Recusando comentar o pedido de demissão (não aceite por Costa) de João Galamba, a sua chefe gabinete desvaloriza as reuniões preparatórias da audição de Christine Ourmières-Widener, ex-CEO da TAP em janeiro deste ano.
No decorrer da comissão de inquérito ficou a saber-se que a 17 de janeiro o grupo parlamentar do PS tinha reunido com a então CEO, que foi ouvida na comissão de economia no dia seguinte. Foi quando houve a exoneração anunciada de Frederico Pinheiro, ex-adjunto de Galamba, que este responsável denunciou a existência de uma outra reunião — a 16 de janeiro com Galamba e Christine Ourmières-Widener.
Eugénia Correia, chefe de gabinete de Galamba, em resposta a Pedro Filipe Soares, que substituiu Mariana Mortágua pelo Bloco de Esquerda na comissão, diz que não foi revelada a reunião de 16 de janeiro porque “nunca ninguém perguntou sobre uma reunião a 16 de janeiro. Foi sempre perguntado sobre a reunião de dia 17 em que a CEO esteve com o grupo parlamentar do PS”.
A do dia 16 foi “normal” do ministro com os serviços, tendo sido transmitido que a CEO pretendia ir à reunião do dia 17. “Ontem a CEO da TAP pediu para vir cá para falar da audição de quarta-feira, falei com o João (o ministro)”, perguntou Frederico Pinheiro por mensagem. O ministro acedeu e Frederico perguntou se podia marcar a reunião com o secretariado, ao que Eugénia Correia respondeu “sim, pode”. Não havia razão para que a CEO não pudesse ir à reunião do dia 17, diz ainda.
É a CEO que pede para ir falar, não foi o ministro que lhe pediu. Não vejo que constitua qualquer problema ou implique que tivesse de receber instruções sobre perguntas. É normal que o ministro quisesse frisar a situação económica e que se falasse da TAP. Isso não implica combinações”.
Questionada por Paulo Rios sobre o que pensa sobre o carácter de Frederico Pinheiro, Eugénia Correira diz que não quer “tecer considerações sobre o carácter e profissionalismo” do ex-adjunto, apenas constatar factos.
“Revelou não cumprir as minhas orientações, porque não tinha os registos dos pedidos de reunião com a CEO da TAP. Posso também falar do facto de o Frederico Pinheiro, quando questionado sobre a reunião com o PS, transmitir perante muitas testemunhas que não havia notas. Mais tarde, em cima do prazo, diz que há notas sem apresentar o ficheiro eletrónico”, relata. “É o que eu tenho de factos sobre o trabalho que desenvolvi com ele”. Eugénia Correia diz que não esteve nas reuniões de 16 e 17 de janeiro, mas foi-lhe transmitido a 5 de abril que não teria notas.
Na reunião de dia 5 de abril, estiveram, além de Frederico Pinheiro, Cátia Rosas, que faz a ligação com a Assembleia da República, Rita Penela, assessora de imprensa, e Marco Rebelo, chefe de gabinete em substituição. Não esteve o ministro”, refere a chefe de gabinete. A reunião, diz, destinava-se a reunir documentos para responder ao Parlamento e foi aí que Frederico Pinheiro foi questionado sobre se tinha notas da reunião com a CEO da TAP, de 17 de janeiro.
“Frederico Pinheiro disse que não se lembrava, que não havia notas e que não se recordava sobre quem tinha estado na reunião”, diz Eugénia Correia que acusa: “Diz que coordenou a reunião mas não se lembra do que aconteceu, não tinha notas e não se lembrava de quem tinha estado”.
Do seu lado, a chefe de gabinete refere a existência de “quatro testemunhas”, que estavam na reunião: “É a diferença entre o que Frederico Pinheiro vai proferindo e os factos”.
Só a 24 de abril, quando já estava em Singapura com o ministro, é que a chefe de gabinete diz ter recebido uma mensagem de Cátia Rosas a dar conta de “informações do Frederico” — eram as notas que Eugénia Correia diz que só naquela altura soube que existiam, contrariando a informação prestada na mesma comissão por Frederico Pinheiro.
A partir daí refere as várias insistências que foram feitas, por ela e pelo ministro, para Frederico Pinheiro enviasse as notas. Também revela que desconfiou das notas e que pediu que fosse enviado o ficheiro para conseguir verificar a data da criação do mesmo, para perceber se tinha sido criado no dia 17 de janeiro, data da reunião preparatória. “As circunstâncias como notas aparecem implicariam que deixasse alerta que não foram conferidas nem confirmadas por nenhum dos presentes”, refere.
“O ficheiro não foi enviado e foi entregue um papel com as notas que Frederico Pinheiro diz ter tirado. Papel esse que demorou 28 horas a ser entregue e que tinha sempre sido negado”, afirma.
Aliás, este aspeto tem sido reforçado várias vezes por Eugénia Correia de que Frederico Pinheiro quando informou que tinha notas da reunião deu-as em papel, apesar de lhe ter sido pedido o ficheiro eletrónico dessas notas, tendo a chefe de gabinete indicado mesmo que se pretendia verificar a data de criação do ficheiro.
Questionada pelo PS, Eugénia Correia revela que Frederico Pinheiro enviou um email a Cátia Rosas com as notas. “Pedi a Cátia Rosas que pedisse o ficheiro word onde as tinha feito para certificar que documento tinha sido feito no dia da reunião da CPI”. Pinheiro não acedeu, diz, e, “em vez do word, entregou isto (colocação do texto no corpo do email) o que qualquer um pode fazer a qualquer momento”.
“Julgo que é igual ao que veio para esta comissão, foi colocado no email”. Questionada sobre se o documento tem gralhas ou abreviaturas, como no que foi enviado à CPI, confirma que sim. “Uns ‘n’ que querem dizer não e algumas abreviaturas”. Mas não tem o ficheiro informático correspondente ao documento. A recusa em enviar o ficheiro original “foi confirmada, não fui eu que pedi, não foi explicado o porquê”.
A chefe de gabinete reforça, na audição da comissão de inquérito, que não tem as notas de Frederico Pinheiro noutro suporte que não seja em papel. “Tentei comprovar se tinha sido criado o ficheiro com notas a 17 de janeiro. Tive também o cuidado de colocar no ofício destas notas que o seu conteúdo não tinha sido confirmado nem infirmado por alguém presente naquela reunião”.
Aliás foi na tentativa de se recuperar mensagens trocadas com a CEO da TAP que estariam no telemóvel de Frederico Pinheiro que o arquivo do telemóvel do ex-adjunto acabou apagado, depois de uma intervenção dirigida pelo informático mas feita pelo então adjunto no seu próprio telemóvel. Eugénia Correia diz que pretendia ver se existia confirmação de que tinha sido a CEO da TAP a solicitar a presença na reunião preparatória com deputados do PS.