A Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP) alertou esta quinta-feira para o estigma que ainda existe associado à tuberculose e para a importância do trabalho em rede entre profissionais de saúde, associações de doentes e outras organizações para o contrariar.

Numa nota divulgada a propósito do Dia Mundial da Tuberculose, que se assinala na sexta-feira, a SPP considera fundamental incentivar estas parcerias para melhorar as condições económicas e sociais, que funcionam como fator de risco.

Citadas no comunicado, Maria da Conceição Gomes e Joana Carvalho, da Comissão de Trabalho da Tuberculose da SPP, lembram que as estruturas da comunidade “complementam o SNS [Serviço Nacional de Saúde] e podem facilitar o seu acesso”, sublinhando que os dados mais recentes indicam um aumento de dias entre o aparecimento de sintomas e o diagnóstico, o que aumenta o risco de contágio.

Os dados oficiais relativos a 2021, apresentados esta semana, referem que o número de casos de tuberculose notificados por 100 mil habitantes em Portugal diminuiu, mas o ritmo da redução abrandou e o diagnóstico ainda é tardio.

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Segundo o relatório de monitorização e vigilância publicado pelo Programa Nacional para a Tuberculose (PNT), da Direção-Geral da Saúde (DGS), a mediana de dias até ao diagnóstico agravou-se em 2021, passando para 86 dias (79 dias em 2020), tendo igualmente aumentando o número de dias de atraso atribuíveis ao utente.

Os autores do documento antecipam inclusive dificuldades nos próximos anos para atingir as metas da Organização Mundial de Saúde (OMS) na área da tuberculose, tendo em conta o atual contexto epidemiológico e socioeconómico.

A SPP lembra que, entre as razões da elevada demora atribuída ao paciente, estão fatores como ser estrangeiro e ser dependente de álcool, acrescentando que esta demora foi superior na região de Lisboa e Vale do Tejo.

Quanto maior a demora no diagnóstico, mais aumenta a transmissibilidade do caso que ainda não foi tratado, e quanto mais tempo demora a ser tratado mais probabilidade tem de desenvolver doenças mais severas e tornar-se num caso mais difícil de tratar, o que pode levar até a mortalidade”, avisa.

Maria da Conceição Gomes e Joana Carvalho alertam igualmente para o facto de ainda existir no nosso país “um estigma da chamada peste branca que mata”.

O nosso papel é apoiar o indivíduo e as organizações na sensibilização para o diagnóstico da doença e também para a elevada taxa de cura. Importa investir na literacia dos profissionais de saúde, dos cuidadores e dos doentes”, defendem.

Para facilitar as pontes entre profissionais de saúde, associações de doentes e outras organizações da sociedade civil, incentivando o trabalho em rede e promovendo a literacia, a SPP vai promover, dia 24, três ações: na Escola Profissional Gustave Eiffel (Amadora), no Centro de Acolhimento para Refugiados (CAR 2), em Loures, e no Centro de Acolhimento de Emergência Municipal de Santa Bárbara (Lisboa).

Os concelhos onde vão decorrer estes encontros são três dos que mais se destacam no distrito de Lisboa no que se refere à taxa de notificação no período 2017-2021: Amadora teve 34,9 casos/100.000 habitantes, Loures 29,5 e Lisboa 28,7.

A tuberculose tem cura, os medicamentos são gratuitos. É fundamental o trabalho em rede na resposta integrada para o fim da tuberculose”, reforçam as médicas pneumologistas.