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Aursnes cansou-se e mandou encomendar as faixas (a crónica do Sporting-Benfica)

Este artigo tem mais de 1 ano

90 minutos de dérbi resumiram 2.970 minutos de uma época, com o Sporting a mostrar as virtudes e defeitos de uma bipolaridade provocada por um norueguês que é o segredo do quase campeão Benfica (2-2).

Aursnes fez o primeiro remate enquadrado do Benfica no jogo, marcou o golo que reduziu a desvantagem e foi um dos mais inconformados sobretudo na segunda parte
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Aursnes fez o primeiro remate enquadrado do Benfica no jogo, marcou o golo que reduziu a desvantagem e foi um dos mais inconformados sobretudo na segunda parte

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Aursnes fez o primeiro remate enquadrado do Benfica no jogo, marcou o golo que reduziu a desvantagem e foi um dos mais inconformados sobretudo na segunda parte

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Os 13 pontos de diferença entre Sporting e Benfica a duas jornadas do final da Primeira Liga significavam muito mais do que o azar que o número atrai consigo mas espelhavam a diferença que entroncava sobretudo no que aconteceu na primeira volta da prova. Aí, houve um Benfica arrasador e um Sporting bipolar. Daí para cá, as coisas foram mais equilibradas: os encarnados conseguiram 39 pontos num caminho só com vitórias e duas derrotas (FC Porto e Desp. Chaves), os leões alcançaram 38 pontos num percurso só com triunfos entre dois empates (Gil Vicente e Arouca) e um desaire (FC Porto). Mais: olhando para os dérbis desde que Rúben Amorim assumiu o comando do conjunto verde e branco, havia um empate técnico nos duelos entre ambos com três vitórias para cada lado e um empate. O que parecia um duelo desequilibrado podia não ser assim tanto. No entanto, este era mais do que o 316.º capítulo da maior rivalidade do futebol português.

Benfica empata dérbi em Alvalade frente ao Sporting e fica a um ponto do título

Com a vitória do FC Porto em Famalicão, o Benfica não conseguiu repetir aquelas imagens que se viram por exemplo em Manchester com os jogadores do City a fazerem a festa no sofá em estágio. Ainda assim, e pela primeira vez, jogava a depender apenas de si para carimbar um título há muito anunciado e que já fugia há quatro anos, atravessando uma nova fase positiva e de confiança como se viu nas últimas quatro vitórias após 13 dias de pesadelo com duas derrotas no Campeonato e a eliminação na Liga dos Campeões. O que mudou? A adaptação de sucesso de Aursnes ao lado direito da defesa (ou não fosse ele bom em qualquer posição), o lançamento de João Neves como alicerce no meio-campo, a aposta na largura e criatividade que David Neres oferece à equipa. Sem mudar o plano A, criou nele um plano B e essa podia ser a chave do título. 

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“Trabalhámos arduamente, temos de trabalhar pelos nossos objetivos. Estamos concentrados em nós porque se vencermos somos campeões. É uma grande motivação para nós. O Sporting é uma equipa de topo. Têm muita criatividade, são rápidos, têm uma abordagem clara, um bom treinador, são muito perigosos em momentos de transição. Será um jogo muito difícil mas estamos em grande forma. Temos jogado um futebol excelente. Respeitamos o adversário mas estamos concentrados e acreditamos em nós. Se jogamos sempre da mesma forma? Claro, tentamos sempre jogar sempre consoante a nossa visão do futebol e depois ajustar-nos consoante o adversário. As tarefas são sempre um bocadinho diferentes mas de forma geral confiamos no nosso estilo de futebol. Muita posse, muitas movimentações, muita pressão, pressão alta…”, comentara no lançamento Roger Schmidt, entre elogios a tudo o que Grimaldo fez no Benfica ao longo de sete anos e meio sem deixar de criticar a forma como foi apresentado no novo clube, o Bayer Leverkusen.

Já o Sporting, que à partida jogaria apenas pelo orgulho e para honra, ganhou um pequeno balão de oxigénio na esperança de lutar até à última jornada pelo terceiro lugar e consequente apuramento para a terceira pré-eliminatória da Liga dos Campeões com o empate do Sp. Braga no Bessa nos descontos, sendo que teria de ganhar o dérbi e esperar ainda na última ronda que os minhotos não ganhassem ao P. Ferreira. Não dependia apenas de si mas ganhara uma outra luz para além de uma outra quase latente no último encontro realizado esta temporada em Alvalade: evitar que o velho rival fizesse a festa no seu estádio como acontecera apenas uma vez na história há quase 50 anos e igualar a melhor série da época na Liga com cinco vitórias após uma primeira metade de época em que a bipolaridade tomou conta dos resultados e das exibições da equipa.

