A divulgação de documentos classificados que fazem parte da Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP é um “crime” muito grave e que deve ser investigado. As declarações são do líder da bancada do PS, Eurico Brilhante Dias, que na mesma declaração apontou o dedo diretamente a deputados e assessores, acusando-os — “especialmente à direita” — de “fazer o trabalho dos advogados de quem intenta contra o Estado”.
Numa reação, na manhã desta sexta-feira, à revelação dos documentos que foram noticiados — e que revelam pormenores sobre o conteúdo da polémica reunião entre Governo, PS e a ex-CEO da TAP, ou discordâncias no seio do Governo sobre a argumentação a usar para justificar o despedimento de Christine Ourmières-Widener — Brilhante Dias disparou contra quem divulgou os documentos, numa “fuga de informação seletiva”.
“Apesar de todos os esforços do presidente e dos serviços da CPI, estes não foram suficientemente eficazes para que o conjunto de deputados — e equipas de assessoria de deputados — não fizesse o que é um crime“, atirou, fazendo votos para que as circunstâncias desta “violação da lei” sejam averiguadas assim que possível, como também já admitiu o socialista que preside à reunião, Jorge Seguro Sanches. “O que aconteceu configura um crime provavelmente praticado por membros de um órgão de soberania“, acrescentou Brilhante Dias.
O problema, argumentou, é que a defesa do Estado pode assim ser “debilitada por fugas de informação seletiva” que colocam em causa “o apuramento da verdade e dos factos” e procuram “construir uma narrativa” que prejudica o Estado e os contribuintes.
Pelo lado do PS, o líder da bancada veio “defender integralmente” o profissionalismo dos deputados socialistas na CPI (sendo que o primeiro coordenador, Carlos Pereira, que esteve na tal reunião com a ex-CEO da TAP já abandonou pelo próprio pé a comissão). E disse ser quase inevitável que a CPI não passe a tornar-se “ainda mais vigilante” no acesso a documentação, que já é classificada de acordo com vários níveis de segurança.
Quanto à reunião secreta, o líder parlamentar veio defender não só a posição da bancada como também a prática. Para Brilhante Dias, os deputados devem poder “fazer reuniões com quem querem, quando querem” e o contrário será uma tentativa de “condicionar” as atividades dos parlamentares, o que seria “muito pouco liberal — para não dizer censório”.
O líder da bancada do PS lembrou ainda que as trocas de mensagens entre o ministro João Galamba e o seu adjunto Frederico Pinheiro parecem corroborar a versão do Governo segundo a qual foi a ex-CEO da TAP que pediu para participar na mesma reunião. E, embora tenha voltado a recusar responder sobre a forma como a executiva francesa soube do encontro — “é absolutamente irrelevante” — quis deixar claro que não terá sido através dos deputados do PS, recordando que Ourmières-Widener disse não se ter sentido condicionada pela realização da reunião.