Passaram dois anos e meio desde as últimas eleições, mas o antigo Presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, continua a insistir que as presidenciais foram “fraudulentas” e que perdeu injustamente para Joe Biden, isto apesar de ter havido recontagem dos votos em estados como Geórgia e de se ter determinado que os republicanos haviam ficado em segundo lugar. “Foi uma vergonha o que aconteceu neste país. Foi uma coisa muito má”, classificou, esta quarta-feira, numa entrevista em que abordou tópicos como a guerra na Ucrânia, o aborto e a crise migratória.

No seu regresso à CNN, canal de televisão onde não aparecia desde 2016, o ex-Chefe de Estado garantiu, no entanto, que não vai fazer da fraude eleitoral um tema na sua campanha eleitoral de 2024, isto caso ganhe as primárias republicanas. A não ser que, ressalvou, entenda que o processo eleitoral esteja a ser à partida adulterado.

A guerra na Ucrânia, que “terminaria em 24 horas”, e as críticas à Europa

No programa Live Town Hall, que contou apenas com membros simpatizantes do Partido Republicano, Donald Trump foi questionado sobre a guerra na Ucrânia e a sua relação com Vladimir Putin, assim como, caso for eleito Presidente em 2024, se continuaria a apoiar a Ucrânia.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Contudo, o republicano nunca deu uma resposta concreta. “Já não temos munições para nós”, começou por criticar, reiterando, sem concluir o raciocínio anterior, que, caso fosse o Presidente dos Estados Unidos a 24 de fevereiro de 2022, a guerra “não teria acontecido”. E insistiu igualmente que conseguiria resolver o conflito “em 24 horas”. “Sentar-me-ia com Putin e com Zelensky e terminaria a guerra.”

Confrontado sobre como é que a guerra terminaria e se teria de acabar com uma vitória da Ucrânia, Donald Trump não deu uma resposta, assinalando somente que “não é ganhar ou perder que importa. O que importa é resolver a guerra”. “Quero que as pessoas parem de morrer.”

No que diz respeito à sua relação com o Chefe de Estado da Rússia, Donald Trump concedeu que Vladimir Putin até é um “tipo inteligente”, mas “cometeu um erro tremendo” ao invadir a Ucrânia. Sobre se concorda com a designação de “criminoso de guerra” para o Presidente russo, o magnata preferiu não responder. “Isso não deve ser discutido agora”, afirmou, já que, a seu ver, o importante é “resolver a guerra”.

Donald Trump aproveitou ainda a ocasião para mandar uma farpa aos países europeus, acusando-os de não financiarem os esforços de defesa da Ucrânia. Indicando que os Estados Unidos são o principal contribuidor de Kiev, o antigo Presidente deixou bem claro que a Europa “tem de pôr mais dinheiro” no país. “Não é preciso saber muito de História ou de Geografia para saber que eles são os mais afetados.”

Trump poderá perdoar “grande maioria” dos manifestantes do 6 de janeiro

Sobre o 6 de janeiro de 2021, data em que o Capitólio foi invadido. O antigo Presidente rejeitou que tenha incitado aos protestos, mas pareceu justificá-los, ao referir que “milhares de pessoas ficaram insatisfeitas com o resultado das eleições”.

Culpabilizando a mayor de Washington, Muril Bowser, e a antiga líder da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, pela falta de forças de segurança, Donald Trump assegurou que enviou várias mensagens, nas redes sociais, para que os manifestantes não fossem violentos. Contudo, quando questionado sobre se arrependia de alguma coisa do que aconteceu naquele dia, o ex-Chefe de Estado nunca deu uma resposta contundente. 

Ainda no que diz respeito a este tema, Donald Trump adiantou que está “inclinado” a “perdoar” uma “grande maioria” dos manifestantes que invadiram o Capitólio. Sublinhando que cada caso tem de ser analisado individualmente, o antigo Presidente traçou um paralelismo com os Antifa, dizendo que existem dois pesos e duas medidas no julgamento dos seus apoiantes e dos membros do Movimento Antifascista. “Temos de perceber que em Washington e Nova Iorque não se consegue ter um julgamento justo”, atirou, numa referência aos processos judiciais de que é alvo.

