A menos de uma semana da coroação de Carlos III em Londres, são muitos os convidados de famílias reais que confirmaram presença e entre eles estão os reis dos Países Baixos. Mas há precisamente 10 anos, foi ao contrário e foram Carlos e Camilla que assistiram à investidura destes novos monarcas em Amesterdão. Já que estamos em modo de festas reais, aproveitamos para assinalar uma década de reinado de Willem-Alexander e Máxima, recordando as celebrações da sua tomada de posse.
A abdicação e um jantar de despedida no museu
Tudo começou a 28 de janeiro de 2013, quando a Rainha Beatriz, então com 75 anos, fez um discurso na televisão a anunciar que iria abdicar do trono. A notícia não terá sido uma surpresa, uma vez que se tornou soberana quando a sua mãe, a Rainha Juliana também abdicou, 33 anos antes. Quem se seguia na linha de sucessão era o filho mais velho, o príncipe herdeiro Willem-Alexander, com 46 anos e casado com a popular argentina Máxima. Tornou-se o primeiro Rei do país desde 1890, já que o último monarca homem tinha sido o seu trisavô, o Rei William III, e foi também o Rei mais jovem da Europa.
Ao fim de três meses aconteceu a mudança. Foram dois dias de celebrações com pompa, circunstância e muitos convidados. No dia 29 de abril a Rainha Beatriz ofereceu um jantar no Rijksmuseum para membros da família real neerlandesa, membros de outras famílias reais e convidados internacionais. O dress code exigia vestido de gala e joias de família vistosas para as senhoras. O museu, provavelmente o mais famoso do país, tinha acabado de ser reaberto pela Rainha dias antes, a 13 de abril, depois de extensas obras de renovação. O jantar aconteceu na galeria de honra do museu, sob o olhar atento de obras tão conhecidas como “A leiteira” de Johannes Vermeer ou “A vigília da noite” de Rembrandt.
Uma coroa que não é usada e outros símbolos da cerimónia
O dia 30 de abril reservava uma agenda preenchida, que foi divulgada pelo site da casa real. Para as 10h30 da manhã estava marcada a abdicação da Rainha Beatriz, no Palácio Real de Amesterdão. O processo passou pela assinatura de alguns papéis e contou com a presença da própria monarca, membros da família real, os Presidentes do senado e da câmara dos representantes, do conselho de ministros e dos governadores e primeiros-ministros dos territórios neerlandeses nas Caraíbas: Aruba, Curaçao e Sint Maarten. A Rainha despediu-se do seu cargo de mais de três décadas à varanda com um adeus aos seus súbditos e acompanhada pelos futuros reis.
A cerimónia de tomada de posse de Willem-Alexander e Máxima ficou marcada para logo depois do almoço, às 14h00, na Nieuwe Kerk (Igreja Nova). Os novos reis fizeram um percurso a pé sobre uma passadeira azul e, enquanto o Rei usou um manto dos seus antepassados sobre um fato formal em vez de uniforme militar, a rainha deslumbrou com a sua habitual elegância e uma vistosa tiara, mas lá iremos.
Já dentro do templo, aconteceu o juramento e a investidura do Rei. “Juro que defender e preservar a independência e território do Estado com todos os meus poderes”, disse Willem-Alexander. “Que devo proteger a liberdade e os direitos gerais e individuais de todos os meus súbditos e devo usar todos os meios disponíveis pela lei para preservar e promover a prosperidade geral e individual como um apropriado bom Rei… assim me ajude Deus Todo Poderoso.”
O cenário montado na igreja contava com duas cadeiras a assumirem o papel de tronos e, em exposição, estavam os símbolos desta monarquia sobre almofadas vermelhas. O Rei não usou coroa, mas ela esteve presente a representar a soberania do país e dignidade do monarca, o cetro que simboliza a autoridade, a orbe representa os domínios do reino e ainda a constituição. A coroa foi criada para o Rei Willem II pelos joalheiros Bonebakker em 1840. É uma joia em prata revestida a ouro, em 1898 foi alterada e foram retiradas 24 das 72 pérolas falsas que a adornavam e as pedras coloridas não são preciosas, mas sim em vidro. Manda a tradição que a coroa os soberanos dos Países Baixos não sejam coroados, mas sejam sim empossados, e remonta a 1815 quando o Rei Willem I foi empossado monarca do recém criado reino dos Países Baixos, explica a BBC.
