O Presidente timorense disse esta terça-feira que deseja um processo rápido de formação do novo governo, para permitir a eventual aprovação de um Orçamento retificativo, saudando a população pela forma exemplar como participou nas legislativas de domingo.

“Quero que o processo seja rápido: formação de governo e apresentação do programa do governo, apresentação do retificativo. E é necessária muita seriedade de parte de todos à questão do processo de adesão à ASEAN”, disse José Ramos-Horta à Lusa, numa reação à votação de domingo, que deu a vitória ao Congresso Nacional para a Reconstrução de Timor-Leste (CNRT), de Xanana Gusmão.

O chefe de Estado referia-se ao processo de adesão à Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), organização na qual Timor-Leste tem estatuto de observador.

No caso do processo até à formação do novo Governo, Ramos-Horta antecipa que os novos deputados do parlamento tomem posse “na segunda semana de junho” e que o executivo assuma funções uma semana depois.

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Ramos-Horta deixou ainda uma palavra para os vencedores: “Espero que quem ganhou revele a grandeza de quem ganha, a humildade dos grandes e dê o primeiro passo, cumprimentar os declarados vencidos”.

O Presidente deixou uma mensagem de congratulação a toda a população timorense, vincando o “excecional comportamento cívico”, e a participação “em número recorde” no voto, com a taxa de abstenção a ser de menos de 18%.

“Os partidos políticos comportaram-se bem, não houve qualquer ato de violência. Os incidentes de violência registados, não foram obviamente provocados ou criados pela liderança política ou partidos, foram elementos isolados a agirem por conta própria”, afirmou.

“A democracia timorense é real, está enraizada no quotidiano e na cultura timorenses”, enfatizou.

Apesar disso, notou, houve alguns “incidentes isolados de retaliação pós-eleições”, especialmente na zona de Ermera, onde uma timorense “perdeu o seu quiosque, que foi queimado, e um senhor perdeu todos os porcos que tinha por retaliação”.

No rescaldo eleitoral, Ramos-Horta defendeu uma revisão da lei eleitoral e do sistema de votação, considerando que o país continua a usar “tecnologia do século XX”, quando deveria digitalizar todo o processo eleitoral.

“Vou exigir que se faça, que o STAE faça esse trabalho. Para que de futuro um timorense possa votar em qualquer ponto do país ou do mundo, sem termos que gastar fortunas para montar o sistema na altura da votação”, afirmou.

É ainda necessário, defendeu, atualizar adequadamente os cadernos eleitorais, para remover cidadãos já falecidos, e que se melhore o sistema de comunicação da contagem a todos os jornalistas e à população em geral.

“Não pode haver monopólio de seja quem for, um órgão do Estado, ou seja quem for. Tem de haver total acessibilidade para qualquer media para todos acompanharem ao momento o ato e as contagens”, disse.

A única forma de acompanhar a progressão da contagem foi visitando o próprio Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE), para observar o escrutínio em dois ecrãs, ou através de uma retransmissão desses dados pela Rádio e Televisão de Timor-Leste (RTTL).

Esse sinal com os dados da contagem não foi disponibilizado a qualquer outro órgão de comunicação social e não existia num sítio online.

O chefe de Estado saudou declarações do atual ministro da Presidência de Conselho de Ministros, Fidelis Magalhães, que esta terça-feira disse à Lusa que o executivo está a preparar uma transição “condigna e de qualidade” para o novo executivo.

O Congresso Nacional para a Reconstrução de Timor-Leste (CNRT), de Xanana Gusmão, venceu as eleições parlamentares de domingo, mas sem maioria absoluta, obtendo a maior vitória de sempre, garantindo 31 dos 65 lugares do parlamento.

Eleições em Timor-Leste: CNRT, de Xanana Gusmão, vence legislativas com 41,62%

Em segundo lugar ficou a Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), registando o pior resultado de sempre do partido em termos percentuais, perdendo quatro dos atuais 23 lugares.