Trump não diz se proibiria o aborto a nível federal

Puxando dos galões, Donald Trump lembrou a anulação da decisão do processo Roe vs. Wade, que, em 1973, legalizou a interrupção voluntária da gravidez a nível federal. “Foi uma grande vitória”, saudou, mostrando-se orgulhoso do que foi “capaz de fazer”, uma vez que dependeu da escolha que fez, durante o seu mandato, para os cargos de juízes do Supremo Tribunal.

Questionado sobre se proibiria o aborto a nível federal caso fosse eleito Presidente em 2024, o magnata não respondeu, sinalizando apenas que quer um acordo que faça as “pessoas felizes”. Entre autoelogios e críticas aos “radicais” que defendem o aborto, Donald Trump defendeu ainda que, apesar de ser contra a interrupção voluntária da gravidez, deve haver “exceções”, nomeadamente em caso de violação, de incesto, ou caso haja perigo de vida para a mãe.

Armas? “Há uma crise de saúde mental”

Os tiroteios que têm acontecido um pouco por todos os Estados Unidos nos últimos tempos não são devido à licença de porte de arma, no entender de Donald Trump. Em vez disso, o antigo Presidente apontou para uma “crise de saúde mental” que desencadeia estes episódios violentos: “Não é a arma que carrega no gatilho, é a pessoa.”

O republicano não está por isso a planear, se conseguir voltar à Casa Branca, adotar medidas restritivas ao uso e porte de arma, antes pelo contrário, favorecendo aquele tipo de medidas, mesmo nas escolas.

Para Donald Trump, e na sequência dos tiroteios em escolas, os professores também devem ter um arma, para tornarem a “escola segura”.

A fronteira do sul e o muro

Na sequência do fim do Title 42 — que determinava a expulsão imediata dos migrantes na chegada à fronteira, à boleia das restrições da pandemia da Covid-19 —, Donald Trump foi muito crítico da atuação de Joe Biden que, com a sua política migratória e com o término daquela medida, está a “destruir” os Estados Unidos.

Milhares de migrantes na fronteira EUA-México aguardam fim do Título 42

No que respeita ao muro que divide a fronteira com o México, Donald Trump garantiu que construiu “milhares de quilómetros” do mesmo durante o seu mandato, contrariando a ideia de que o projeto ficara estagnado. Para além disso, quando confrontado se voltaria com a política da separação de famílias na chegada à fronteira, o antigo Presidente deu a entender que sim.

“Soa áspero, mas é o que é“, notou, assinalando que isso diminui o número de migrantes que tentam atravessar a fronteira.

Os processos judiciais de que é alvo

Estando envolvido em vários processos judiciais, Donald Trump foi questionado sobre os mesmos. Sobre as agressões sexuais à jornalista e escritora E. Jean Carroll, o antigo Presidente reiterou que nunca a conheceu e que nem sequer “tinha a ideia de quem ela era”.

Jurando em nome dos filhos, Donald Trump ridicularizou a versão contada por E. Jean Carroll, de que o magnata a teria violado dentro de um vestiário (o que foi rejeitado pelo júri, que apenas deu como provado as queixas de agressão sexual). “Um famoso ia violar alguém num vestiário?”, questionou, recebendo palmas da audiência.

Júri considera que Trump agrediu sexualmente e difamou a jornalista E. Jean Carroll. Terá de pagar indemnização de 5 milhões

Por sua vez, no caso dos documentos confidenciais que terá levado para a sua mansão em Mar a Lago, Donald Trump disse que “tinha direito” a fazê-lo, à luz da legislação norte-americana, lamentando o facto de o FBI ter “invadido a sua casa”.

E não deixou de criticar aquele que deverá ser o seu adversário nas próximas eleições: “Biden também tinha caixas com documentos confidenciais”.