O Palácio de Buckingham recusa exumar Alemayehu, o príncipe etíope que foi levado para o Reino Unido com apenas sete anos pelo exército britânico e que morreu aos 18, possivelmente vítima de pneumonia. A Casa Real britânica argumenta que não seria, nesta altura, possível retirar as ossadas sem “perturbar” o local onde estão os restos mortais de outros defuntos.
É isso que diz o Palácio de Buckingham numa declaração enviada à BBC: “É muito improvável que fosse possível exumar os restos mortais sem perturbar o local de repouso de um número substancial de outros [defuntos] nas proximidades”. Buckingham diz-se sensível à necessidade de honrar a memória do príncipe, mas acrescenta que tem a “responsabilidade de preservar a dignidade do defunto” e que já permitiu a visita de delegações etíopes à capela de São Jorge, no Castelo de Windsor, em cujas catacumbas está sepultado Alemayehu.
A história da chegada do príncipe — um alegado descendente do rei bíblico Salomão — ao Reino Unido remonta a 1868. Segundo explica a BBC, anos antes, o pai do príncipe, o imperador Teodoro II, tentou firmar uma aliança com o Reino Unido para fortalecer o seu império e, para isso, terá enviado cartas à Coroa. Mas não obteve uma resposta da Rainha Vitória. Para se vingar, fez vários europeus reféns, o que desencadeou uma expedição militar que envolveu cerca de 13.000 tropas britânicos e indianos para os libertar, que resultou na Batalha de Maqdala, ganha pelo Reino Unido.
Recusando ser capturado, o imperador Teodoro II suicidou-se. No rescaldo da expedição, o exército britânico levou para o Reino Unido milhares de artefactos culturais e religiosos, como manuscritos ou coroas. Mas também o príncipe Alemayehu e a mãe, a imperatriz Tiruwork Wube, que morreu durante a viagem até ao Reino Unido. O objetivo seria proteger mãe e filho dos inimigos de Teodoro II.
Alemayehu tinha apenas sete anos quando foi levado para terras britânicas, em junho de 1868. Órfão, ganhou a simpatia da Rainha Vitória, que garantiu o seu sustento financeiro e o colocou à guarda do homem que o acompanhou na viagem, o capitão Tristram Charles Sawyer Speedy, que levou Alemayehu a conhecer várias partes do mundo, como a Índia.
Mas o príncipe, que teria o desejo de voltar a terra-natal, viria a ter uma educação formal, e foi enviado para escolas britânicas, onde terá sido vítima de bullying. Os meios de comunicação britânicos falam numa infância profundamente infeliz.
Alemayehu acabaria por adoecer, possivelmente de pneumonia e, por recusar tratamento (acreditava que tinha sido envenenado), morreu em 1879 aos 18 anos, mais de uma década depois de ter chegado ao exílio. O jovem foi sepultado na capela de São Jorge, a pedido da Rainha Vitória.
Esta não é a primeira vez que a Etiópia quer o regresso dos restos mortais do príncipe. Em 2007, o então Presidente do país Girma Wolde-Giorgis pediu formalmente à Rainha Isabel II que repatriasse as ossadas, mas sem sucesso. Na altura a resposta que obteve da Casa Real foi que, embora a Rainha apoiasse a transladação, “não seria possível” identificar os restos mortais do jovem príncipe, que está sepultado com outros nove corpos, segundo o The Guardian.