Dérbi é sempre dérbi mas neste caso houve até uma preocupação por parte dos organizadores e das próprias autoridades em esvaziar a habitual tensão que existe nos mesmos, com o adiamento do encontro dos quartos da Taça de Portugal de andebol na Luz entre Benfica e Sporting de sexta-feira para sábado devido ao clássico do futebol entre encarnados e FC Porto. No entanto, e até ao contrário do que tem sido hábito recente na modalidade, os ânimos acabaram mesmo por aquecer e transbordar com um pouco de tudo entre três adeptos detidos, uma agressão ao jogador leonino Salvador Salvador e a maior discussão entre treinadores, Chema Rodríguez e Ricardo Costa, no seguimento de um desconto de tempo no minuto final do jogo.
“Dentro do desporto, há valores e pontos que não podem ser ultrapassados. Pedir um timeout, com menos de um minuto e com vantagem de três golos, na casa do teu rival, digam o que disserem, é uma falta de respeito dentro dos valores do desporto. Qualquer jogador de andebol sabe que isso é uma falta de respeito. Quando os próprios jogadores dizem que é uma falta de respeito, creio que todos acham isso. Os próprios jogadores pediram desculpa pela falta de respeito que teve o treinador. Isso pode levar a que no último minuto aconteça algo que ninguém quer que se passe. São normas não escritas no desporto e andebol que fazem com que isso seja uma falta de respeito. O Ricardo [Costa] teve uma falta de respeito e nada mais”, apontou Chema Rodríguez, treinador dos encarnados, explicando o que se tinha passado no final de uma partida que terminou com a vitória do conjunto verde e branco por 34-30 no Pavilhão da Luz.
“O jogo em si, os 60 minutos foram fantásticos e de grande lealdade entre as equipas, respeito e é assim que tem pautado os jogos entre ambas. Aquilo que fiz foi pedir timeout quando estávamos a ganhar por três pontos. O treinador do Benfica entendeu que estava a falta ao respeito, tentei dizer que essa não é a minha forma de estar, nunca provoquei quem quer que seja e tenho pena que tenham entendido assim. Este jogo foi um grande jogo entre grandes equipas, grandes jogadores, que não merecia ter acabado com este mal-entendido que não passa de um mal-entendido. Quando todos chegarmos a casa e mais frios, vemos que nos excedemos. Tenho pena que tenha acabado porque os jogos têm sido pautados por respeito”, apontou Ricardo Costa, técnico dos leões, a propósito do momento que originou todos os tumultos.
— A BOLA (@abolapt) April 9, 2023
Agora, tudo descambou numa guerra de comunicados. E se a agressão a Salvador Salvador não foi colocada em causa (o indivíduo em causa foi identificado pela polícia e detido, tal como uma adepta encarnada que está proibida de ir a recintos desportivos e um adepto leonino que agrediu um agente), existem agora versões contraditórias sobre uma alegada agressão de Chema Rodríguez a Ricardo Costa.
“O Sporting informa que Ricardo Costa e Salvador Salvador, treinador e capitão da nossa equipa de andebol, foram hoje [sábado] agredidos no pavilhão 2 do estádio do Benfica após a brilhante vitória do Sporting no encontro para a Taça de Portugal. O agressor de Ricardo Costa foi o treinador do Benfica, Chema Rodriguez, o que confere à situação uma extremíssima gravidade. Assim como são os seus comentários no pós-jogo em que pretende justificar a sua violência, falando sobre algo que, como os seus atos atestam, só conhece de vocabulário – valores e respeito”, começaram por denunciar os leões em comunicado.
Comunicado #SportingCP sobre as agressões a Ricardo Costa e Salvador Salvador, do #AndebolSCP, no pavilhão 2 do estádio do SL Benfica.
???? https://t.co/ZNGNq7oMPc pic.twitter.com/puTF8z2wit
— Sporting CP ???? (@SportingCP) April 9, 2023
“Nesta casa os valores não se apregoam, executam-se e transmitem-se de geração em geração, na vitória ou na derrota. Também o nosso capitão de equipa foi agredido por um adepto do Benfica na sequência dos desacatos no final do jogo, adepto esse detido pela PSP. O Sporting condena veemente as agressões de que os nossos jogadores e treinadores foram alvo, e vai executar todas as diligências necessárias para que os agressores sejam responsabilizados, reafirmando a necessidade de erradicar qualquer tipo de violência no Desporto nacional”, rematou o texto publicado pelo conjunto verde e branco no site oficial do clube.
“O Benfica esclarece que o seu treinador da equipa de andebol, Chema Rodríguez, em momento algum agrediu o técnico do Sporting, Ricardo Costa, no final do dérbi de sábado, dia 8 de abril, no Pavilhão n.º 2 da Luz. É por isso falsa e difamatória a acusação feita pelo Sporting no seu comunicado. O Benfica não pode permitir que, com acusações falsas, se tentem desviar as atenções do comportamento antidesportivo e provocador da equipa do Sporting e do seu treinador Ricardo Costa na parte final do encontro. E que originaram a indignação de Chema Rodríguez”, responderam os encarnados num esclarecimento.
“O Benfica recusa igualmente a propaganda hipócrita do Sporting quando fala de valores e respeito, esquecendo-se que ainda há poucas semanas teve um capitão de equipa condenado por, premeditadamente, ir ao balneário adversário agredir um jogador do Benfica. Na altura, não se ouviram os arautos da moral tecer qualquer comentário”, acrescentou ainda o comunicado, recordando a agressão de Ângelo Girão a Lucas Ordóñez ainda no período de aquecimento do dérbi de hóquei em patins no Pavilhão João Rocha.