Quem entrar nos próximos dias na loja Kinda na Rua Maria Ulrich, em Lisboa, vai dar de caras com a exposição “Daciano da Costa — Pai do Design em Portugal”, onde podem ser vistas algumas das peças icónicas desenhadas pelo arquiteto português ao longo de uma carreira de várias décadas. Fica no edifício Diana Park, mesmo em frente às Amoreiras, aquele onde, durante muitos anos, existiu uma famosa Zara.

Esta exposição insere-se numa parceria desenvolvida entre a cadeia de decoração e o atelier de Daciano da Costa, que foi lançada oficialmente esta sexta-feira, 17 de março. Fica por ali até dia 30 deste mês e ruma mais tarde à Kinda do Porto, na Rotunda dos Produtos Estrela, onde vai ficar entre os dias 13 e 18 de abril.

“Foi uma feliz coincidência”, adianta ao Observador Patrícia Bentes. Há três anos a trabalhar como diretora-criativa da Kinda, já tinha falado a John Leitão, diretor-geral da marca, sobre a possibilidade de virem a reeditar peças de design português, como fazem tantos projetos internacionais de retalho com os seus designers compatriotas.

A exposição inclui uma réplica da sala do arquiteto, com peças desenhadas pelo próprio, incluindo o quadro

Patrícia trabalhou 23 anos na marca de decoração Área e foi durante esse percurso que veio a conhecer Ana e Inês Cottinelli, filhas de Daciano da Costa. Foi a última que, nesse acaso antes mencionado, lhe enviou recentemente um email a perguntar se estaria interessada em marcar uma reunião. “Eu disse: ‘John, tu não vais acreditar no que acabou de nos acontecer”.

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Passados oito meses, a parceria está materializada. Algumas peças do atelier Daciano da Costa, que tem uma pequena casa permanente na Lapa, estão agora expostas pela primeira vez num ambiente de retalho na loja da cadeia portuguesa, onde se podem ver, por exemplo, a cadeira Alvor, o cinzeiro Altis, as cerâmicas Palace e a estante Práctica, que está agora à venda na loja online da Kinda.

A exposição “Daciano da Costa – Pai do Design em Portugal” vista da rua

“A estante Práctica é o ‘produto cartaz’, vamos chamar assim”, explica John Leitão. Desenvolvida na década de 1970 em estreita parceria com a Metalúrgica da Longra, é uma peça modular disponível em várias cores e que se pode transformar numa “quantidade infindável de soluções”, segundo os responsáveis.

E porquê tornar a Práctica na peça-chave? “É um produto mais democrático”, adianta John. “É o mais interessante para o nosso público-alvo. O nosso posicionamento é affordable luxury, tentamos que as pessoas possam comprar um sonho a um preço acessível.”

O que acontece, concretamente, é que a estante está disponível nos canais de venda da Kinda, tendo cada um dos seus módulos um custo que varia entre os 680 e os 780 euros. Embora as outras peças não existam para venda imediata, podem também ser pedidas por encomenda.

As cores da reedição da Práctica foram escolhidas com base naquelas que o autor usava no seu mobiliário

As cores da reedição da Práctica foram escolhidas com base naquelas que o autor usava no seu mobiliário

“São peças únicas, de museu”, declara John sobre estas. “É um caminho que se faz devagarinho”, acrescenta Patrícia. “Portugal infelizmente não tem a tradição de celebrar as suas estrelas. Uma das nossas funções é mudar esse paradigma, porque é essencial puxarmos por aquilo que é nosso.”

A Casa da Música, o Hotel Altis, os interiores da Gulbenkian e o Casino Park Hotel, na Madeira, são apenas alguns dos espaços emblemáticos em que Daciano da Costa trabalhou ao longo de uma carreira de mais de 50 anos, e durante a qual colaborou com astros da arquitetura internacional, como Oscar Niemeyer. Foi dos projetos com edifícios públicos que surgiram algumas das mais importantes peças do pai do design português.

A icónica cadeira Alvor pode ser encomendada nas lojas Kinda

“Foi a primeira pessoa que começou a fazer design industrial em Portugal”, comenta John. “Ele fez esse caminho nos anos 60 e 70. A Kinda é um negócio, primeiro, mas também temos de prestar algum valor à sociedade. O nosso papel aqui é como promotores da marca, porque estas peças não chegam ao público.”

Patrícia descreve este papel da marca como “pedagógico”. E conclui: “Nós não celebramos muito o talento nacional, a não ser no futebol. É mesmo assim. A Joana Vasconcelos não é consensual, mas o que aconteceu com a Dior [a criação de uma instalação para a Semana da Moda de Paris] foi genial e foram poucas as pessoas que o celebraram.”

Artista Joana Vasconcelos instala Valquíria no desfile da Dior da Semana da Moda de Paris