“Não considero o Benfica mais favorito, considero que não temos nada a ganhar neste jogo. É sempre difícil porque não estamos a lutar pelo Campeonato. O Benfica ainda tem uma margem, mesmo que não consiga vencer em Alvalade. Já estivemos do outro lado. A preparação foi igual e, para mim, é indiferente quem vai ser campeão. Fizemos muitas coisas erradas com o Marítimo e o trabalho foi esse, ver como vamos melhorar. Temos um plano para seguir em frente e tornar esta equipa melhor, o resto só nos vai atrapalhar. É um jogo difícil, mas fomos nós que fizemos esta cama e vamos deitar-nos nela. Tudo o que pudermos retirar neste jogo vai servir no futuro. Temos um jogo difícil e estamos nesta situação por culpa nossa, vamos em frente e jogar para ganhar”, salientara Rúben Amorim, que se mostrou também indiferente a quem poderia ser campeão no final e passou ao lado da ida ao concerto dos Coldplay por alguns jogadores de folga.

Era neste contexto que chegava um dérbi de alto risco, que pela segunda vez na história poderia colocar o Benfica a fazer a festa em Alvalade frente ao Sporting após o empate a um que deu o título em 1974/75, algo que Schmidt dizia não ser relevante e “uma mera coincidência”. E um dérbi de alto risco a todos os níveis, dentro e fora do estádio, com uma tensão latente maior do que é normal num duelo que é sempre mais do que isso. Foi isso que sentiu ao longo de todo o encontro, que teve a melhor versão do Sporting a colocar o Benfica no bolso em 45 minutos antes da reação dos encarnados com muito demérito leonino à mistura que permitiu ainda chegar ao empate nos descontos. João Neves, autor do 2-2, foi um elemento incansável ao longo de todo o encontro mas foi Ausrnes a mostrar da melhor forma as virtudes e defeitos das duas equipas não só esta noite mas ao longo da época até se fartar e mandar encomendar as faixas de campeão enquanto os leões ficaram sem a pequena esperança da Champions que o Sp. Braga abrira na véspera.

Ficha de jogo

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Sporting-Benfica, 2-2

33.ª jornada da Primeira Liga

Estádio José Alvalade, em Lisboa

Árbitro: João Pinheiro (AF Braga)

Sporting: Franco Israel; Diomande, Coates, Gonçalo Inácio; Ricardo Esgaio (Bellerín, 72′), Ugarte, Morita (Dário Essugo, 79′), Nuno Santos (Arthur, 79′); Francisco Trincão (Matheus Reis, 72′), Marcus Edwards (Paulinho, 54′) e Pedro Gonçalves

Suplentes não utilizados: Diego Calai, Neto, Fatawu e Chermiti

Treinador: Rúben Amorim

Benfica: Vlachodimos; Aursnes, António Silva, Otamendi, Grimaldo (Ristic, 86′); João Neves, Chiquinho (Florentino Luís, 81′); David Neres, João Mário (Bah, 46′), Rafa (Gonçalo Guedes, 66′) e Gonçalo Ramos (Musa, 66′)

Suplentes não utilizados: Samuel Soares, Gilberto, Lucas Veríssimo e Morato

Treinador: Roger Schmidt

Golos: Francisco Trincão (39′), Diomande (44′), Aursnes (71′) e João Neves (90+2′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a António Silva (40′), Diomande (48′), Chiquinho (80′) e Coates (88′)

O encontro começou com um Sporting melhor e sobretudo mais capaz de colocar em prática o seu jogo com e sem bola. Em posse, e num dos pontos que Rúben Amorim trabalhou para a partida, notava-se a vontade de tentar sempre que possível variar rápido os corredores para encontrar situações de superioridade ou igualdade numérica; sem bola, e por forma a evitar saídas rápidas que passassem pela fase de construção de João Neves e/ou Chiquinho. Mais: mesmo sabendo que Franco Israel estava a viver uma experiência nova na baliza, os leões saíam em posse a partir de trás com alguns passes de risco perante a pressão mais alta que o Benfica de quando em vez tentava fazer como numa jogada que terminou com Pedro Gonçalves a ver uma tentativa de remate desviada para canto. Ainda assim, e nos 15 minutos iniciais, houve um remate de Trincão de meia distância que saiu à figura de Vlachodimos (7′) e um cabeceamento de Diomande ao lado (12′).

