A Venezuela vê-se a braços com um enorme escândalo de corrupção que envolve várias empresas estatais e já levou à detenção de 80 pessoas, nas últimas semanas, incluindo altos funcionários do Estado. Aos poucos, vai-se levantando o véu e revelando os contornos de esquemas montados e das vidas de luxo que muitos dos detidos levavam — alguns, conhecidos de Nicolás Maduro e “companheiros de luta”, descreve o El Mundo. O Presidente do país não poupou críticas aos apanhados no caso: levavam uma “vida de mafiosos, de corrupção, de comissão, acreditando que duraria para sempre”.

Entre os detidos há altos funcionários públicos e empresários suspeitos de corrupção em empresas estatais como a Petróleos de Venezuela, em específico de crimes como apropriação ou desvio de bens públicos, branqueamento de capitais e associação criminosa. Muitos deles têm um grande peso político. Mas há uma trama paralela, descreve o jornal espanhol, que revela mais detalhes das histórias por detrás do escândalo.

Além dos altos funcionários, contam-se entre os envolvidos as suas mulheres, amantes e conhecidos seus que pertenciam aos mesmos circuitos sociais, empresários e empresárias, influencers ou modelo. E jornal El Mundo descreve uma “trama de poder e ostentação nas redes sociais”, que expõe a “bolha elitista” criada por Maduro. A investigação expôs ainda o uso de ainda hotéis e carros de luxo, casinos, apartamentos milionários no Dubai e redes de prostituição.

O Procurador-Geral da Venezuela, Tarek William Saab, tem sido um dos rostos da exposição mediática do escândalo: citado pelo El Mundo, explicou que “as bonecas da máfia” — como apelidou algumas das envolvidas — são “jovens mulheres ligadas da pior maneira ao pior tipo de rede de prostituição”. Terão participado nos crimes através da lavagem de dinheiro, descreveu. A investigação alega que vários dos detidos lideravam uma rede privada que recrutava jovens mulheres entre os 18 e os 25 anos para a prostituição.

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Uma das detidas trata-se de Johanna Torres, de 45 anos, conhecida como “A Rainha das Frutas”, cujo marido também está detido. Torres começou por vender frutas na rua, mas depressa expandiu o negócio e firmou contratos com o Estado venezuelano, fornecendo a rede alimentar do governo e o programa de alimentação escolar do país.

É vista nas imagens dos detidos divulgadas pelas autoridades, com um fato laranja a caminho da prisão, e rapidamente surgiram imagens anteriores suas nas redes sociais, onde ostentava a vida de luxo que levava no Dubai. Segundo o jornal espanhol, por várias vezes exibiu um apartamento luxuoso no Dubai, onde vivia, mesmo em frente ao Burj Khalifa, viagens em iates e jatos privados, jóias. Num vídeo, chegou mesmo a mostrar uma mala com várias barras de ouro.

Johanna Torres e o marido são suspeitos de terem montado uma rede que lhes garantia contratos com a Petróleos de Venezuela, uma das empresas estatais envolvidas na investigação e que possui uma das maiores reservas mundiais de petróleo.

Também envolvida no desfalque à petrolífera terá estado a influencer Olvany Gaspari, que se entregou às autoridades e apelou diretamente a Maduro para que a ajudasse. Outro nome é o de Elisabeth Yépez, que em 2022 foi escolhida pela Lamborghini como representante na América Latina, e que está atualmente nos EUA — segundo os meios de comunicação social venezuelanos, chegou a um acordo para cooperar com as autoridades norte-americanas.

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Yépez seria amante do deputado e ex-ministro Hugbel Rosa, que por sua vez terá criado uma criptomoeda para comercializar petróleo de forma a escapar às sanções internacionais. Era braço direito do ministro do petróleo, Tareck El Aissami, um dos nomes mais influentes do chavismo que se demitiu na sequência do escândalo. “Nem tudo o que é dito é verdade e nem tudo o que é verdade é dito”, reagiu Elisabeth Yépez, citada pelo El Mundo.

Os detidos estão envolvidos em diversos esquemas de corrupção que acabaram por prejudicar as empresas estatais, e a economia, da Venezuela. Entre os visados estão ainda juízes e advogados suspeitos de envolvimento num esquema de corrupção no sistema judicial. Foram também emitidos mandados de detenção para cidadãos relacionados com delitos com criptomoedas.

O Procurador-Geral da Venezuela resume a dimensão do caso: “Não estamos a falar de qualquer esquema de corrupção, estamos a falar de um dos mais espalhafatosos dos últimos anos, que infelizmente vincula funcionários do Estado venezuelano e empresários (…) que beneficiam com a corrupção , e até jovens”, disse Tarek William Saab, citado pela Lusa.

Os funcionários “aproveitando-se das suas posições e níveis de autoridade, procederam a realizar operações petrolíferas paralelas às da PDVSA (…) acreditando que não seriam descobertos, através da Superintendência de Criptoativos e do carregamento de petróleo em barcos, sem controlo administrativo ou garantias, em violação dos regulamentos de contratação necessários para o efeito”, explicou ainda. Essa rede recrutava homens e mulheres jovens para os incluir no esquema de branqueamento de capitais, a quem recompensava com uma vida de luxos, ilegal e criminosa.