A convocatória começou a circular nas redes sociais logo na manhã desta terça-feira. “Mais determinados do que nunca”, os sindicatos franceses pediam à população para se reunir na Place de la République, em Paris, às 18h00.

O “ambiente bem-humorado” que era relatado por um jornalista do Le Parisien rapidamente deu lugar a mais um dia de confrontos entre a polícia e os milhares que manifestantes contra o aumento da idade da reforma dos 62 para os 64 anos.

Foram cerca de duas horas calmas até ao aumento da tensão, que culminou com 50 detenções entre a noite de terça-feira e a manhã desta quarta-feira em Paris (número mais baixo do que o desta segunda-feira, quando foram registadas 234 detenções). Vidros partidos começaram a ser atirados às autoridades francesas, ao som de cânticos como “todos odeiam a polícia”. As autoridades responderam com o lançamento de gás lacrimogéneo.

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O responsável pela polícia da capital francesa, Laurent Núñez, disse esta quarta-feira à rádio France Info que os agentes não realizam detenções preventivas, respondendo a acusações da oposição de esquerda que censura a polícia por alegadas práticas intimidatórias.

O Le Monde explica que os primeiros confrontos do dia começaram quando multidão quis tomar a rue du Faubourg-du-Temple (rua que começa na Place de la République e sobe até o Boulevard de la Villette), tendo sido bloqueada pela polícia.

No meio dos confrontos, muitos foram os manifestantes que deixaram a Place de la République para, gradualmente, começarem a ocupar as ruas adjacentes. O lema continua o mesmo: “Todos odeiam a polícia”.

Nas últimas horas da noite desta terça-feira, a Place de la République ficou vazia, com os focos de tensão a concentrarem-se noutros locais em Paris, nomeadamente da Place de la Bastille. Ao Le Parisien, um polícia referiu que dos 3.500 manifestantes que se reuniram na Place de la République muitos foram, com o passar das horas, abandonado o local que foi alvo de protestos “muito mais quentes” na noite de segunda-feira.

O lixo continua a acumular-se nas ruas de Paris e outras grandes cidades, sem se acreditar que, nos próximos dias, exista uma mudança de cenário. A assistir às manifestações ao longe, Léna, que recolheu lixo durante três meses em Angers (cidade francesa), não percebe como é que o governo do país consegue imaginar “que aqueles que acordar todos os dias às 5 da manhã poderão trabalhar” durante mais tempo. “É atroz”, considera em declarações ao jornal francês, explicando que se encontrava na manifestação pelos seus pais, que estão a chegar aos 60 anos e que não “duram até aos 64” a trabalhar.

Os sindicatos franceses convocaram uma nova greve para a próxima quinta-feira contra a lei das pensões que pretende mudar a idade mínima da reforma. A decisão chegou quando o governo francês recorreu ao artigo 49.3 da Constituição (que prevê que uma lei possa ser aprovada sem passar pela Assembleia Nacional) para aprovar a lei de reforma do sistema de pensões. A revolta referente a esse artigo particular da Constituição foi expressa pelos manifestantes que o ‘incendiaram’ durante os protestos.

Notícia atualizada às 10h52 do dia 22 de Março