João Galamba volta a normalizar as reuniões preparatórias dos deputados com depoentes. “Preparação política não é manipulação, deturpação ou ocultação”, defende o ministro das Infraestruturas. Galamba diz que não sabe que reuniões preparatórias aconteceram no governo PSD/CDS, “mas não considero impróprio que as reuniões tenham ocorrido. Não há nada de impróprio em si mesmo mas pode haver comportamentos impróprios que nestas reuniões não houve”.

Galamba recorre depois a exemplos de outros políticos, como Afonso Oliveira do PSD que preside à comissão de economia, e participou em comissões de inquérito no governo PSD/CDS. “Os deputados do PSD não tiveram reuniões preparatórias com Maria Luís Albuquerque? Devo ser o primeiro governante em exercício que vem a uma comissão de inquérito e não teve nenhuma reunião preparatória. São normais. Não estou a dizer isto para acusar deputados de comportamento impróprio”.

Bernardo Blanco pede exemplos de uma reunião entre o Governo, o PS e alguém de outra entidade. Galamba responde que está neste momento a preparar com a IP o plano ferroviário, que “implicará escolhas sensíveis, umas serão aplaudidas” e outras não. Neste caso, defende, poderia fazer sentido preparar politicamente sobre “o porquê da cidade x ou região y ter sido preterida”.

Do tempo em que era deputado recorda reuniões com Carlos Costa Pina na CPI do BPN e com o ministro Teixeira dos Santos. “São normais”. E garante: “Participei, nos meus 9 anos de deputado, em muitas reuniões preparatórias, seja reuniões ordinárias de comissão ou de inquérito”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

As reuniões preparatórias têm sido um dos temas principais da audição de João Galamba. Garante que a reunião de 16 de janeiro foi feita a pedido da ex-CEO da TAP. Para o ministro, essas reuniões não são apenas normais “mas um dever”. E o que não teria sido normal seria não reunir. Sobre os temas abordados na reunião, Galamba diz que a CEO falou dos resultados da companhia, que se sabia que seriam bons. Garante que não falou de “manipulação ou ocultação ao parlamento”. Na altura da audição do dia 18 de janeiro, os restantes temas estavam a ser avaliados pela IGF, “não tinha mais nada a dizer até sair o relatório, coisa que fiz”.

Já a reunião do dia 17 de janeiro não contou com a participação do ministro, afirma. A participação da CEO nessa reunião, repete Galamba, teve lugar a pedido da mesma. “Foi a própria CEO através de Frederico Pinheiro” que diz que quer ir à reunião do dia 17. “Não tenho razão para duvidar, ela agradeceu”.

Sobre a audição do dia 18, o ministro diz que ouviu da ex-CEO “o que sempre se ouviu publicamente” da gestora. “A minha preocupação era ver se se falava da TAP e falou-se”, porque a intervenção inicial da CEO foi sobre a TAP e a primeira, do PSD, também.

Deputado Carlos Pereira fez perguntas à ex-CEO da TAP que constam nas notas de adjunto de Galamba reveladas pela SIC

No dia 4 de janeiro, quando chegou ao ministério, o caso Alexandra Reis já estava na IGF. “A minha preocupação era preservar a companhia que tutelo e que o conselho de administração pudesse continuar a funcionar. Eu não tinha nada a dizer sobre essa matéria. Não há nenhuma intervenção pública minha sobre o caso Alexandra Reis”.

E prossegue. “Eu sou o ministro novo, não tenho nenhum envolvimento, sou a pessoa que não tem nada a ver. Uma reunião pode ser imprópria, se eu tivesse dito ‘aldrabe’. Mas o facto de ocorrer é normal”.

