A classificação engana. Porquê? Quando se olha à primeira vista, o Inter estava mal porque ocupava a quinta posição fora dos lugares de acesso à Liga dos Campeões mas a Juventus estava ainda pior porque estava no sétimo lugar fora dos lugares de acesso às provas europeias. No entanto, e recalculando tudo à luz dos 15 pontos que foram retirados à Vecchia Signora no âmbito da operação Prisma, a formação de Massimiliano Allegri estaria no segundo posto. Mais: os atuais momentos entre os dois conjuntos eram diametralmente opostos, com Benfica e Sporting atentos ao encontro entre ambos em Turim (tendo em conta que são os seus adversários na Liga dos Campeões e na Liga Europa) também pelo trajeto recente dos dois conjuntos.

O ideal era a cidade da moda e foi um sorteio à medida: Benfica defronta Inter nos quartos da Champions (e cruza com AC Milan-Nápoles)

A Juventus, jogando em casa, partia com um ligeiramente favoritismo. Após igualar a segunda melhor série de vitórias consecutivas frente ao Verona pela margem mínima (cinco), os bianconeri mostravam que aos poucos foram recuperando de um início falhado, tiveram também o condão de voltar a contar com alguns jogadores que estiveram parados por lesão, estabilizaram no plano defensivo com cinco dos seis últimos encontros antes do clássico sem sofrer golos e apostavam não só na subida aos lugares de Champions mesmo sem 15 pontos que foram deduzidos mas também na conquista da Taça de Itália (e da Liga Europa).

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Depois da noite épica em Londres, o sonho segue em Turim: Sporting defronta Juventus nos quartos da Liga Europa

Em contraponto, o Inter estava no pior momento da época com uma série de quatro jogos sem vitórias e só um empate, por sinal um nulo no Dragão que valeu a passagem aos quartos da Champions frente ao FC Porto entre 277 minutos consecutivos sem qualquer golo. “Nunca antes aconteceu estarmos tanto tempo sem marcar. Há falhas, no que diz respeito ao compromisso nada há a dizer. Claramente, precisamos de ser mais lúcidos e duros mas não se trata apenas dos avançados. A classificação agora é diferente. Não é o que queríamos, significa que temos de trabalhar mais e melhor. Continuamos a ser o segundo melhor ataque ainda que em 2023 estejamos a marcar menos. São momentos e temos de trabalhar. Vai ser um mês muito intenso e devemos recuperar o maior número possível de jogadores, com outros a voltarem de lesões graves”, comentou Simone Inzaghi após mais uma derrota em casa para a Serie A, neste caso com a Fiorentina.

Para “ajudar” ainda mais ao momento a ferro e fogo que a equipa atravessa, também a claque Curva Nord fez uma espécie de ultimato. “Demos sempre apoio, nunca parámos de apoiar e de estar próximos da equipa por um segundo que fosse. Mesmo depois dos piores resultados da temporada. Mas agora a paciência chegou ao fim. Se toleramos os resultados flutuantes numa liga que, por mérito de outros, não está ao nosso alcance, a partir de agora tem de se continuar a lutar pelos que merecem ver o Inter numa corrida que não pode parar. Vamos continuar a apoiar mas é claro que a paciência terminou e, se estes resultados não se alterarem, vamos exigir que cada um assuma as responsabilidades e vamos tratar-vos como merecem. Respeitem a nossa camisola e a nossa história. Os que não dão tudo, não dão nada”, avisou num comunicado.

Alguém que olhasse apenas para os factos mais recentes pensaria que era a Juventus que estava na Liga dos Campeões e o Inter na Liga Europa. Não era assim. E era também essa imagem que os nerazzurri tentavam mudar, com um bom resultado na primeira mão de uma meia-final da Taça que no início até prometia.

Com cinco alterações de cada lado a nível de jogadores mas mantendo a mesma tática e ideia de jogo em sistemas com três defesas que depois tinha linhas e dinâmicas distintas do meio-campo ao ataque, o lance inicial de perigo nasceu dos pés do inevitável Di María, com Locatelli e Rabiot a ganharem no meio-campo uma bola a Mkhitaryan para o remate do argentino desviado por Handanovic para canto (4′). Pouco depois, na primeira ameaça à baliza contrária, Lautaro Martínez conseguiu ganhar de cabeça na área depois de um cruzamento da esquerda mas atirou por cima (10′). O encontro abrandou depois com domínios repartidos, tendo a melhor oportunidade nos pés de Brozovic para grande defesa de Perín após bom trabalho em apoio de Dzeko (33′) e um cabeceamento fácil de Vlahovic depois de um cruzamento de Fagioli (37′).

Como se podia resumir o jogo? A Juventus a mostrar-se muito confortável quando dava a iniciativa ao Inter e a dar prioridade à segurança defensiva entre as tentativas de saídas rápidas para o ataque, o Inter a rodar muito a bola entre corredores mas a mostrar as dificuldades ofensivas atuais pela escassez de unidades que coloca no último terço. Com isso, e até ao final, cada equipa teve apenas uma oportunidade flagrante para marcar com Mkhitaryan a fazer a bola passar a rasar o poste (64′) e Milik a não conseguir melhor (78′) até começar a dança das substituições que valeu uma dança a Cuadrado: os visitados iniciaram a jogada pela esquerda, todos defenderam por dentro e o colombiano ficou solto para marcar o 1-0 (83′). Se a vida não estava fácil para Simone Inzaghi, a forma como desequilibrou a equipa não ajudou mas acabou por ter uma mãozinha (literalmente) de Bremer, a fazer um penálti convertido por Lukaku aos 90+5′ antes de ver o segundo amarelo na sequência da resposta que teve para as bancadas após os insultos antes da conversão. E não ficaria por aí: já com o jogo terminado, Cuadrado e Handonovic “pegaram-se” e foram expulsos.