A TAP cancelou uma pré-reforma “ilegal” atribuída durante a gestão privada a um ex-administrador que foi levado para a administração da companhia na sequência da privatização realizada em 2015. Maximilian Otto Urbahn entrou na TAP por iniciativa do investidor americano David Neeleman. A empresa já pediu a devolução de 1,35 milhões de euros pagos ao abrigo deste contrato entre 2019 e 2022. O caso foi revelado pela deputada do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, na comissão parlamentar de inquérito à gestão pública da TAP que foi criada na sequência do pagamento, entretanto considerado ilegal, de uma indemnização de meio milhão de euros a uma antiga gestora.
Esta pré-reforma de 27 mil euros mensais foi atribuída no final de 2018 e depois de Maximilian Otto Urbahn ter abandonado a administração da TAP da qual fez parte quando a mesma ainda era presidida por Fernando Pinto, de acordo com documentos citados por Mariana Mortágua
Segundo a deputada do Bloco de Esquerda, este administrador recebeu 420 mil euros por ano enquanto esteve em funções na comissão executiva, tendo ainda beneficiado de prémios de 207 mil euros e 150 mil euros. O contrato dava-lhe ainda direito a um subsídio mensal de 1000 euros/mês por filho, um subsídio anual alojamento de 84.000 euros e despesas de mudança até 20.000
Em 2016, foi nomeado diretor executivo para a área comercial, quando ainda era administrador, e em 2017 passa a exercer o cargo de diretor de estratégia. Estas nomeações para cargos de direção na empresa aconteceram ainda durante o mandato de Fernando Pinto à frente da TAP, da qual do gestor brasileiro saiu em janeiro de 2018.
O americano Maximilian Otto Urbahn, apontado como braço direito de David Neeleman, renunciou ao cargo de administrador em 2017 e negociou a pré-reforma no final de 2018 quando a empresa já era liderada por Antonoaldo Neves. Mas em 2019, ainda durante a gestão privada, regressa ao conselho de administração da TAP para substituir o representante dos chineses da HNA que investiram na empresa portuguesa ao lado de David Neeleman. E nesta nomeação passou a acumular a pré-reforma, ainda que reduzida para 21.000 euros mensais, com um salário de 85 mil euros anuais.
Questionado pela deputada, o administrador financeiro, Gonçalo Pires, confirma que a TAP cancelou o pagamento desta pré-reforma em 2022 porque foi considerado ilegal. “Foi detetada uma situação de reforma bastante elevada recebida por um ex-administrador durante a gestão privada”. Depois do reporte feito pelos recursos humanos, advogados especializados concluíram que este contrato era ilegal e a TAP comunicou o seu cancelamento. Questionado sobre o fundamento desta ilegalidade, o CFO diz não conhecer todos os detalhes, mas adianta que o contrato foi considerado ilegal porque Maximilian Otto Urbahn acumulou a função de administrador com a de diretor para conseguir obter o direito à pré-reforma. Um administrador que não é quadro da empresa não teria, em princípio, direito a essa pré-reforma. E por isso, argumentou, havia base legal para cancelar o contrato.
Questionado por Mariana Mortágua sobre a devolução dos valores pagos ilegalmente (a título de pré-reforma), o CFO diz que existe a possibilidade de recorrer a um tribunal para recuperar esse dinheiro, mas não sabe dizer se o processo já foi aberto. E lembra que a TAP pediu uma auditoria externa para avaliar situações de indemnizações a ex-administradores e quadros que possam ser irregulares, como foi noticiado quando foi conhecido o pagamento de de 1,2 milhões de euros a uma ex-diretora, também durante a gestão privada da empresa.
TAP pede auditoria externa. Diretora saiu com 1,2 milhões em 2017 por decisão da gestão privada