A CMA, a entidade responsável pela área da Concorrência no mercado do Reino Unido, decidiu impedir a compra da Activision Blizzard pela Microsoft. A decisão final foi anunciada esta quarta-feira, depois de uma investigação aprofundada, que estava em curso desde setembro de 2022.

Em comunicado, é explicado que a CMA decidiu impedir o negócio entre a dona do Windows e a responsável pelo jogo “Call of Duty” por considerar que a aquisição “poderia alterar o futuro do rápido mercado de jogos cloud, levando a inovação reduzida e a menor escolha para os jogadores britânicos nos próximos anos”. A fusão entre as duas empresas “seria perigosa para a concorrência”.

A Microsoft anunciou em janeiro de 2022 a intenção de comprar a Activision Blizzard por 68,7 mil milhões de dólares, naquela que poderá ser a maior aquisição já feita no mundo dos videojogos. O negócio levantou dúvidas devido a dois grandes pontos: o mercado de jogos cloud e o acesso de outras empresas, como a Sony e a Nintendo, ao portefólio de títulos da Activision, que inclui o conhecido jogo “Call of Duty”.

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O regulador britânico salienta que analisou “cuidadosamente” a proposta de remédio apresentada pela tecnológica norte-americana, mas que consideraram que “não restauraria o dinamismo concorrencial que seria perdido” com o negócio. Especificamente em relação aos jogos na cloud, a tecnológica propôs um remédio que envolvia supervisão do seu comportamento no mercado durante um período de dez anos. Mas, aos olhos da CMA, a proposta “não abrangia de forma suficiente os modelos de negócio nos serviços de cloud gaming” e que “definiria parâmetros nos termos e condições de como os jogos são disponibilizados, em oposição a que fossem determinados pelo dinamismo e criatividade da concorrência do mercado”. A CMA defende que aceitar a proposta da empresa “obrigaria de forma inevitável a algum tipo de supervisão” por parte desta entidade, preferindo impedir a operação para “garantir que as forças de mercado podem operar e definir o desenvolvimento” do cloud gaming “sem necessidade de intervenção regulatória”.

A Sony, a fabricante da PlayStation, tem sido uma das empresas mais críticas ao negócio, receando que a Microsoft tornasse o “Call of Duty” um exclusivo da Xbox. A Microsoft negou publicamente esta intenção e até assinou acordos com outras concorrentes, nomeadamente a Nintendo, para manter o jogo disponível. Na decisão final, a CMA refere que “é improvável” que a Microsoft retirasse o jogo da PlayStation: embora se admita que a empresa “pode ter algumas razões estratégicas para querer tornar o ‘Call of Duty’ num exclusivo da Xbox”, as “perdas financeiras de fazer isso seriam tão altas que pesariam mais do que as questões de estratégia”.

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O chumbo vindo da CMA é um golpe para a tecnológica. Neste momento, há vários cenários em cima da mesa, incluindo a possibilidade de o negócio avançar, mas algo do género implicaria abandonar o mercado do Reino Unido para respeitar o parecer da CMA, por exemplo.

A Microsoft enfrenta ainda uma investigação ao negócio, que está a ser feita pela Comissão Europeia. Nos Estados Unidos, o regulador FTC decidiu avançar em dezembro para a justiça para tentar impedir o negócio.

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Brad Smith, presidente da Microsoft, usou a rede social Twitter para reagir à decisão do regulador britânico. “Continuamos totalmente comprometidos com esta aquisição e vamos recorrer”, publicou.

“A decisão da CMA rejeita um caminho pragmático para responder a preocupações de concorrência e desencoraja a inovação tecnológica e o investimento no Reino Unido.”

Smith disse ainda que a tecnológica “está especialmente desapontada que após longas deliberações a decisão aparente estar refletida num entendimento com falhas” sobre o mercado de jogos.