Uma mulher conhecida como “Paciente de Nova Iorque” recebeu tratamento para o Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH) e atingiu os 30 meses livre do vírus. Para tal, foi utilizado um tratamento à base de transplante de células-mãe, oriundas do cordão umbilical.

Esta é a quarta vez que uma pessoa com VIH fica curada do vírus com recurso a células-mãe, embora seja a primeira mulher curada. O resultado foi apresentado esta quinta-feira na revista científica Cell. O processo de tratamento com recurso a células-mãe tinha já resultado na cura do VIH nos pacientes “Berlim”, “Londres” e “Dusseldorf”.

Estamos a chamar-lhe uma possível cura em vez de uma cura definitiva — basicamente esperamos por um período mais longo ou por um seguimento”, explicou esta quarta-feira Yvone Bryson, diretora do Consórcio para a SIDA Los Angeles-Brasil, na Universidade da Califórnia, em Los Angeles.

Terceiro caso de paciente curado do VIH com transplante. Há quatro anos que não tem sinais do vírus

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Atualmente, segundo explicou à Live Science Deborah Persaud, diretora de doenças infeciosas pediátricas na Universidade Johns Hopkins, não existe distinção oficial entre estar curado ou estar em remissão a longo prazo. A paciente recebeu um transplante de células estaminais em agosto de 2017, e deixou de tomar medicamentos para o VIH três anos depois, estando há cerca de dois anos e meio sem tomar qualquer medicamento.

Todos os pacientes tratados anteriormente através deste processo receberam células estaminais  de medula óssea de dadores adultos que apresentam duas cópias de uma rara mutação genética. Esta mutação altera o acesso do VIH nos glóbulos brancos, bloqueando a entrada do vírus. Após o transplante, as células estaminais do dador substituem as antigas células do sistema imunitário do paciente, passando a existir uma resistência ao VIH.

Assim como nos restantes casos, a “Paciente de Nova Iorque” tinha VIH e cancro, e realizou quimioterapia antes do transplante de células estaminais. Ao contrário dos pacientes “Berlim”, “Londres” e “Dusseldorf”, a paciente recebeu células estaminais provenientes do sangue de um cordão umbilical que continha os genes resistentes ao VIH — o sangue do cordão umbilical foi doado pelos pais do bebé que tinha o gene. O tratamento teve de ser complementado com recurso a células estaminais da medula óssea de um dador da família, uma vez que as células estaminais do cordão umbilical eram em menor número.

Embora tenha sido necessário complementar o processo, é mais fácil aceder a sangue do cordão umbilical do que a medula óssea de um adulto, além de ser mais fácil haver uma “correspondência” entre o dador e o paciente, pelo que este processo deverá tornar-se comum no futuro.

O novo tratamento, contudo, só deve ser viável, segundo Yvone Bryson, em pessoas que apresentem uma segunda doença grave — como o cancro — uma vez que envolve a eliminação do sistema imunitário do paciente.