O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, afirmou esta quarta-feira que Israel quer “acalmar os ânimos” com os palestinianos na sequência dos recentes incidentes ocorridos na Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém, duramente criticados por Marrocos, signatário dos Acordos de Abraão.

Os incidentes envolveram a polícia anti-motim israelita, que entrou esta quarta-feira de madrugada na mesquita de Al-Aqsa e envolveu-se em confrontos com palestinianos que se tinham barricado no templo com pedras e fogo-de-artifício.

Israel. Confrontos na mesquita de Al-Aqsa em Jerusalém, palestinianos disparam rockets de Gaza

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Os confrontos provocaram mais de uma dezena de palestinianos feridos e cerca de 400 detidos, naqueles que são os acontecimentos mais tensos da região desde que começou o mês sagrado muçulmano do Ramadão, há duas semanas.

“Israel está a trabalhar para manter o status quo e acalmar as coisas”, declarou o chefe do governo israelita, que repetiu as palavras avançadas mais cedo por fonte oficial israelita.

Segundo Netanyahu, “extremistas muçulmanos entrincheiraram-se” na Mesquita Al Aqsa com “armas, pedras e fogo-de-artifício” e “impediram que outros muçulmanos viessem rezar”.

Após “tentativas de negociação” falhadas, “as forças de segurança tiveram de atuar para restabelecer a ordem”, especificou.

Israel está empenhado em manter a liberdade de culto, o livre acesso a todas as religiões” e “não permitirá que extremistas violentos mudem isso”, acrescentou o primeiro-ministro israelita, que não se referiu às imagens publicadas nas redes sociais, onde se veem agentes a carregarem contra fiéis muçulmanos na mesquita de Al-Aqsa.

Os confrontos na Esplanada das Mesquitas, o terceiro local mais sagrado do Islão e um símbolo nacional para os palestinianos, foram seguidos pelo lançamento de dez foguetes pelas milícias de Gaza contra Israel, aos quais o exército israelita respondeu com bombardeamentos de retaliação contra postos militares do grupo islâmico Hamas, que governa a Faixa de Gaza desde 2007.

Os incidentes na mesquita já levaram a Liga Árabe, através da Jordânia, a convocar uma reunião extraordinária da organização e Marrocos, signatário dos Acordos de Abraão, a condenar “veementemente” a intervenção da polícia israelita e a denunciar a “agressão e o terror contra fiéis em pleno mês do Ramadão”.

Num comunicado divulgado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros marroquino, o reino alauita enfatizou a necessidade de se “respeitar o estatuto legal, religioso e histórico” de Al Quds (Jerusalém) e dos Lugares Sagrados e de “evitar todas as práticas e violações que possam destruir todas as possibilidades de paz na região”.

“[Marrocos] reitera a rejeição de tais práticas que só complicam e agravam a situação nos territórios ocupados da Palestina e minam os esforços para aliviar as tensões e restaurar a confiança”, concluiu o comunicado da diplomacia marroquina.

Aliado de Israel, Marrocos tem-se esforçado regularmente para recordar o compromisso com a causa palestiniana sob a liderança do Rei Mohammed VI, que preside o comité Al-Quds, responsável por “preservar o caráter árabe-muçulmano” de Jerusalém.

Isso não impede Rabat de desenvolver uma parceria total com Israel, focada na cooperação militar e de segurança, desde a normalização das relações bilaterais em dezembro de 2020, no âmbito dos Acordos de Abraão, um acordo entre Israel e vários países árabes negociado pelos Estados Unidos.

No entanto, a subida ao poder de correntes ultranacionalistas israelitas e a violência nos territórios ocupados tornaram-se um obstáculo a esta aproximação.

Segundo sustenta a agência noticiosa France-Presse (AFP), se a mobilização militante enfraqueceu, a causa palestiniana “continua a despertar imensa simpatia na população marroquina”, pelo que conflitos contínuos em Jerusalém e na Cisjordânia podem, em última análise, minar os fundamentos dos Acordos de Abraão.

Como prova disso, indicou esta quarta-feira a imprensa marroquina, citada pela AFP, a cimeira do Negev, fórum que deveria ter reunido em Marrocos, em março, os chefes da diplomacia norte-americana, israelita, egípcia, marroquina, dos emirados e do Bahrein, foi adiada indefinidamente.

Pelo segundo ano consecutivo, o mês sagrado muçulmano coincide em 2023 com as celebrações da Páscoa judaica, que começam esta quarta-feira à tarde e costumam registar um aumento do número de judeus que visitam a Esplanada das Mesquitas, gerando a reação dos fiéis palestinianos.

Israel assumiu o controlo de Jerusalém Oriental e da Cisjordânia em 1967 e, desde então, manteve uma ocupação e colonização desses territórios, uma das mais longas da história recente.

Por sua vez, os poucos mais de três meses de 2023 marcam o início do ano mais violento no quadro do conflito israelo-palestiniano desde 2000.

Este ano, 92 palestinianos já morreram em incidentes violentos com Israel, enquanto do lado israelita, 15 pessoas morreram em ataques perpetrados por palestinianos.