Gary Lineker abanou o tapete e o pó pairou no ar numa nuvem de polémica quando o antigo internacional inglês comparou a lei da imigração do Reino Unido à Alemanha de Hitler. Desde que o Brexit se consumou, o governo conservador britânico tem endurecido as políticas de imigração e desenvolvido no país um sistema baseado na atribuição de pontos: quantos mais um candidato ao título de residência conseguir reunir, mais facilmente vai conseguir um visto de permanência. Um dos aspetos mais valorizados no modelo instalado após a saída da União Europeia é o nível de qualificação dos potenciais imigrantes.
Os jogadores internacionais que se desejem transferir para o país têm que obter um certificado atribuído pela federação inglesa (FA) que só pode ser atribuído, segundo as normas governamentais, através da obtenção de 15 pontos. Os critérios aplicados para os futebolistas não são os mesmos que são tidos em consideração num médico ou num engenheiro. No caso dos jogadores, valoriza-se o número de internacionalizações, o número de jogos nas competições domésticas e o nível do campeonato onde joga.
Se continua a ser fácil para os melhores jogadores portugueses jogar na Premier League? Assim os clubes queiram, sim. Basta um jogador ter participado em 30% dos jogos da Seleção Nacional (nona do ranking FIFA) para estar automaticamente ilegível para a obtenção de um visto. O mesmo não acontece com um jogador que represente o Canadá (53.º país do ranking FIFA), pois, mesmo que realize todos os jogos pela sua seleção, vai somar apenas dois pontos.
Premier League anuncia regras sobre contratações de jogadores no pós-Brexit
Ainda assim, a Liga Portuguesa não é o melhor sítio para um jogador estar se quiser rumar à Premier League uma vez que os campeonatos tidos em melhor conta são o alemão, o espanhol, o italiano e o francês. Apesar de tudo, o Campeonato Nacional aparece num segundo lote estabelecido com base na classificação das ligas domésticas em que as melhores competições são os locais onde existe maior facilidade em contratar jogadores, ao contrário do que acontece com os campeonatos de Polónia ou Sérvia, por exemplo, que são tidos como de menor nível.
Este conjunto de critérios tem limitado a ação dos clubes da Premier League, uma das ligas mais poderosas financeiramente, pois as equipas consideram que estão impedidas de investir livremente em jogadores por motivos que ultrapassam a qualidade individual do atleta que querem obter. Deste modo, conta a Sky Sports, a Premier League tem pedido o alívio das medidas em contraste com a FA que defende a opinião contrária de que a contratação de estrangeiros deve ser limitada.
Recuperando a convocatória do selecionador inglês para o Mundial de 2022, que decorreu no Qatar, Gareth Southgate elegeu Jude Bellingham, do B. Dortmund, como único jogador “estrangeiro”, isto é, a jogar fora do país. É comum a equipa da Inglaterra ser composta maioritariamente por jogadores que atuam na Premier League.
Só que há uma preocupação a surgir dentro da FA que é a diminuição do número de minutos dos jogadores jovens no campeonato inglês, o que, na ótica do organismo federativo, pode comprometer a sustentabilidade do futebol no país. A FA argumenta junto da Premier League que os jovens com idades abaixo dos 21 anos na Liga Francesa somam mais de 70.000 minutos, enquanto que os da Liga Inglesa não vão além dos 20.000 e, por isso, as medidas migratórias não podem ser aliviadas sob pena dos jogadores mais novos ficarem sem espaço para competirem.
Ao canal britânico, fontes revelam que, além referir que competir na Liga Inglesa tem mais impacto na carreira dos jovens talentos do que na Liga Francesa, mesmo que tenham menos minutos, a Premier League que esclarece que uma em cada sete transferências que levaram jogadores para o patamar mais alto do futebol inglês na última década não teriam acontecido se as regras existissem há mais tempo. Isto significa que Mahrez, Martinelli, Mac Allsiter ou Mitoma não estariam aptos a assinar por clubes em Inglaterra.
Ao mesmo tempo, depois do Brexit, as equipas inglesas deixaram de poder contratar jogadores vindos do exterior com idade abaixo dos 16 anos. Desse modo, ficam a perder para outros grandes europeus que podem apostar em jovens promessas.