[Clique nas imagens para ver os melhores momentos do Sporting-Benfica em vídeo]

Otamendi assumia o seu papel de líder num Estádio José Alvalade em completa erupção nos dois lados da barricada, pedindo à equipa para colocar “gelo” no jogo e ter momentos de maior posse em construção que pudessem equilibrar os pratos da balança e fizessem chegar a bola em ataque organizado às unidades mais ofensivas que se colocavam à entrada do último terço. No entanto, voltou a ser o Sporting a ficar desta vez muito perto do golo numa jogada entre Marcus Edwards e Ricardo Esgaio à direita com cruzamento tenso do lateral que Pedro Gonçalves, isolado na pequena área, não conseguiu desviar para a baliza (21′). Só mesmo aos 25′ chegou o primeiro esboço de oportunidade dos encarnados, com um mau corte de Coates a originar uma jogada que chegou até Grimaldo para o desvio de cabeça de Rafa por cima em posição irregular.

João Mário era como aqueles aparelhos para nunca se perder nada que assinalam a presença de algo perto, sendo sempre assobiado de forma ruidosa quando tocava na bola. Contudo, alheio a isso, era o médio que ia dando equilíbrios ao Benfica com e sem posse, descendo para acompanhar Nuno Santos sempre que o ala leonino se projetava em termos ofensivos. Era por isso que, pela esquerda, o Sporting criava perigo quando tentava o cruzamento largo ou combinava com um dos médios que caísse na zona (sobretudo Morita). À direita a história era outra e os movimentos de Esgaio por dentro ou por fora desequilibravam, com o lateral a aparecer para um remate ao segundo poste após cruzamento da esquerda que Vlachodimos defendeu com uma grande estirada para canto (32′). A pressão verde e branca funcionava mas não tinha resultados.

A superioridade a todos os níveis dos leões acabaria por ser coroada já perto do intervalo e logo numa dose dupla que marcaria aquilo que seria a segunda parte. Primeiro, numa das poucas ocasiões em que João Mário não foi a tempo de chegar à pressão de Nuno Santos, o esquerdino fez um passe fantástico para Trincão que António Silva não conseguiu cortar, Vlachodimos ainda conseguiu travar o primeiro remate mas o antigo jogador do Barcelona ficou com a bola para marcar na recarga (39′). Ato contínuo, numa saída de novo a queimar linhas em velocidade, Nuno Santos cruzou tenso, António Silva ainda conseguiu cortar para canto mas, nessa bola parada marcada pelo esquerdino, Diomande desviou de cabeça para o 2-0 (44′).

Roger Schmidt tinha de fazer algo para “acordar” um Benfica que ainda não tinha entrado na partida e tinha uma desvantagem de dois golos com mérito do Sporting mas muito demérito também dos encarnados. Logo no descanso, o técnico abdicou de João Mário para lançar Bah, avançando Aursnes num flanco que ganhou quase de imediato outra profundidade e projeção ofensiva sobretudo num lance em que as águias pediram grande penalidade de Ugarte sobre o dinamarquês. Havia outra disponibilidade, melhor atitude, uma maior capacidade de condicionar o jogo leonino mais longe da baliza mas até aos 65′ o único remate com relativo perigo e para defesa fácil de Franco Israel foi de Aursnes em zona central, após boa recuperação logo à saída da área de João Neves (46′). Amorim abdicava de um Edwards a perder gás por Paulinho, descia um pouco as linhas mas ficava muitas vezes com as jogadas a meio sem chegar a fazer o último passe.

Schmidt voltava a tentar fazer algo a partir do banco, mexendo só em jogadores e características mas não no sistema. Gonçalo Guedes e Musa renderam Rafa e Gonçalo Guedes e o croata não demorou a mostrar serviço com uma cavalgada desde o meio-campo que terminou com um remate que saiu perto do poste (69′). Estava dado o mote que o Benfica precisava frente a um Sporting que deixava de ter capacidade de saída ou de ter bola perante a pressão crescente dos encarnados. Foi nesse contexto que, numa jogada de insistência com um cruzamento da esquerda, Aursnes levantou-se na área de forma rápida para desviar de cabeça à ponta de lança para o 2-1 que relançava o dérbi apesar das alterações que Amorim ia fazendo para mexer numa equipa em quebra (71′). A partir daí, foi o espelho da época a vigorar: Vlachodimos tirou o golo a Paulinho por duas vezes (77′ e 86′) e João Neves chegou ao empate nos descontos num lance confuso na área (90+4′).

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