Uma espada gravada com cabo dourado que pertenceu ao infante D. Pedro de Portugal abre quinta-feira a exposição com 30 obras de pintura, ourivesaria e escultura gótica da Catalunha, no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), em Lisboa.

A espada cerimonial, que evoca a vida trágica do infante português que esteve exilado em Espanha, serve de introdução às ligações históricas políticas, sociais e culturais com a Catalunha no século XV.

“É considerada uma das mais bonitas espadas medievais”, salientou o diretor do MNAA, Joaquim Caetano, durante uma visita de imprensa à exposição “Barcelona gótica. Obras do Museu Diocesano e da Catedral de Barcelona”, que é inaugurada na quinta-feira, às 18h00 e ficará patente até 6 de agosto.

Provenientes do Museu Diocesano e da Catedral de Barcelona, em Espanha, as peças juntam-se a obras-primas de arte gótica pertencentes aos fundos do museu nacional, incluídas no percurso expositivo.

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A exposição — que “apresenta, pela primeira vez em Portugal, um relevante conjunto de pintura catalã do período gótico” — resulta de uma parceria do MNAA com a Diocese de Barcelona, através da empresa C2C Proyectos Culturales.

Composta maioritariamente por pinturas sobre madeira, integra também outras obras de contextualização histórica e artística, e divide-se em oito núcleos: “Barcelona Gótica”, “Barcelona e Portugal, uma relação permanente”, “A influência italiana: Os Bassa e Destorrents”, “Oficina da família Serra”, “A Catedral de Barcelona”, “O Gótico internacional e a família Borrasá”, “Bernat Martorell, um mestre na composição” e “Novos caminhos: Huguet e Bermejo”.

Devido à sua posição geográfica, a Catalunha – aberta à influência da Península Italiana, com quem mantinha fortes contactos políticos e comerciais, e do mundo francoflamengo, bem como um mecenato dinâmico – tornou-se um dos grandes espaços de produção da pintura europeia medieval, recordaram os comissários, Helena Alonso e Oscar Carrascosa.

O discurso expositivo evidencia especialmente os estreitos vínculos históricos estabelecidos entre a Catalunha e Portugal, com peças como a espada do condestável Pedro de Portugal – o infante que também foi escritor -, pertencente à Catedral de Barcelona, e que é exibida pela primeira vez fora da cidade, segundo a organização.

As ligações com Portugal foram estreitas, desde o casamento de Isabel de Aragão com o rei D. Dinis, em 1281, mas foi a partir dos inícios do século XV que a intensificação das trocas comerciais, o interesse português na tecnologia marítima e a competição por rotas comerciais, foram criadas maiores pontos de contacto entre as duas costas opostas da Península, recordou, por seu turno, o diretor do museu.

“A apresentação destas peças tem um grande interesse para o museu porque revela uma seleção da qualidade e importância da pintura gótica da Catalunha, como um dos grandes polos da cultura tardio-medieval“, salientou o responsável.

Por outro lado, também é importante “para a compreensão da pintura portuguesa que se estava a desenvolver na época, e sobre a qual existe pouca documentação”, apontou.

Dos pintores ativos na época, em Barcelona, sobressaem as figuras pioneiras dos pintores e iluminadores Ferrer e Arnau Bassa, ligados à pintura italiana de Siena e do sul de Itália, de Ramón Destorrents, artista do círculo régio.

Deste autor, é exibido — proveniente do acervo do MNAA — a tábua central do retábulo do Palácio Real de Maiorca, dedicado a “Santa Ana e a Virgem”.

Durante a visita, a curadora Helena Alonso recordou que a Catedral de Barcelona tem 1.500 anos de história, apontando que “no tempo dos romanos já havia cristãos” na região.

Joaquim Caetano, referiu, por seu turno, sobre a riqueza histórica e artística da cidade, que a iconografia mais relevante ligada a São Vicente — principal santo padroeiro de Lisboa — encontra-se nos museus de Barcelona.

“Espero, um dia, fazer uma grande exposição dedicada a São Vicente”, comentou sobre o diácono e mártir que morreu no século IV, em Valência, e cujos restos mortais chegaram a Portugal, no século VIII, tendo sido construída uma igreja em sua honra na capital.

Na exposição é também destacada a oficina de Bernat Martorell, que iria dominar a pintura barcelonesa no segundo quartel do século XV, e a arte de Jaume Huguet e de Bartolomé Bermejo.

Apresentada como “uma das mais importantes exposições internacionais da arte gótica catalã”, reunirá peças de artistas como Jaume Huguet, Bernat Martorell, Ramon Destorrents, Jaume Serra, Rafael Vergós, Ferrer e Arnau Bassa, e Pere García de Benavarre, entre outros, algumas delas nunca vistas fora de Espanha.

Enquadrada no contexto das relações políticas, culturais e comerciais que se produziram na Europa dos séculos XIV e XV, a exposição põe em relevo as estreitas ligações estabelecidas com a coroa portuguesa.

As obras dos fundos do MNAA incluídas na exposição incluem a tábua central do retábulo da Capela de Almudaina, do palácio daquela localidade em Palma de Maiorca, um tríptico de Bernat Martorell e uma pintura de Bartolomé Bermejo, artista que foi alvo de uma grande exposição recente no Prado, em Madrid.

O catálogo da exposição — que recebeu apoio mecenático do BPI/Fundação “La Caixa” — foi elaborado por especialistas da Universidade de Barcelona e da Universidade Autónoma de Barcelona, pelos comissários e por Joaquim Caetano, diretor do MNAA.

Museu de Arte Antiga acolhe exposição com 30 obras de arte gótica vindas de Barcelona