Foram essas duas reuniões, de 16 e 17 de janeiro, que originaram outra polémica deste processo. Frederico Pinheiro, então adjunto de Galamba, terá tomado notas dessas mesmas reuniões, mas, na versão do ministro e da sua chefe de gabinete, quando questionado o então adjunto sobre as informações que tinha das reuniões só em final de abril revelou ter notas das reuniões. Segundo a versão do gabinete, numa reunião a 5 de abril, quando se estava a reunir documentação para enviar à comissão parlamentar de inquérito, Frederico Pereira não terá revelado a existência dessas notas. A versão de Pinheiro indica que foi nessa reunião, que diz que teve a presença de Galamba, que houve uma tentativa de omitir informação à CPI.

Eugénia Correia garantiu que Galamba não esteve nessa reunião, de dia 5 de abril, e esta quinta-feira, João Galamba garantiu que entrou duas vezes na reunião, mas só para perguntar se estava a correr bem, já que, citando a agenda, diz que tinha uma reunião marcada com a Salvador Caetano.

Bruno Aragão continua, agora sobre a reunião de 5 de abril, com o ministro a negar que tenha participado nela. “Entrei duas vezes nessa reunião para perguntar se estava a correr bem. Era típica de gabinete, coordenada pela chefe de gabinete, a minha única intervenção na reunião foi a orientação política que dei: tudo reunido e tudo enviado à CPI”.

Na agenda desse dia, concretizou, “a reunião começou às três da tarde e a essa hora tinha uma reunião com a Salvador Caetano”, justifica, dizendo que estava na sala ao lado.

Galamba diz que só conheceu as notas das reuniões de janeiro “quando foram enviadas num email que também lhe era destinado. Foi aí a primeira vez que tive conhecimento das notas”. “Depois de bastantes meses a negar ter notas, afinal havia notas”, diz sobre o que foi registado por Frederico Pinheiro e acompanhando a versão dos factos que foi avançada pela sua chefe de gabinete na comissão de inquérito na noite de quarta-feira.

“Se o meu gabinete sempre tivesse sabido das notas e tivesse tomado a decisão de não divulgar, seria estranho a dia 24 dizer que tinha as notas e suspender o envio. Há testemunhas. Não há uma única testemunha de Frederico Pinheiro nem factos que o comprovem”. Segundo Galamba, “os factos sustentam uma narrativa e não há nenhum que sustente a outra. Para perceber a realidade temos de empaticamente tentar passar para o outro lado. Neste caso não consigo”.

A mensagem que Frederico Pinheiro enviou a dizer que seria melhor repensar o não envio das notas, diz Galamba, é enviada depois. “É uma mensagem absurda naquele contexto. É pior que falsa, é inteligível. Perante o desespero à volta, essa mensagem é fabricada. Não há contradições, há duas versões que não batem certo uma com a outra. Mas uma é sustentada em factos e testemunhas e a outra não”.

Estas reuniões foram logo tema no início da inquirição, altura em que Pedro Filipe Soares, do Bloco de Esquerda, acusou o ministro das Infraestruturas de ter mentido sobre a reunião entre a CEO e membros do seu gabinete. “Mentiu ao país e omitiu a realização de uma reunião da CEO com membros do seu gabinete”, insiste o deputado.

João Galamba remete para o primeiro comunicado do Ministério que, “reafirmo integralmente, não configura nenhuma mentira. Não menti ao país. O comunicado era e é 100% válido. Quer especificar qual é a mentira?” E prossegue com a resposta. Foi uma reunião normal e sugere que o deputado do BE também esteve em algumas quando o partido apoiava o governo PS. “Não o estou a acusar de nada”. O ministro repete que foi informado da vontade da ex-CEO em participar pelo seu ex-adjunto e que deu o seu aval.

João Galamba diz que o tema mudou para como a ex- CEO teve conhecimento. E aí remete para a reunião do dia 16 de janeiro que fez com a presidente executiva e que só recentemente foi conhecida e porque ninguém lhe perguntou antes. João Galamba diz mesmo que foi o próprio a revelar esta reunião de 16 de janeiro.