A rainha emérita, agora princesa Beatriz, sentou-se na primeira fila com as netas e filhas dos reis, Catarina Amália, Alexia e Ariane. Todas vestiram num tom de azul elétrico, tal como a rainha Máxima.
Os convidados reais, entre eles Carlos e Camilla do Reino Unido
Para esta cerimónia os mais de dois mil convidados usaram roupa formal e as damas proporcionaram um desfile de acessórios de cabeça. Carlos e Camilla foram os representantes da casa real britânica nestes dias de eventos e a duquesa da Cornualha, usou um vestido azul claro assinado por Bruce Oldfield, o designer a quem encomendou o vestido para a sua própria coroação como rainha consorte. Na cabeça usou uma criação de Philip Treacy, como uma espécie de folhagem em arco no mesmo tom, um modelo muito semelhante ao toucado que usou no dia do casamento com o príncipe Carlos. Do seu guarda-joias escolheu uma gargantilha e brincos com pérolas e ao ombro colocou uma Ordem de Família, uma joia com a fotografia de Isabel II que foi também um presente e uma importante distinção dada pela sogra. Para o jantar no Rijksmuseum, Camilla usou outro vestido de Oldfield, desta vez uma criação em branco e preto que completou com a tiara Greville, uma joia emprestada do guarda-joias da Rainha, que é uma criação da casas Boucheron e deve o seu nome a Margaret Greville, uma dama da alta sociedade para quem a joia foi criada.
Enquanto princesa, Máxima conquistou um estatuto de referência de moda pelas escolhas arrojadas e por fazer sempre o seu guarda-roupa funcionar em todas as ocasiões. Para o primeiro look como rainha usou um vestido do designer Jan Taminiau num vibrante tom de azul Klein com bordados e transparências no torso, mangas e bainha e ainda uma longa capa sobre os ombros. Máxima usou uma tiara com safiras e diamantes que pertenceu à rainha Emma, trisavó do novo Rei. Para um desfile no rio, que contou com cerca de 200 barcos, a rainha optou por uma criação do mesmo designer neerlandês, mas desta vez um vestido bordado em tom de bordeaux e com silhueta sereia.
Os convidados da realeza destes dois dia de festa foram sobretudo príncipes herdeiros da mesma geração dos novos reis, e alguns deles subiriam aos seus respetivos tronos nos anos seguintes. Como por exemplo Philippe e Mathilde da Bélgica, tal como Felipe e Letizia de Espanha e os príncipes Naruhito e Masako, que são agora imperadores do Japão. A princesa Mathilde optou por um vestido num vistoso tom de rosa pastel, enquanto Letizia usou um vestido em silhueta tubo com camadas de tecido bordado e em tons de cinza.. A princesa Victoria da Suécia foi acompanhada pelo marido, o príncipe Daniel, embora tenha escolhido um vestido num discreto tom de bege, compensou com um exuberante chapéu com flores.
A princesa Lalla Salma de Marrocos usou um típico vestido em verde e ricamente bordado em dourado. Estiveram também presentes os príncipes Haakon e Mette-Marit da Noruega e os príncipes herdeiros da Dinamarca, Frederik e Mary. E ainda o príncipe Alberto do Mónaco, a sheikha Moza bint Nasser al Misned do Qatar e representantes reais do Liechtenstein, da Jordânia e do Brunei. E ainda outras distintas figuras como o antigo Secretário Geral das Nações Unidas Kofi Annan com a mulher Nane Annan e o presidente da comissão europeia José Manuel Durão Barroso com Margarida Sousa Uva. O primeiro-ministro neerlandês da época e atual, Mark Rutte, esteve sempre presente em todas as cerimónias.
A meio da tarde houve uma receção no Palácio Real de Amesterdão para altos dignitários e, depois de uma mudança de roupa, os convidados embarcaram num cortejo de barco ao final da tarde. Entre as muitas e variadas celebrações deste dia houve também um concerto conduzido pelo maestro André Rieu na praça dos museus. O público fez parte essencial da festa e saiu à rua enchendo as ruas para felicitar os novos monarcas.