888kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

O final de "Succession", episódio 2: o amor não é um negócio de família

Este artigo tem mais de 1 ano

Diário de bordo de um naufrágio, dia 2: na véspera de um casamento e de uma venda, as noivas estão em fuga, as ratazanas engordaram e Leonard Cohen continua a oferecer protecção em dias de tempestade.

Mas a noite continua a cair. “Esta cidade…”, resmunga Logan Roy, pelas ruas de Nova Iorque
i

Mas a noite continua a cair. “Esta cidade…”, resmunga Logan Roy, pelas ruas de Nova Iorque

Mas a noite continua a cair. “Esta cidade…”, resmunga Logan Roy, pelas ruas de Nova Iorque

[Alerta Spoiler: este artigo contém detalhes sobre o segundo episódio da quarta temporada de “Succession”. Se não os quer conhecer, não leia]

É curioso que “Succession”, que é tão diferente do que seria uma soap ou telenovela, o oposto teórico do melodrama, estruture a sua narrativa como um: em cima de casamentos, grandes festas de aniversário, dias “D” de fusões ou outros grandes acontecimentos empresariais, marcados na agenda. É o esquema clássico de um certo storytelling: anúncio, preparação, surpresa.

“Ensaio” é, por isso, o título do segundo episódio da temporada final: ensaio para o casamento em que ninguém acredita do filho mais velho do clã; véspera da venda da velha Waystar Royco ao “new kid in town” GoJo. Porque, afinal, “Succession” talvez seja mesmo isso: uma telenovela a que subtraíram, quimicamente, os sentimentos. Uma soap sem açúcar, para ver quem aguenta a aspereza e quem desiste e vai para outro lado à procura de um abraço.

Há dias, alguém escrevia numa rede social que não conseguia ver “Succession” porque lhe fazia impressão de haver apenas uma mulher entre o núcleo de protagonistas. Algumas pessoas respondiam-lhe que era deliberado, que a série retrata um certo universo, masculino, branco, rico, justamente para pôr em evidência as suas falhas e quão anacrónico e esgotado se tornou.

O final de “Succession”, episódio 1: até estes monstros precisam de amigos

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Diria mais: que, na sua roupagem amoral (senão, imoral), “Succession” se vai completando como uma parábola não só sobre o poder e a família, mas o futuro da América, dos media, das relações. É o requiem por um tempo, o nosso, com todos os seus pecados, vítima de autodestruição, em direção a um novo, que também nada sinaliza como melhor nem mais esperançoso.

No centro de tudo, está a TV. Como nas velhas salas de família. A TV que os filhos desavindos vêem e tentam repensar para dar sex appeal no seu novo canal. A TV a cujo “chão de fábrica”, a redação, o rei ainda não deposto, Logan Roy, desce, pela primeira vez, para discursar às tropas e empolgá-las para uma batalha final, para que lutem por ele; para que, a partir delas, ele consiga fazer nascer algo novo, “mais leve, mais ágil, mais selvagem”. A TV na qual a amante do chefe ainda aspira classicamente a ter lugar. A TV que o jovem mogul da tecnologia dispensa no negócio da compra da Waystar, como aquela comida que encostamos a um canto do prato. A TV, onde, no início do episódio, se está a discutir a NATO e a que, no fim, mais uma vez, Logan assiste, à noite, na poltrona, ao lado do ex-genro, a “família” que lhe resta. A TV que, em todos estes momentos, não consegue não parecer um condenado à morte a caminho do cadafalso.

Irmãos carentes, encontros inesperados, bares de karaoke: ao segundo episódio a quarta temporada enriquece o sortido de eventos

E, entretanto, enquanto Shiv, Kendall e Roman continuam com os seus jogos duplos, cada um para seu lado – Shiv com os velhos acionistas, Kendall com o novo comprador, Roman com o próprio pai – eliminando qualquer ilusão de que tenham mudado e tornado menos egoístas, Connor suspira por uma América que só encontra no fundo de um velho bar e pela noiva que desapareceu e que ele segue agora pela localização do telemóvel. Em direção a esse clímax sem corantes nem conservantes, num bar de karaoke aonde vai cantar “Famous Blue Raincoat” e expor os irmãos bem-sucedidos ao ridículo dos seus reflexos no espelho: “A vantagem de ter uma família que não nos ama é que aprendemos a viver sem ela.” Mas eles ainda não aprenderam. Permanecem “needy”, carentes, à espera de um gesto do pai. Já Connor, garante o próprio, pode ver a noiva voltar ou não; estará bem das duas maneiras. “Eu já não preciso de amor. É uma espécie de super-poder.”

Fãs de Tom e Greg vão, mais uma vez, apreciar a sensação de que se tornaram, subitamente, mais inteligentes do que um aspirador robô. Detratores de Kendall também ficarão bem com o seu – por ora, inexplicável – empalidecer na temporada final. Colecionadores do almanaque Roman podem juntar mais algumas pérolas à caderneta: do “Ei, Buda! Belos Tom Ford!”, para o renovado e “espiritual” Kendall; ao “POTUS Escrotus” com que batiza Connor ou à analogia sobre que Beatle é cada um deles na família.

Mas a noite continua a cair. “Esta cidade…”, resmunga Logan, pelas ruas de Nova Iorque. “As ratazanas estão gordas como doninhas. Já nem se dão ao trabalho de fugir.”

Boa Páscoa.

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça até artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.