopa não tem batata, não tem cenoura, não tem abóbora, não tem os legumes necessários para ser nutritiva. A farinha de trigo é constante, é nas papas, é no pão, é sempre restos”, acusou Nilcela Pereira, cozinheira e ex-funcionária do lar.

Abordada pela SIC, a diretora técnica do lar não se mostrou disponível para prestar declarações. O proprietário do Delicado Raminho, que é o mesmo do Lar Peninsular, no Montijo, que também foi alvo recente de uma reportagem do canal, com vários funcionários a dar conta de um cenário de “caos” em que os utentes chegarão a “gritar com fome”, também não.

Entretanto, a Iniciativa Liberal já disse também que quer ouvir, com urgência, a ministra Ana Mendes Godinho sobre o assunto, alegando que  “o Estado tem de cumprir a função de fiscalização dos lares”.

Em média, cada utente do lar Delicado Raminho, paga 1.500 euros por mês. Neste momento, serão cerca de 60 os idosos residentes no lar, com capacidade para 78 pessoas. De acordo com a SIC, o lar emprega apenas cinco funcionários.

A página de Facebook do lar, que, segundo a SIC , enaltecia as “grandes áreas para o bem-estar e conforto dos idosos” da instituição, está esta segunda-feira de manhã indisponível.