O PS na Assembleia Municipal de Lisboa criticou esta terça-feira o “ruidoso silêncio” sobre o projeto de construção de uma mesquita na Mouraria, ao que vice-presidente da câmara disse que “não houve nenhuma decisão” em relação a essa matéria.

“Ter-se-á esquecido do compromisso assumido pela Câmara Municipal de Lisboa, presidida agora por vossa excelência, para a construção de uma nova Mesquita entre a Rua do Benformoso e a Rua da Palma?”, questionou o deputado do PS Pedro Roque, dirigindo-se a Carlos Moedas (PSD).

Na reunião da Assembleia Municipal de Lisboa, para apreciação da informação escrita do presidente da câmara sobre o trabalho do município nos meses de abril e maio, o socialista defendeu que a vinda do Papa Francisco para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) “reforça a importância da multiculturalidade, um dos aspetos mais importantes da cidade de Lisboa”.

Afirmando que o PS está empenhado em contribuir para o sucesso da JMJ, Pedro Roque defendeu que é preciso “não esquecer que existem lisboetas, portugueses, de muitas origens e fés diferentes”.

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O seu ruidoso silêncio na questão da nova mesquita tem de ter um fim, em nome da dignidade e felicidade de uma comunidade a quem o país deve muito e a quem, o senhor, está a falhar”, declarou o deputado do PS, criticando a falta de intervenção de Carlos Moedas sobre este projeto.

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Em resposta, o presidente da câmara frisou que “Lisboa é uma cidade aberta a todas as religiões”, com liberdade religiosa, recusando a ideia de que “uns são diferentes dos outros”.

Em complemento às palavras de Carlos Moedas, o vice-presidente da câmara, Filipe Anacoreta Correia (CDS-PP), disse que o município desenvolveu todos os procedimentos que tinha de fazer sobre o projeto da mesquita na Mouraria e “não houve nenhuma decisão” em relação a essa matéria.

Assegurando que a câmara está a acompanhar o crescimento da comunidade islâmica e muçulmana em Lisboa, Filipe Anacoreta Correia adiantou que o local pensado para a nova mesquita “não é pacífico entre a própria comunidade”. O líder do grupo municipal do PSD, Luís Newton, lamentou a intervenção do PS pela relação da JMJ com nova mesquita de Lisboa. Considerada o maior acontecimento da Igreja Católica, a JMJ vai realizar-se este ano em Lisboa, entre 1 e 6 de agosto, sendo esperadas cerca de 1,5 milhões de pessoas.

Na sessão, o deputado Bruno Mascarenhas, do partido Chega, criticou a posição da Câmara de Lisboa de defesa do multiculturalismo, a propósito do apoio ao Festival Internacional de Cultura.

“Já são demasiadas as intervenções deste executivo a defender, claramente, este conceito nas políticas estratégicas que tem difundido. A vossa posição de acolhimento sem reservas e defesa das portas abertas deve preocupar os lisboetas e terá a nossa firme oposição. O multiculturalismo — para que fique claro, porque há aqui vários conceitos, mas nós temos perfeitamente definido o que é o multiculturalismo — põe em causa a nossa segurança, a nossa história e os nossos costumes”, declarou o deputado do Chega.

Bruno Mascarenhas disse ainda que o multiculturalismo “é, por definição, contrário à política de assimilação e integração” que o Chega defende.

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“Estamos em risco, porque a forma de vida ocidental e os nossos valores são pela tolerância e, mais uma vez, volto aqui a dizer que a imigração de teor muçulmano não admite a aculturação e pretende antes impor a sua doutrina e religião”, apontou.

Perante esta intervenção, o presidente da câmara manifestou o seu “repúdio total” sobre a posição do deputado do Chega sobre o multiculturalismo, referindo que este é um ponto que lhe toca pessoalmente, por ter uma família multicultural.

“Portugal sempre foi grande quando foi multicultural e é muito importante que isso esteja na memória de todos”, reforçou Carlos Moedas, aconselhando Bruno Mascarenhas a visitar, viajar, aprender e ler sobre o assunto, porque a posição que manifestou “é muito triste”.