A evolução é evidente entre todos os dados, as assistências apenas confirmam todos esses dados. A equipa feminina do Benfica jogava apenas pela quinta vez no Estádio da Luz depois do jogo particular realizado com o Corunha em 2018 mas o número de pessoas nas bancadas era um bom espelho não só para a ascensão da modalidade no país mas também da ligação dos adeptos ao conjunto encarnado: sempre contra o Sporting, no Campeonato ou na Taça de Portugal, os espectadores foram aumentando de 8.000 para 12.000, de 12.000 para 14.000, de 14.000 para os 15.032 registados no dérbi de janeiro. Agora, havia novo recorde à vista. Mais do que isso, a afluência às bilheteiras para o encontro fazia prever a presença de quase 30.000 pessoas num dia marcado também pelos jogos de outras modalidades. Era mais história a caminho da história.

Depois das séries consecutivas a ganhar no passado de Boavista (dez Taças Nacionais/Campeonatos entre 1985 e 1995) e 1.º de Dezembro (11 Campeonatos entre 2002 e 2012), esta poderia ser a primeira vez que uma equipa conseguia vencer em três temporadas consecutivas. Um triunfo do Benfica ainda não assegurava de forma automática essa façanha mas a vantagem tornava-se de tal forma grande em relação a Sp. Braga e Sporting que seria mesmo uma questão de tempo. Os números, esses, estavam do lado das encarnadas, que levavam sete vitórias consecutivas no dérbi entre Campeonato, Taça de Portugal, Taça da Liga e Supertaça, os últimos cinco na presente época e com goleadas no último três: 5-0 nos quartos da Taça de Portugal, 4-1 na primeira mão das meias da Taça da Liga, 4-2 na segunda mão das meias da Taça da Liga.

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Um desnível como nunca, um número para sempre: Benfica goleia Sporting na Luz em dia histórico para o futebol feminino português

“O futebol é mutável, está sempre dependente de vários fatores. Não podemos só olhar para o que ficou para trás. As jogadoras passam por momentos diferentes, o Sporting também tem alterado algumas coisas. Nunca é uma equação fixa, está sempre dependente de variáveis, e presumo que será um desafio bastante diferente. Motivação? Atingirmos os objetivos a que nos propusemos no início da época, ou seja, ganhar tudo”, frisava Filipa Patão, treinadora do Benfica, que não poderia contar com a capitã Pauleta por lesão (grave). “As duas equipas conhecem-se muito bem mas temos de nos focar em nós, naquilo em que temos de melhorar e crescer. Vamos tentar dar a melhor imagem possível do Sporting, que é um clube que luta muito e que faz muito com pouco, melhor do que no último jogo”, destaca Mariana Cabral, treinadora do Sporting.

E tudo Kika Nazareth mudou: Benfica goleia Sporting com reviravolta no prolongamento e conquista Supertaça feminina

Se os primeiros duelos entre Sporting e Benfica no futebol feminino desde outubro de 2019 eram marcados pelo equilíbrio e até mais vitórias das verde e brancas, os últimos dois anos provocaram uma viragem nesse rumo com a balança a pender de longe para as encarnadas. Ainda assim, esse era sobretudo o reflexo de toda uma campanha e não de uma especial apetência para dérbis: olhando para os números das águias esta época, e tirando a fase de grupos da Liga dos Campeões (duas vitórias com o Rosengard, quatro derrotas frente a Barcelona e Bayern), eram 25 vitórias e um empate em 26 encontros, 100% de sucesso no Campeonato e um total de 128 golos marcados e apenas 13 consentidos. Agora, pela primeira vez na época, veio a derrota. Mas, tão ou mais importante, o recorde da maior assistência num jogo feminino foi largamente batido (27.211, quase o dobro do anterior máximo), com os dez minutos antes do apito inicial já com Rui Costa na tribuna a serem muito semelhantes ao que se passa no futebol masculino entre o hino e a habitual animação.

Ao contrário do que aconteceu no último encontro da Taça de Portugal na Luz, o Benfica foi tendo mais bola e um maior domínio territorial mas as duas grandes oportunidades da partida começaram por ser das leoas, com a jovem brasileira Maiara Niehues a obrigar Rute Costa a uma grande intervenção no chão após canto (2′) antes de Chandra Davidson levar também a guarda-redes encarnada a nova defesa com nota artística num remate cruzado na área (20′). Pelo meio, as encarnadas ainda viram um golo anulado a Jéssica Silva na sequência de mais um canto trabalhado marcado por Carole Costa com desvio do segundo para o primeiro poste (12′). Hannah Seabert ainda teria um desvio importante após cruzamento de Jéssica Silva que impediu que Ana Vitória inaugurasse o marcador (40′) e o intervalo chegaria mesmo sem qualquer golo.

As duas equipas mexeram ao intervalo, com o Benfica a procurar mais presença no meio-campo com Christy Ucheibe no lugar de Andreia Faria e o Sporting em busca de mais qualidade de posse com Brenda Pérez em vez de Chandra Davidson. E a segunda parte até começou com um bom remate de Andreia Norton para defesa de Seabert (46′) e nova grande defesa da norte-americana a cabeceamento de Cloé Lacasse ao segundo poste após cruzamento de Jéssica (60′). No entanto, em mais uma transição que procurava desequilíbrios encarnados pelo balanceamento ofensivo, foram as leoas que inauguraram o marcador por Maiara Niehues, num remate cruzado após passe de Ana Capeta (62′). Apesar da insistência, mesmo sem muitas chances de perigo a não ser mais um remate de Cloé Lacasse após assistência de Kika Nazareth que Seabert voltou a travar (89′), o Benfica não conseguiu evitar o primeiro desaire mas mantém nove pontos de avanço na frente, ao passo que o Sporting quebrou uma série de sete derrotas consecutivas em dérbis lisboetas.