A dispersão do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central (CHULC) por 134 edifícios custa cerca de 100 milhões de euros, uma despesa que deixará de existir com o futuro Hospital de Lisboa Oriental, afirmou a presidente do CHULC.

“Vamos esperar que o novo hospital que já está adjudicado — o próximo passo é assinatura do contrato — seja efetivamente uma realidade e que estes custos de contexto que ascendem quase a 100 milhões possam deixar de existir”, adiantou à Lusa Rosa Valente de Matos.

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O CHULC integra os hospitais de São José, Santo António dos Capuchos, Santa Marta, Dona Estefânia, Curry Cabral e a Maternidade Alfredo da Costa, a que se junta a Clínica de Atendimento Pré-Operatório, localizada no antigo Hospital de São Lázaro e que permite aos utentes realizar todas as etapas prévias à cirurgia num único dia.

“São sete unidades com 134 edifícios espalhados pela cidade de Lisboa. Somos o maior centro hospitalar a nível nacional e não conheço nenhuma outra realidade parecida na Europa com esta dimensão e, sobretudo, com esta dispersão”, adiantou a presidente do conselho de administração.

Em julho de 2022, o Governo adjudicou a obra do Hospital de Lisboa Oriental (HLO), que será construído em Marvila, num regime de Parceria Público-Privada (PPP), que contará com 875 camas e projetado para concentrar a maior parte da atividade desempenhada atualmente pelo CHULC.

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Além dos custos de contexto acrescidos, a atual dispersão do CHULC, que tem cerca de 8.200 funcionários, exige mais recursos humanos para o funcionamento das várias unidades que o integram em vários pontos da cidade.

“Um hospital monobloco tem um serviço de urgência. Eu tenho neste momento abertas ao público três urgências — a pediatria, a obstétrica e a geral”, a que se juntam as urgências internas, explicou Rosa Valente de Matos.

Na prática, exemplificou a gestora, enquanto outros hospitais necessitam entre seis e oito anestesistas, o CHULC tem de “ter 12 a 14 diariamente de urgência”, um acréscimo de especialistas que acaba por ter também impacto na atividade programada do bloco operatório.

Além das dificuldades impostas pela dispersão, o centro hospitalar debate-se com a falta de cerca de 200 enfermeiros, funcionando atualmente com perto de 2.700 desses profissionais de saúde.

“Se compararmos 2020 com 2023, verificamos que o pessoal de enfermagem tem vindo a diminuir. Há realmente uma grande carência, neste momento, de enfermeiros e que não é fácil de captar por múltiplas razões”, salientou a presidente.

Para compensar esta carência, até porque não há “muitos instrumentos para cativar os profissionais a ficar, o conselho de administração tem feito uma aposta nos centros de responsabilidade integrados”, um modelo de gestão intermédia inovador, que já permitiu criar nove destas estruturas com autonomia funcional e técnica, adiantou.

Os profissionais de saúde das várias áreas que integram estes centros de responsabilidade têm acesso a vários incentivos, incluindo financeiros, que estão diretamente relacionados com o desempenho alcançado.

Quanto aos médicos, Rosa Valente de Matos referiu que o CHULC tem algumas especialidades mais carenciadas como a anestesiologia, a radiologia, a medicina física e de reabilitação, a pediatria e a obstetrícia, mas o centro aumentou o número de médicos em formação, o que é “um bom sinal”.

“Agora temos é de criar mecanismos para que esses médicos possam ficar efetivamente ficar connosco e em Portugal”, sublinhou a presidente da administração, para quem esta é uma nova geração de médicos que “quer inovação e investigação, mas também quer qualidade de vida e tempo para eles”, o que faz com que a questão dos horários mais rígidos “tenha de ser revista”.

Ao nível do financiamento para este ano, o CHULC assinou um contrato programa de 497 milhões de euros, um montante que representa um aumento de 42% em relação a 2018, o que quer dizer, segundo Rosa Valente de Matos, que o centro hospitalar “está a ser mais eficiente”.

Além disso, conseguiu reduzir a dívida de cerca de 160 milhões de euros para os atuais 118 milhões.

Já quanto à atividade assistencial, o CHULC debate-se com o paradoxo de aumentar a produção de consultas e cirurgias após a fase crítica da pandemia e, simultaneamente, ver as listas de espera aumentar, devido ao cada vez maior número de doentes que têm sido encaminhados pelos centros de saúde.

Nós produzimos mais, mas a entrada de doentes é cada vez maior. Isso verificou-se logo a seguir à pandemia”, alertou a presidente do conselho de administração.

Na prática, a procura por consultas de especialidade aumentou 27% nos primeiros quatro meses deste ano face ao mesmo período de 2019, tanto ao nível interno (pedidos de primeira consulta solicitados por outras especialidades e pelo serviço de urgência interna), como externo (reencaminhados pelos centros de saúde), tendo passado de 19.813 referências em 2019 para 25.143 em 2023.

Já em relação à atividade cirúrgica, os dados do CHULC indicam que, nos primeiros quatro meses de 2023, foram feitas 14.555 intervenções, mais 1.324 do que em igual período de 2019.

Apesar deste aumento de produção do centro hospitalar, no mesmo período a lista de espera para cirurgia aumentou 3,8% face ao período homólogo de 2019.

De acordo com o CHULC, encontram-se atualmente mais de 15.000 doentes inscritos para cirurgia, com uma mediana de tempo de espera de 5,3 meses.

“Aquilo que distingue este centro hospitalar são efetivamente os profissionais de excelência que temos a trabalhar e uma cultura que valoriza diariamente o conhecimento, a inovação o que também atrai alguns profissionais para poder responder aos utentes”, assegurou Rosa Valente de Matos.