O Presidente de Timor-Leste disse este domingo que o país não quer ser uma “dor de cabeça” para a Associação de Nações do Sudeste Asiático, mas ajudar a fortalecer o consenso regional nos esforços de paz e segurança.
“O nosso primeiro contributo é que não queremos ser um peso, uma dor de cabeça para a ASEAN [Associação de Nações do Sudeste Asiático]. Vamos manter a paz no nosso país e apostar no desenvolvimento o máximo possível”, disse José Ramos-Horta no Diálogo de Shangri-La, uma conferência sobre segurança a decorrer em Singapura.
“A nossa melhor contribuição é que não queremos ser outra catástrofe como Myanmar. A ASEAN tem aqui um grande desafio e apoiaremos no possível para resolver estes desafios na nossa região”, vincou.
José Ramos-Horta falava em Singapura na abertura da 6.ª sessão plenária do Diálogo de Shangri-La, considerada uma das principais cimeiras da região sobre segurança e defesa e onde intervêm, entre outros, a primeira-ministra da Estónia, Kaja Kallas e o ministro da Defesa da Alemanha, Boris Pistorius.
Também a ministra da Defesa Nacional de Portugal, Helena Carreiras, está em Singapura a participar na cimeira, segundo anunciou o seu gabinete.
Questionado pela Lusa, depois da sessão, se Timor-Leste poderia vir a ter algum papel mediador nesse conflito em Myanmar, Ramos-Horta disse que, para já, o primeiro objetivo é consolidar o próprio país e responder ao roteiro de adesão à ASEAN.
“A nossa atenção vai estar focada na implementação do roteiro que, em si, reforça também as instituições timorenses”, disse, referindo-se ao documento com os aspetos que Timor-Leste tem que cumprir antes da adesão, aprovado na recente cimeira da organização em Labuan Bajo, na Indonésia.
“O mais importante é juntar a nossa voz à da ASEAN para questões de paz e segurança no Indo-Pacífico, mas ajudando sobretudo a que haja consenso na ASEAN para que rivalidades no Mar do Sul da China não venham a afetar a unidade e o consenso da ASEAN”, sublinhou.
Ramos-Horta, que termina hoje uma curta visita de 24 horas a Singapura — depois de uma visita à Coreia do Sul — deixou vários recados, tanto aos países ricos, a quem pediu mais ajuda externa e o perdão da dívida às nações mais pobres do Sul, defendendo que estes devem apostar mais na melhoria das condições de vida dos seus povos.
Na sessão de hoje, Ramos-Horta recordou que apesar de Timor-Leste ser um país pobre é “investidor nos mercados financeiros internacionais”, através do Fundo Petrolífero, com portfolios em vários países.
“Agora vamos canalizar mais para investir mais em mercados asiáticos. Os títulos do tesouro dos Estados Unidos não pagam muito. Isso não quer dizer que nos vamos afastar do dólar norte-americano, que é a nossa moeda e nos tem servido bem”, considerou.
Questionado sobre as disputas no Mar do Sul da China, Ramos-Horta referiu-se à importância do diálogo e do respeito pelas regras internacionais, dando como exemplo o uso da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (UNCLOS) para o tratado de fronteira permanente com a Austrália no Mar de Timor.
“No início da independência, tínhamos uma disputa com a Austrália sobre as nossas fronteiras marítimas. A Austrália preferia a teoria da bacia continental, mas felizmente o bom senso prevaleceu e as duas partes, com mediação da UNCLOS, chegaram a um acordo, com base numa linha mediana”, afirmou.
“Atuou-se com base na lei internacional. Se não seguíssemos a UNCLOS, as regras internacionais, a lei e o direito internacional, Timor-Leste seria uma vítima e continuaríamos sem fronteira permanente”, considerou.
Ramos-Horta deixa hoje Singapura, regressando a Timor-Leste na manhã de segunda-feira.