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O final de "Succession", episódio 2: o amor não é um negócio de família

Este artigo tem mais de 1 ano

Diário de bordo de um naufrágio, dia 2: na véspera de um casamento e de uma venda, as noivas estão em fuga, as ratazanas engordaram e Leonard Cohen continua a oferecer protecção em dias de tempestade.

Mas a noite continua a cair. “Esta cidade…”, resmunga Logan Roy, pelas ruas de Nova Iorque
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Mas a noite continua a cair. “Esta cidade…”, resmunga Logan Roy, pelas ruas de Nova Iorque

Mas a noite continua a cair. “Esta cidade…”, resmunga Logan Roy, pelas ruas de Nova Iorque

[Alerta Spoiler: este artigo contém detalhes sobre o segundo episódio da quarta temporada de “Succession”. Se não os quer conhecer, não leia]

É curioso que “Succession”, que é tão diferente do que seria uma soap ou telenovela, o oposto teórico do melodrama, estruture a sua narrativa como um: em cima de casamentos, grandes festas de aniversário, dias “D” de fusões ou outros grandes acontecimentos empresariais, marcados na agenda. É o esquema clássico de um certo storytelling: anúncio, preparação, surpresa.

“Ensaio” é, por isso, o título do segundo episódio da temporada final: ensaio para o casamento em que ninguém acredita do filho mais velho do clã; véspera da venda da velha Waystar Royco ao “new kid in town” GoJo. Porque, afinal, “Succession” talvez seja mesmo isso: uma telenovela a que subtraíram, quimicamente, os sentimentos. Uma soap sem açúcar, para ver quem aguenta a aspereza e quem desiste e vai para outro lado à procura de um abraço.

Há dias, alguém escrevia numa rede social que não conseguia ver “Succession” porque lhe fazia impressão de haver apenas uma mulher entre o núcleo de protagonistas. Algumas pessoas respondiam-lhe que era deliberado, que a série retrata um certo universo, masculino, branco, rico, justamente para pôr em evidência as suas falhas e quão anacrónico e esgotado se tornou.

O final de “Succession”, episódio 1: até estes monstros precisam de amigos

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Diria mais: que, na sua roupagem amoral (senão, imoral), “Succession” se vai completando como uma parábola não só sobre o poder e a família, mas o futuro da América, dos media, das relações. É o requiem por um tempo, o nosso, com todos os seus pecados, vítima de autodestruição, em direção a um novo, que também nada sinaliza como melhor nem mais esperançoso.

No centro de tudo, está a TV. Como nas velhas salas de família. A TV que os filhos desavindos vêem e tentam repensar para dar sex appeal no seu novo canal. A TV a cujo “chão de fábrica”, a redação, o rei ainda não deposto, Logan Roy, desce, pela primeira vez, para discursar às tropas e empolgá-las para uma batalha final, para que lutem por ele; para que, a partir delas, ele consiga fazer nascer algo novo, “mais leve, mais ágil, mais selvagem”. A TV na qual a amante do chefe ainda aspira classicamente a ter lugar. A TV que o jovem mogul da tecnologia dispensa no negócio da compra da Waystar, como aquela comida que encostamos a um canto do prato. A TV, onde, no início do episódio, se está a discutir a NATO e a que, no fim, mais uma vez, Logan assiste, à noite, na poltrona, ao lado do ex-genro, a “família” que lhe resta. A TV que, em todos estes momentos, não consegue não parecer um condenado à morte a caminho do cadafalso.

Irmãos carentes, encontros inesperados, bares de karaoke: ao segundo episódio a quarta temporada enriquece o sortido de eventos

E, entretanto, enquanto Shiv, Kendall e Roman continuam com os seus jogos duplos, cada um para seu lado – Shiv com os velhos acionistas, Kendall com o novo comprador, Roman com o próprio pai – eliminando qualquer ilusão de que tenham mudado e tornado menos egoístas, Connor suspira por uma América que só encontra no fundo de um velho bar e pela noiva que desapareceu e que ele segue agora pela localização do telemóvel. Em direção a esse clímax sem corantes nem conservantes, num bar de karaoke aonde vai cantar “Famous Blue Raincoat” e expor os irmãos bem-sucedidos ao ridículo dos seus reflexos no espelho: “A vantagem de ter uma família que não nos ama é que aprendemos a viver sem ela.” Mas eles ainda não aprenderam. Permanecem “needy”, carentes, à espera de um gesto do pai. Já Connor, garante o próprio, pode ver a noiva voltar ou não; estará bem das duas maneiras. “Eu já não preciso de amor. É uma espécie de super-poder.”

Fãs de Tom e Greg vão, mais uma vez, apreciar a sensação de que se tornaram, subitamente, mais inteligentes do que um aspirador robô. Detratores de Kendall também ficarão bem com o seu – por ora, inexplicável – empalidecer na temporada final. Colecionadores do almanaque Roman podem juntar mais algumas pérolas à caderneta: do “Ei, Buda! Belos Tom Ford!”, para o renovado e “espiritual” Kendall; ao “POTUS Escrotus” com que batiza Connor ou à analogia sobre que Beatle é cada um deles na família.

Mas a noite continua a cair. “Esta cidade…”, resmunga Logan, pelas ruas de Nova Iorque. “As ratazanas estão gordas como doninhas. Já nem se dão ao trabalho de fugir.”

Boa Páscoa.

 
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