Os livros de Agatha Christie no Reino Unido, publicados pela Harper Collins, foram alterados para responder às “sensibilidades modernas”, avança o jornal Telegraph. A escritora inglesa é a autora das histórias de Miss Marpple e Hercule Poirot.
Histórias destas personagens famosas terão passagens dos seus textos originais alterados ou mesmo retirados em novas edições da Harper Collins. Segundo a publicação britânica, que afirma ter tido acesso a versões digitais dos títulos revistos, uma passagem em que uma turista britânica desabafa frustrações sobre um grupo de crianças ou comentários relativos ao aspeto físico de personagens são exemplos de partes de texto que foram eliminados. Referências a “nativos” foram retiradas e substituídas pela palavra “locais”.
Também terão sido eliminadas passagens com descrições, insultos e referências a etnias, especialmente em relação a personagens que os protagonistas encontram fora do Reino Unido. No livro O Misterioso caso de Styles, de 1920, foi retirada uma frase em que Poirot se refere a uma personagem dizendo: “É judeu, claro”. Neste livro terão sido também omitidas referências a ciganos. O termo “oriental”, referindo-se a personagens, terá sido apagado
A própria narrativa da autora, em monólogos de Miss Marple ou Poirot, terá sido alterada. Partes de diálogos de personagens antipáticas também foram cortadas. O Telegraph dá um exemplo do livro Morte no Nilo de 1937, um mistério de Poirot que tem como cenário um cruzeiro naquele rio. A personagem Mrs. Allerton refere-se a um grupo de crianças que a estava a importunar dizendo: “Eles voltam e ficam a olhar, a olhar, e os seus olhos são simplesmente nojentos, e também os seus narizes, e não me parece que goste de crianças”. Na nova versão pode ler-se: “Eles voltam e ficam a olhar, a olhar. E não me parece que goste de crianças”.
A editora Harper Collins fez novas novas edições de toda a série de livros da personagem Miss Marple, assim como de algumas obras de Poirot. Algumas destas novas edições das obras da autora estão prontas para serem lançadas, outras já começaram a chegar ao mercado em 2020. Fontes da editora disseram que esta faz alterações baseando-se nas conclusões apresentadas por grupos de trabalho focados na sensibilidade dos leitores e de que como esta pode ser afetada, segundo o jornal britânico.
Os leitores de sensibilidade são um fenómeno recente no meio editorial e que cresceu nos últimos dois anos. O seu trabalho consiste em examinar publicações recentes e antigas para detetar linguagem ou descrições que possam ser ofensivas com o objetivo de melhorar a diversidade na indústria editorial, segundo explica o jornal Guardian, e acrescenta que algumas destas pessoas recebem recebem salários muito baixos.
O jornal lembra que o conteúdo da obra de Agatha Christie nunca havia sido alterado. À exceção do livro de 1939 And Then There Were None, cujo primeiro título que foi alterado em 1977 por conter um termo racista. Os direitos de autor sobre os livros e filmes da autora estão sob a alçada da Agatha Christie Limited, gerida por James Prichard, neto da escritora. Nem a empresa nem a editora responderam ao pedido de comentário por parte do Guardian.
Agatha Christie escreveu as suas obras entre 1920 e 1976 e é a mais recente autora a ter as suas obras reeditadas segundo padrões daquilo que é descrito como “sensibilidade atual”, uma vez que os livros de Roald Dahl e Ian Fleming também foram alterados recentemente. As obras da escritora continuam a ser populares na atualidade. Ao longo de vários anos foram adaptadas para telefilmes, séries e cinema. O mais recente foi “Morte no Nilo”, que chegou aos cinemas em 2022.
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Este artigo foi atualizado às 15h30 com a informação sobre os leitores de sensibilidade, explicada pelo jornal The Guardian.