Se não fosse o efeito da inflação, a remuneração bruta total mensal média por trabalhador teria subido 7,4% no primeiro trimestre do ano, face ao mesmo período do ano anterior, mas a subida dos preços ditou um corte real de 0,6% em termos médios. Há, porém, diferenças entre o setor público e o privado: é que só este último conseguiu escapar à perda de poder de compra nos primeiros três meses do ano, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), divulgados esta quinta-feira.

Em termos reais, a remuneração bruta total no setor público diminuiu 2,5%, enquanto no privado “as remunerações aumentaram de forma mais expressiva”. Neste caso, mesmo com a inflação, o salário bruto total subiu, em média, 0,3%. Se não fosse a inflação, teria havido subidas nos dois casos: de 5,4% no público, para 1.765 euros, e de 8,3% no privado, para 1.274 euros.

“As diferenças nos níveis remuneratórios médios entre o sector das AP [administrações públicas] e o sector privado refletem, entre outras, diferenças no tipo de trabalho realizado e nas qualificações dos trabalhadores que os integram. Com efeito, verifica-se que os trabalhadores do sector das AP têm, em média, níveis de escolaridade mais elevados7: 55,2% dos trabalhadores neste sector tinham ensino superior (22,7% no sector privado), 26,6% tinham completado o ensino secundário ou pós-secundário (32,4% no sector privado) e 18,3% tinham um nível de escolaridade correspondente, no máximo, ao 3.º ciclo do ensino básico (44,9% no sector privado)”, refere o INE.

Em termos médios, juntando público e privado, a remuneração bruta total mensal média por trabalhador (por posto de trabalho1) subiu 7,4%, passando de 1.262 euros em março de 2022 para 1.355 euros um ano depois, uma subida superior à verificada no trimestre anterior, de 4,5%. “Ajustando para a inflação, medida pela variação do Índice de Preços no Consumidor (IPC), que foi de 8,0% no trimestre terminado em março de 2023, as remunerações analisadas (total, regular e base) registaram, respetivamente, as seguintes variações homólogas reais: -0,6%, -0,6% e -0,4%”, adianta o INE.

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Estes resultados abrangem 4,5 milhões de postos de trabalho, correspondentes a beneficiários da Segurança Social e a subscritores da Caixa Geral de Aposentações.

O maior aumento relativo da remuneração total, em termos nominais, deu-se nas “atividades dos organismos internacionais e outras instituições extraterritoriais” (13,2%), seguido das atividades de “eletricidade, gás, vapor, água quente e fria e ar frio” (12,2%), enquanto os menores aumentos observados nas atividades de “administração pública e Defesa; Segurança Social Obrigatória” (3,6%) e nas “atividades financeiras e de seguros” (4,2%).

As empresas mais pequenas subiram mais os salários, em percentagem. Sem considerarmos o efeito da inflação, a remuneração média total subiu mais nas empresas com um a quatro trabalhadores (8,6%) e nas que têm cinco a nove trabalhadores (8,5%), enquanto a menor variação foi registada nas empresas com 250 a 499 trabalhadores (4,4%). Em termos reais, ou seja, com o efeito da inflação, a remuneração total real aumentou nas empresas com um a quatro trabalhadores (0,6%), mas diminuiu 1,5% nas empresas com 500 e mais trabalhadores e 3,4% naquelas com 250 a 499 trabalhadores.